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Como a Porto transformou carros batidos em um negócio lucrativo e sustentável

Enquanto apenas 1,5% dos carros de perda total têm destinação adequada no Brasil, a Renova Ecopeças já desmontou 30 mil veículos em 12 anos

Companhia investe R$ 6 milhões para expandir operação física e deve desmontar 3 mil carros ainda em 2025

Companhia investe R$ 6 milhões para expandir operação física e deve desmontar 3 mil carros ainda em 2025

Letícia Ozório
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 21 de outubro de 2025 às 05h54.

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Quando um carro bate e a seguradora decreta perda total, o que acontece com aquele veículo? No Brasil, a resposta costuma ser desanimadora: apenas 1,5% dos automóveis fora de circulação recebem destinação adequada, segundo dados do Sindicato das Empresas de Sucata de Ferro e Aço. O restante acaba em pátios de salvados, ferros-velhos informais ou até mesmo em aterros, desperdiçando toneladas de materiais que poderiam voltar à economia. Em países como Estados Unidos e Japão, o cenário é completamente diferente: entre 80% e 95% desses veículos são reciclados.

É nesse abismo que a Renova Ecopeças opera há 12 anos. Pioneira no mercado brasileiro de reciclagem automotiva, a empresa do Grupo Porto nasceu com uma missão clara: transformar o problema dos veículos de perda total em solução sustentável — e lucrativa. Hoje, com mais de 30 mil veículos desmontados, 37 mil toneladas de aço reaproveitadas e mais de 1 milhão de peças comercializadas, a Renova já é a maior operação do tipo na América Latina e garante lucro há cinco anos.

Daniel Morroni, diretor-executivo da Porto Serviço, braço focado em automóveis e residências da seguradora e que abriga a Renova, conta que ao fazer a separação das peças do carro com foco no reaproveitamento dos materiais, é possível destinar de forma sustentável até 95% de todos os componentes. Ele conversou com a EXAME e contou mais do processo da batida até a revenda.

"Desmontamos o carro e separamos as peças que podem ser revendidas, o que totaliza 85% do automóvel. Outros 10% de materiais que não podem ser revendidos são transformados em resíduos para a cadeia da reciclagem e convertidos em nova matéria-prima”, conta. O restante, de 5%, é descartado de forma sustentável já que não apresenta fim nem utilidade na economia.

Criada há 12 anos, Renova Ecopeças realiza a revenda das peças de carros de grande monta da Porto

Reciclagem de veículos

A janela de oportunidade não é apenas ambiental, também econômica. As peças recuperadas e tratadas contam com descontos de até 60% na comparação com as peças novas, que costumam custam caro para clientes finais e oficinas de reparo. Morroni explica que a definição do preço é uma linha muito tênue: se erra para cima, a peça fica parada no estoque, já que o preço se assemelha às peças genéricas. O valor é ainda, segundo o diretor-executivo, o principal fator para convencer o consumidor a comprar um produto usado. Ao mesmo tempo, se o erro no preço é para baixo, o negócio deixa de ser rentável. A solução para isso é a tecnologia: A companhia conta com um sistema robusto que cruza preços de peças novas, genéricas e usadas no mercado para chegar ao valor ideal. “A precificação é o divisor entre sucesso e fracasso”, assegura.

O lado ambiental também pesa — e muito — na tomada de decisão sobre a Renova. Toneladas de materiais valiosos, como aço, alumínio, plástico, borracha e vidro, são desperdiçadas com carros que deixam de ser reciclados após a perda total. A companhia atua justamente para atacar todas essas frentes simultaneamente, como afirma a gerente de sustentabilidade e diversidade, equidade e inclusão da Porto, Viviane Pereira. A ideia é conectar as possibilidades na economia circular e o controle das mudanças climáticas, temas que conversam entre si na estratégia da seguradora. "Quando criamos a Renova, sabíamos da importância de dar vida nova para resíduos. Isso não impacta só a Porto, mas também a pegada de carbono da cadeia inteira de produção de veículos", informa.

Estoque da Renova em São Paulo, onde os carros passam pela limpeza e separação das peças para revenda

Pereira aponta que itens como para-choques, cintos e airbags não podem ser comercializados, seguindo determinação da Lei do Desmonte, regulamentação do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) que estabelece padrões de desmontagem — e que foi criada próximo ao nascimento da Renova. As demais peças em bom estado são tratadas e revendidas. "Quem segue as regras, recebe uma certificação sobre os materiais. Toda peça conta com um selo de rastreabilidade via QR code que mostra de onde veio o material e de qual carro", conta a gerente.

