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Exclusivo: Johan Rockström organizará pavilhão científico da COP30 ao lado de Carlos Nobre

Pesquisador sueco, que será uma das atrações do Encontro Futuro Vivo no próximo dia 26, revelou detalhes do convite em entrevista exclusiva para a Exame

Johan Rockström: "O Brasil é um país que realmente entende e articula que sustentabilidade ou meio ambiente é sobre desenvolvimento." (Jadranko Marjanovic/Divulgação)

Johan Rockström: "O Brasil é um país que realmente entende e articula que sustentabilidade ou meio ambiente é sobre desenvolvimento." (Jadranko Marjanovic/Divulgação)

Lia Rizzo
Lia Rizzo

Editora ESG

Publicado em 8 de agosto de 2025 às 07h00.

Última atualização em 8 de agosto de 2025 às 10h55.

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Em 2010, Johan Rockström subiu ao palco do TED Talks para fazer um dos alertas mais contundentes da ciência contemporânea. "Somos a primeira geração, graças à ciência, a ser informada de que podemos estar sabotando a estabilidade e a capacidade do planeta Terra para manter o desenvolvimento humano como conhecemos", declarou ao mundo na época.

As constatações já eram baseadas no estudo do conceito de limites planetários, a que o pesquisador sueco se dedica desde os anos 2000, e que em 2024 renderam a ele o prestigioso Tyler Prize, considerado o Nobel do meio ambiente.

Quinze anos depois da apresentação, o que soava como um alerta distante se converteu na realidade incontornável que define nosso tempo. Hoje, como todos nós, o cientista vivencia a evolução mais amarga da descoberta que o consagrou como uma das principais autoridades mundiais em clima e meio ambiente: seis dos nove limites que mantêm a Terra habitável já foram ultrapassados.

Atualmente diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático, na Alemanha, professor da Universidade de Estocolmo e cientista-chefe da Conservation International, Rockström estará no Brasil no próximo dia 26 de agosto.

Como um dos convidados de honra do Encontro Futuro Vivo, realizado pela Vivo em São Paulo, deve apresentar suas descobertas mais atuais, além de participar de um debate com o climatologista brasileiro Carlos Nobre.

Foi Nobre, aliás, quem ao lado de André Corrêa do Lago e Ana Toni, respectivamente presidente e CEO da COP30, fez o convite que o sueco adiantou para EXAME, nesta entrevista exclusiva:

"Tenho orgulho em dizer que estarei na COP30. Fui convidado formalmente para, junto ao Professor Carlos Nobre, organizar um pavilhão científico na COP30. Levaremos a ciência ainda mais perto das negociações."

A urgência exponencial

Quando Rockström fala sobre o momento atual da humanidade, suas palavras condensam décadas de pesquisas que não permitem eufemismos. Os números que sustentam sua urgência são tão precisos quanto assustadores.

"Estamos além da mudança incremental que precisamos. Precisamos de rapidez e escala, o que chamamos de mudança transformativa", afirma. "Significa atuar definitivamente mais rápido que no passado, dobrando os resultados positivos em uma geração".

De acordo com o sueco, "o orçamento global de carbono restante, de dióxido de carbono que podemos emitir da queima de combustíveis fósseis tendo chances de permanecer dentro da fronteira climática segura está reduzido a menos de 130 bilhões de toneladas". Considerando índices atuais, este montante equivaleria a três anos de emissões.

O Brasil que Rockström enxerga

A visita do cientista ao Brasil coincide com um momento delicado da política ambiental brasileira. As discussões sobre exploração de petróleo na margem equatorial e o projeto de flexibilização da legislação ambiental ecoam até os círculos acadêmicos internacionais, e o pesquisador não esconde sua apreensão.

"Fico muito preocupado quando ouço o Presidente Lula sugerindo potencialmente dar novos direitos para explorar petróleo na bacia amazônica", admite.

Contudo, Rockström prefere destacar as características únicas que enxerga na liderança brasileira. "O Brasil é um país que realmente entende e articula que sustentabilidade ou meio ambiente é sobre desenvolvimento, não somente sobre conservação ou proteção. É fundamentalmente parte da economia", pondera.

Para ele, o país possui três diferenciais no cenário global. Primeiro, esta compreensão de que ambiente e desenvolvimento andam juntos. Depois, o reconhecimento do papel fundamental das comunidades indígenas na agenda sustentável. E, por fim, o entendimento da interconexão entre clima e natureza.

"Há a consciência de que se você quer garantir fornecimento de água potável para São Paulo, você precisa de clima estável, da Amazônia estável porque ela fornece os rios atmosféricos que te dão a chuva", exemplifica.

O isolacionismo americano e seus ecos

Se há otimismo cauteloso em relação ao Brasil, o mesmo não se pode dizer sobre os Estados Unidos sob a administração Trump. Em sua visão, a saída americana do Acordo de Paris e os cortes no financiamento de pesquisas representam mais que retrocessos políticos - são atualmente obstáculos concretos ao trabalho científico global.

"A cooperação está ficando mais forte, mas estamos sentindo os impactos negativos. Absolutamente", relata Rockström, que testemunha em primeira pessoa as consequências das políticas americanas.

"Estamos vendo coleta de dados sendo reduzida. E isso está acontecendo dentro da NOOA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica), da NASA, da comunidade de ciência climática em geral", completa.

Quando questionado se a iniciativa privada pode preencher essas lacunas, a resposta é categórica: "Não, não podem. O apoio do setor público é imensamente superior à filantropia privada ou financiamento privado. Não há como substituir a importância da administração americana"

Para além dos aspectos técnicos, a preocupação do cientista sueco está sobretudo no que definiu como erosão da cooperação global. "A única chance para nós retornarmos a um espaço operacional seguro em um planeta seguro e estável é que todos os países colaborem", insiste.

"Você não pode ter um punhado de países fazendo a coisa certa quando você tem um monte de países fazendo a coisa errada porque há apenas um planeta."

Entre a ciência e a esperança

Ao longo da conversa que percorreu territórios não tão agradáveis da ciência climática, Johan Rockström revela uma característica aparentemente contraditória: a capacidade de enxergar luz.

"Com toda honestidade, não podemos excluir um futuro muito sombrio", reconhece. "No entanto, de uma perspectiva puramente científica, a janela ainda está aberta, o planeta ainda é tão perdoador e tão resiliente que ainda podemos evitar futuros incontroláveis", explica.

O elemento decisivo, acredita, não reside nas limitações técnicas, mas nas decisões humanas: "falhar não é inevitável, falhar é nossa escolha", atesta.

Ao enumerar soluções, insiste na eliminação gradual de combustíveis fósseis e na produção de alimentos dentro de sistemas agrícolas que voltem para o espaço seguro, entre outras alternativas.

Mais que inventário técnico, o cientista vislumbra na sustentabilidade uma promessa civilizatória.

"Um futuro sustentável é mais saudável, é mais seguro, dá mais empregos, te torna mais independente, é mais democrático e cria um futuro mais seguro", reflete.

É, de certo modo, essa dualidade que o define: o rigor científico que não permite ilusões, convivendo com a convicção de que os mesmos dados que revelam a crise também apontam as saídas.

Não em um otimismo forçado, mas com método acadêmico aplicado à esperança. Para quem passou a carreira traduzindo alertas planetários em linguagem humana, a própria ciência que diagnostica o problema oferece o roteiro da solução.

"É um momento bastante emocionante se pudermos começar a virar a página", conclui, "porque há um futuro mais brilhante nos esperando."

A entrevista completa está na próxima edição de EXAME.

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