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Hidrogênio verde: energia excedente pode ser convertida em combustível limpo e eficiente.
Publicado em 12 de novembro de 2025 às 14h00.
Última atualização em 12 de novembro de 2025 às 14h01.
O Brasil vive um paradoxo energético. Somos uma das maiores potências em fontes renováveis do mundo, mas ainda deixamos escapar parte desse potencial. No Nordeste, por exemplo, é comum que a produção de energia solar e eólica alcance picos de geração, mas a rede elétrica não tenha capacidade para escoar toda a energia gerada para outras regiões. Nesses casos, o Operador Nacional do Sistema (ONS) intervém, reduzindo a geração renovável. Essa medida, conhecida como curtailment, é necessária para manter a estabilidade do sistema elétrico, mas resulta em turbinas paradas, painéis desconectados e energia limpa desperdiçada.
É nesse contexto que o hidrogênio verde surge como uma possível solução estratégica. A eletrólise da água, processo que separa hidrogênio e oxigênio usando eletricidade, pode viabilizar o aproveitamento desta energia limpa que seria desperdiçada.
Um estudo recente analisou dados de vertimento eólico do ONS entre setembro de 2023 e agosto de 2024, período de alta incidência de curtailment devido a restrições na rede elétrica. O estudo avaliou a operação de uma planta de hidrogênio verde com armazenamento e integrada ao Sistema Interligado Nacional, utilizando exclusivamente essa energia excedente. Projeções indicam que a planta seria capaz de produzir de forma consistente pelo menos 1.440 kg de hidrogênio por hora. A figura abaixo apresenta a operação horária ininterrupta da planta ao longo do período analisado.

Esses resultados reforçam o papel do armazenamento e o potencial da tecnologia para reduzir perdas e gerar ganhos ambientais e econômicos. A critério de exemplificação, esta produção é suficiente para abastecer cerca de 921 ônibus por dia, o equivalente a 7,6% da frota de São Paulo.
Além da estabilidade demonstrada nas projeções, a grande vantagem do hidrogênio verde está em sua versatilidade: pode abastecer frotas de ônibus, reduzir emissões na indústria do aço e de fertilizantes, fomentar novas cadeias produtivas ligadas à energia limpa e, futuramente, chegar ao uso doméstico. Trata-se de uma oportunidade concreta de transformar energia não aproveitada em desenvolvimento econômico e social.
Para concretizar esse potencial, planejamento é essencial. É preciso mapear as regiões com maior incidência de curtailment, avaliar a infraestrutura de transmissão, dimensionar a capacidade dos eletrolisadores e definir usos estratégicos para o hidrogênio produzido. Ferramentas computacionais, como o SDDP utilizado no estudo, permitem estimar o potencial de produção, testar cenários e indicar onde integrar a planta de hidrogênio verde com segurança e eficiência.
O hidrogênio verde é uma potencial rota para ampliar a flexibilidade do sistema elétrico brasileiro. Ele converte perdas em valor, fortalece a integração de renováveis e posiciona o país como protagonista global em energia limpa e soluções de armazenamento de longo prazo.