A principal meta da Renova é dobrar a reciclagem de carros até 2030, impacto para toda a metrificação de carbono da Porto. Viviane menciona que ao ampliar a vida útil das peças, a companhia mede as emissões evitadas pelo novo material que deixou de ser fabricado. Ao mesmo tempo, a metodologia do cálculo usa como referência o tempo de utilização que o produto ganhou a partir da reciclagem. “Se o motor tem vida útil de 30 anos e o carro sinistrado tem 10 anos, ele ainda pode ser utilizado por 20 anos. Isso melhora a pegada de carbono do cliente que reutiliza, mas na sustentabilidade da Porto há corresponsabilidade sobre os 20 anos restantes de uso do motor”, afirma.

Da batida à revenda: como funciona?

O processo começa quando um veículo segurado sofre perda total — seja por batida grave, seja porque o custo de reparo ultrapassa um percentual específico do valor do bem. A partir desse momento, o automóvel passa a ser responsabilidade da seguradora. "Mesmo carros de perda total têm uma parte intacta. Se tem uma colisão frontal, podemos desmontar a parte traseira, portas e peças", explica Morroni.

A primeira etapa é a seleção. A Porto Serviços analisa os veículos batidos com grande monta da Porto, seleciona os de maior procura no mercado e compra para a Renova. Em seguida vêm os testes. "A partir do momento em que o carro chega, passamos para a testagem de motor e câmbio. Colocamos em um rolo que simula partida e rodagem do veículo e marcamos quais peças estão em bom estado, quais estão avariadas e quais não fazem sentido comercializar”, detalha.

Daniel Morroni, diretor-executivo da Porto Serviço: "Desmontamos o carro e separamos as peças que podem ser revendidas, o que totaliza 85% do automóvel"

A descontaminação das peças é o próximo passo, momento em que a companhia retira os gases, fluidos, óleos e líquidos, deixando o carro "seco". Esses materiais também podem ser comercializados, como a sobra do combustível, o óleo usado e o gás do ar-condicionado. A quarta etapa é a desmontagem propriamente dita. "Tiramos o carro componente por componente. A porta, por exemplo, pegamos inteira, com acabamento, fechadura e máquina de vidro, o que ajuda na eficiência. Assim, quando o cliente compra a porta, já conta com todos os acessórios dela."

Os itens que estão danificados ou que não tem venda passam por um processo de reciclagem com empresas parceiras. “Utilizamos máquinas gigantescas que trituram as partes não aproveitáveis e já separam o plástico, o vidro e o aço para reintroduzir no início da cadeia”, detalha Viviane. Esses materiais são posteriormente vendidos por peso para recicladoras e indústrias.

Depois vem a lavagem das peças comercializáveis, seguida de fotografia e cadastro para a venda no site. Por fim, estoque, venda, embalagem e expedição. A operação atende desde veículos de passeio até motos, vans e pick-ups médias.

Expansão da Renova

A operação atual está no limite, de acordo com o diretor-executivo, o que exigiu novos investimentos com foco na expansão da operação. “Planejamos a expansão com base no objetivo de triplicar a quantidade de veículos reciclados até 2030", conta Viviane. Um dos principais motivos foi o crescimento das vendas, com evolução do website e vendas por WhatsApp que começaram no ano passado, explica Morroni. "Crescemos na desmontagem e fazemos envios para todo o Brasil a partir do mesmo centro em São Paulo. Isso nos obrigou a partir para um novo espaço."

A ampliação é significativa, dobrando o tamanho da operação. Com a nova área, a companhia consegue chegar a quase 8 mil carros de desmontagem ao ano, sendo a meta para 2025 de 3 mil carros. “Estamos preparados para crescimento ano a ano sustentável e nos preparar para os próximos quatro anos", projeta o diretor. As novas instalações, atualmente em reforma, devem receber mais clientes, quase dobrando o estoque de 25 mil para 45 mil peças, e dar mais oportunidade de o cliente encontrar a peça que necessita a partir da maior variedade de carros.

Estoque da Renova Ecopeças, empresa da seguradora Porto focada em reciclagem veicular

Morroni dá mais detalhes do desafio que a companhia enfrenta. "Garantir a variedade é complexo em nosso negócio porque a cada ano que passa, temos quase 40 lançamentos de novos modelos, e precisamos atender os novos clientes”, declara. A ampliação começa a operar a partir de 1º de janeiro de 2026.

O investimento na expansão é robusto. "Estamos bastante satisfeitos com este ano. Batemos recorde de desmontagem e conquistamos aprovação para dobrar o tamanho com investimento considerável de mais de R$ 6 milhões", celebra Morroni.

Viviane conta que é curioso olhar para trás e ver a mudança desde que a Renova foi lançado entre a estratégia de negócios e meio ambiente da Porto. Dobrar a reciclagem de veículos até 2030 é uma das três metas ESG principais da seguradora, somada a manter a taxa de 100% de energia renovável nas operações (número atingido no ano passado) e reduzir em 40% as emissões dos escopos 1 e 2. “Se ela não tivesse sido criada, hoje teríamos muito mais dificuldade em oferecer soluções como as que apresentamos no mercado. Essa agenda de sustentabilidade é, para nós, uma proposta de inovação pensada no longo prazo”, complementa.

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