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ESG Summit em Belém: em ano de COP30, falar de mudanças climáticas é também abordar saúde

Com participação de Gustavo Meirelles, vice-presidente médico da Afya, Lívia Martins, diretora do Instituto Evandro Chagas, e outros nomes da medicina, EXAME discutiu a relação entre mudanças climáticas e o bem-estar

Profissionais com atuação na região Norte contaram a sua experiência na relação entre mudanças do clima e a saúde

Profissionais com atuação na região Norte contaram a sua experiência na relação entre mudanças do clima e a saúde

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 11 de junho de 2025 às 15h05.

Última atualização em 11 de junho de 2025 às 16h07.

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*Por Alice Martins Morais, jornalista da Amazônia

Por um lado, uma emergência climática marcada por eventos extremos e recordes de temperatura pelo planeta. Por outro lado, doenças transmitidas por mosquitos em lugares onde não costumava ter ocorrências e um número crescente de pessoas com ansiedade, especialmente jovens. Nada disso é por acaso. Saúde e clima são temas intrinsecamente relacionados, como explicaram especialistas durante evento ESG Summit, realizado nesta terça-feira, 10. O evento foi realizado em parceria com a Afya.

Esta foi a primeira vez em que o evento foi realizado em Belém (PA), cidade que será sede da Conferência global da ONU sobre mudanças climáticas, a COP30, no próximo mês de novembro. “Foram três painéis ao longo da manhã, para mostrar como as mudanças climáticas afetam diretamente a população e como os sistemas ambientais, sociais e de governança são tão interligados", resumiu Renata Faber, diretora de ESG da EXAME. Segundo ela, o evento pode ser um pontapé para que diferentes partes interessadas que estiveram presentes possam firmar alianças entre si e levar o debate adiante.

Na lista de palestrantes estava Lívia Carício Martins, diretora do Instituto Evandro Chagas (IEC). O órgão, vinculado à Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, há 90 anos é lar de pesquisas sobre como as alterações ambientais – e, agora, as mudanças climáticas – vêm afetando as doenças causadas por vírus transmitidos, principalmente, por mosquitos, as chamadas arboviroses.

De acordo com Lívia, com o aumento da temperatura do planeta, mais mosquitos se proliferam e se dispersam. “Com o aquecimento global, vemos que áreas que antes não tinham incidência desses vetores hoje vivem esse problema”. Junto a esse fator, somam-se as alterações ambientais: queimadas, desmatamento e mudanças na paisagem que fazem com que esses insetos percam seus habitats e estejam mais próximos de comunidades que antes tinham o perfil mais rural. Em municípios amazônicos como Mocajuba, no Pará, os casos de dengue cresceram 9 vezes, saltando de 10 em 2023 a 90 em 2024, segundo o Infodengue.

O relatório The Lancet Countdown (2024) mostra que esse é um problema global, já que o aquecimento da Terra traz a possibilidade da doença aumentar em até 37% seu potencial de transmissão no mundo inteiro. Observando os dados preocupantes, Lívia acredita que este é um momento em que a saúde precisa ser analisada sob um olhar mais amplo, o do conceito de Saúde Única, que reconhece a interconexão entre a saúde humana, animal, vegetal e ambiental. “Temos que entender que para que a nossa população tenha saúde, temos que ter realmente um planeta saudável”.

Por fim, ela recorda que, desde a Rio-92, também conhecida como Cúpula da Terra ou Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, o IEC viu a necessidade de ter uma área específica para estudar o Meio Ambiente. A COP30 pode representar uma nova virada de chave na instituição: o de dar mais ênfase à abordagem interdisciplinar de mudanças climáticas e saúde.

A medicina com um novo olhar para o clima

O ESG Summit em Belém contou com a presença de profissionais que atuam na região Norte e compartilharam suas experiências em primeira mão, como Fagner Carvalho, médico infectologista que coordena o serviço especializado em Doença de Chagas no município de Abaetetuba, no Pará. Ele mesmo é ribeirinho e atende também essas comunidades. “Quando a gente fala de saúde, não é só um bem-estar físico. Temos que atentar para o bem-estar social, a qualidade de vida das pessoas, diante dos novos desafios das mudanças climáticas", ressaltou.

Atuando nos rios e estradas do interior paraense, a algumas horas de distância da sede da COP30, Fagner acompanha diariamente as dificuldades que as comunidades enfrentam, seja nas cheias ou nas secas, ambas as estações cada vez mais extremas. "Precisamos não só nos preocuparmos com os sintomas dos pacientes, mas explicar para eles sobre como o desmatamento pode afetar suas saúdes e conscientizar sobre doenças regionais, como doença de chagas", descreve.

Gustavo Meirelles é vice-presidente médico da Afya e defende que a interrelação entre clima e saúde precisa fazer parte do ensino universitário. “Nós temos trabalhado bastante para levar saúde e educação, não apenas para a população, mas também para aqueles que cuidam da saúde das pessoas, médicos, professores e estudantes de medicina", declarou. Um dos projetos apresentados pela Afya foi o “Rios da Saúde”, que leva atendimentos gratuitos de saúde para as populações ribeirinhas.

Planeta pode “ficar com febre”, e mulheres sofrem mais

"Assim como um grau e meio faz diferença no nosso corpo, o planeta também sente", alertou Daniel Nardin, um dos mediadores de painéis. Ele é fundador e diretor executivo do Amazônia Vox, parceira de mídia do evento, e fez uma analogia entre o ser humano e a Terra, exemplificando como cada grau faz uma grande diferença na saúde de ambos.

E, se a “febre” do aquecimento global está ficando mais grave, para alguns grupos é ainda pior, como as meninas e mulheres. Estudos das Nações Unidas mostram como elas são afetadas injustamente, porque constituem a maioria das pessoas pobres do mundo e dependem fortemente dos recursos naturais locais para sua subsistência. “Além disso, mulheres sofrem mais com o calor quando estão grávidas ou na menopausa, por exemplo, sentindo os efeitos na pele de forma desigual", complementa Eduarda Batista, articuladora ambiental na Rede Jandyras, um coletivo voltado ao fortalecimento e ampliação da participação de mulheres no debate político.

Tecnologias para mitigar impactos

Para além de discutir as ameaças e efeitos sentidos no clima e na saúde, o ESG Summit apresentou projetos que usam a tecnologia como ferramenta para contornar os desafios de logística e das dimensões da região. É o caso do projeto Harmonize Brasil, em que cientistas, técnicos e agentes de saúde estão unindo imagens de drone, mapeamento em campo e conhecimento tradicional para entender o cenário local e tomar medidas de prevenção, não só para a dengue, como também para outros problemas.

O projeto atua na região do Baixo Tocantins, no Pará, há três anos, com uma equipe composta por profissionais da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) Barcelona Supercomputing e Secretaria Estadual de Saúde do Pará (SESPA), com o apoio de órgãos locais de saúde e meio ambiente. “É importante preparar as comunidades para que sejam protagonistas das soluções. Por isso, é preciso criar tecnologias mais acessíveis para serem apropriadas pelas pessoas", conclui Fabricio Aleixo Dias, pesquisador do Harmonize.

Também participaram do evento Rodrigo Cunha, fundador e CEO da Profile e organizador do Tedx Amazônia, que mediou a primeira mesa; Luciana Sardinha, diretora Adjunta de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) da Vital Estrategies; e Felipe Dias, coordenador do Observatório da Saúde e Meio Ambiente do Sertão Produtivo.

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