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André Corrêa do Lago, presidente da COP30: "O pacote vai começar a ser negociado e vamos antecipar os resultados ao máximo" (Eduardo Frazão)
Repórter de ESG
Publicado em 17 de novembro de 2025 às 16h31.
Última atualização em 17 de novembro de 2025 às 18h29.
Belém - O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, disse nesta segunda-feira, 17, que o Brasil entregará até quarta-feira, 19, um primeiro texto com o rascunho sobre os principais temas que ainda não têm consenso na conferência do clima (financiamento, ambição nas NDCs, medidas comerciais unilaterais e transparência).
Segundo Corrêa do Lago, a presidência brasileira foi convocada a apresentar esse rascunho de texto e que trabalha com dois pacotes na agenda de negociação: um com esses quatro temas que travaram as últimas conferências e um segundo, sobre os tópicos prioritários desta COP (adaptação e transição justa).
"O pacote vai começar a ser negociado, tivemos que mudar os horários de trabalho para poder continuar as negociações à noite e vamos antecipar os resultados ao máximo. Recebemos um importante apoio dos líderes", disse Corrêa do Lago.
Já o segundo rascunho de texto está previsto para sair na sexta-feira, 21, último dia oficial da conferência climática, que pode acabar se estendendo a depender dos ânimos.
A manobra da presidência brasileira de discutir à parte os itens que travam as discussões permitiu que os trabalhos começassem sem atraso e a agenda de negociação fosse aprovada em tempo recorde.
No domingo, 16, os organizadores divulgaram um resumo das consultas da presidência sobre os quatro temas, um movimento que facilitou as tratativas, segundo especialistas.
Ana Toni, CEO da COP30, disse que o pedido para apresentar esse primeiro rascunho sobre os temas que travam as negociações é "algo inédito, mas requer muita confiança de todas as partes para que se apresente o resumo".
As declarações mostram que a segunda semana da COP30 em Belém ganhou tração para chegar à sexta-feira, 21, com um possível acordo entre as nações. Nesta reta final, mais de 160 ministros se reúnem na chamada reunião de alto nível visando passar de impasses técnicos para acordos políticos.
O anúncio da presidência da COP veio após uma manhã intensa que incluiu a cerimônia de abertura do segmento ministerial, com participação do vice-presidente Geraldo Alckmin e da presidente da Assembleia Geral da ONU, Philomena Wehrbac, além de uma "inspiradora projeção de fotografias de Sebastião Salgado com música de Chico Moraes, que emocionou muitas pessoas", conforme relatou André Corrêa do Lago.
Paralelamente às negociações nas salas fechadas da Zona Azul, Alckmin anunciou uma série de iniciativas durante a abertura de alto nível dos ministros. Foi lançada a Estratégia Nacional de Descarbonização da Indústria, com consulta pública aberta de 17 de novembro a 17 de janeiro de 2026.
Também anunciou um programa para a economia circular de reciclagem, com 50 toneladas já recicladas e a entrada do alumínio no sistema, em parceria com a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast).
Segundo Alckmin, também foi lançado o programa Coopera+ Amazônia, com R$ 210 milhões em investimentos - R$ 103 milhões do BNDES para o Fundo Clima e R$ 107 milhões do Sebrae. O programa visa promover a bioeconomia e melhorar a renda de mais de 3.500 extrativistas em mais de 50 cooperativas da região.
"Estamos muito felizes em participar da COP", disse Alckmin, relembrando sua participação na COP29 durante a coletiva de imprensa desta segunda-feira. "Quando fui a Baku, o Brasil era o segundo país na apresentação das NDCs."
O vice-presidente atualizou o número de países que apresentaram suas metas climáticas, para 118 - 78% dos países maiores emissores do mundo "É um avanço importante", disse.
Ele também destacou a importância do Fundo de Florestas Tropicais (TFFF), que já aportou mais de 5, 5 bilhões de dólares. "Estamos na maior floresta do mundo e buscamos a preservação", afirmou.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ponderou sobre a intensidade do momento e disse que apenas uma semana já "contam muitos dias". "As COPs não são lineares", afirmou.
"Entramos numa fase de operação dos vários temas que estão postos à mesa. Os que ainda estão em fase de tratamento e a busca por viabilizarmos os melhores resultados nas diferentes agendas", disse Marina.
O sucesso da COP30 depende agora da capacidade da presidência brasileira de construir pontes entre posições divergentes nos próximos cinco dias decisivos.Para acelerar as negociações, a presidência brasileira mobilizou pares de ministros de diferentes países para coordenar temas específicos. "Os ministros desses países estão trabalhando ombro a ombro para nos ajudar a avançar nesse sistema o mais rápido possível", explicou Ana Toni.
Os pares ministeriais são: Alemanha e Groenlândia (adaptação); Reino Unido e Quênia (finanças); Egito e Espanha (mitigação); Polônia e México (transição justa); Austrália e Índia (tecnologia); Suécia e Chile (gênero); e Noruega e Azerbaijão (Balanço Geral do Acordo de Paris - GST).
O diplomata Maurício Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty escalado para comandar as tratativas multilaterais em nome do Brasil, destacou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez referência ao GST na abertura da COP30, "apontando uma direção futura para o engajamento na elaboração do mapa do caminho" para se afastar do tema espinhoso dos combustíveis fósseis.
1. Financiamento climático: Uma proposta de seguir discutindo como países em desenvolvimento financiam os em desenvolvimento para lidarem com os efeitos mais severos da crise do clima. A proposta segue na esteira do descontentamento com o resultado da COP29, realizada em Baku, no Azerbaijão, quando o acordo fechou em 300 bilhões de dólares. A meta é chegar a 1.3 trilhão anuais.
2. Ambição nas NDCs: Como aumentar a ambição nos planos nacionais de descarbonização. O Brasil foi o segundo país a apresentar sua meta climática de reduzir 67% as emissões até 2035.
3. Medidas comerciais unilaterais: Decidir se e como tratar no âmbito das COPs medidas comerciais unilaterais justificadas por questões climáticas, como sobretaxas a produtos que emitem mais carbono.
4. Mecanismo de transparência: Implementação de um mecanismo de transparência previsto no Acordo de Paris.