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O projeto é um dos indicados ao Earthshot Prize, premiação ambiental organizada pelo príncipe William (Matheus Melo/Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 12 de agosto de 2025 às 06h00.
Ao sul do Pará, aldeias da etnia indígena Kayapó lutam há décadas contra a devastação da floresta em uma das regiões críticas para o desmatamento da Amazônia. Agora, um projeto busca levar conectividade para a comunidade, ajudando a fortalecer sua cultura e dando mais proteção à floresta.
Desde o ano passado, a Comerc Energia, distribuidora de energias renováveis da Vibra, gerencia o Conexão Kayapó, iniciativa que leva energia solar e baterias para locais de difícil acesso. Entre os locais beneficiados estão moradias, escolas, postos de saúde e bases de vigilância a partir de 35 sistemas que fornecem energia durante todo o dia. Ao todo, o impacto positivo chega a mais de 1,5 mil pessoas entre 18 aldeias e 7 bases de monitoramento ambiental.
A fase-piloto do projeto, desenvolvida por meio de uma joint-venture com a Micropower, buscou entender as necessidades da comunidade, como explica o fundador da Comerc, Cristopher Vlavianos. “Estávamos aprendendo a como ajudar a melhorar a qualidade de vida e segurança do território ali. Não podemos chegar em uma nova região achando que sabemos tudo o que aquela população precisa”, explica.
Logo entenderam que a falta de eletricidade atrapalhava uma das principais fontes de renda da comunidade Kayapó: o artesanato. As mulheres do grupo indígena, principais responsáveis pela produção, costumavam trabalhar após o pôr-do-sol iluminadas pela luz de velas. Além da falta de iluminação suficiente, o uso das chamas era um risco para a queima da floresta, especialmente em épocas mais secas do ano. Com o projeto, as aldeias passaram a contar com luz elétrica, o que possibilitou o trabalho das artesãs em novos horários.
Clarissa Sadock, CEO da Comerc Energia, conta que o principal benefício da nova fonte energética foi o tempo. “Antes, para iluminar a casa era preciso deixar de fazer outras tarefas e investir o seu tempo para cortar a lenha. Agora, a quantidade de horas disponíveis mudou”, explica.
A fase-piloto contou com um investimento de R$ 2 milhões. Os resultados foram impressionantes, como explica Vlavianos. “É um valor pequeno se pensarmos que estamos levando impacto positivo para uma grande parcela dos indígenas do país”, conta. Para ele, as ameaças à floresta também exigem novas formas de defesa e de proteção dos povos indígenas.
Em 2021, as Terras Indígenas Baú e Menkragnoti tiveram uma área total desmatada de 1,5 mil km², próximo ao tamanho da cidade de São Paulo. Com o investimento, as bases de vigilância podem monitorar ininterruptamente. Vlavianos conta que no imaginário coletivo, o desmatamento ainda é provocado por pessoas com machados que cortam árvore por árvore, mas os povos originários hoje percebem que são os caminhões e tratores os instrumentos usados na derrubada da Amazônia. “Muitas vezes, as populações ficam sem opções para escapar dessa situação. A energia e o acesso à internet podem dar essa realidade”, explica.
“Antes, isolados da internet, não era possível realizar uma consulta simples, já que os centros médicos costumam ficar nos grandes centros. Agora ajudamos a garantir a saúde da floresta e de quem vive nela”, explica.
A expectativa é que o projeto receba uma quantia superior a R$ 14 milhões para abastecer energeticamente todas as aldeias Kayapó atendidas pelo Instituto Kabu, organização de atendimento social a grupos indígenas e uma das parceiras na iniciativa. Além dela, também apoiam os institutos Aya e A Gente Transforma.
“Uma ação social não pode ser simplesmente doações de dinheiro. Queremos fazer mais do que isso, entendendo o que as comunidades precisam e como transformar nosso conhecimento de negócio em oportunidades de impacto”, explica Vlavianos.
O projeto é um dos indicados ao Earthshot Prize, premiação ambiental organizada pelo príncipe William para potencializar soluções de impacto positivo e larga escala. De acordo com Sadock, a equidade em energia é uma das causas do negócio da Comerc, focada em soluções renováveis e inovação limpa. “Temos uma base de clientes grande, como indústrias e o agronegócio, e o mercado se abre para pequenos clientes”, conta. A executiva explica que a expectativa da companhia é que cada vez mais o varejo integre o mercado livre de energia.
Sobre a aquisição feita pela Vibra, concluída no último ano e avaliada em R$ 3,7 bilhões, passa pelo amadurecimento da companhia após 25 anos de trabalho. “Enquanto a primeira fase focou na gestão de energia do cliente do mercado livre, agora passamos para a geração de energia descentralizada, distribuída, eficiência energética e baterias”, explica.
O objetivo é seguir ampliando o portfólio com soluções limpas. “Vejo a Comerc em uma terceira onda de crescimento, com a Vibra nos apoiando e conferindo robustez aos projetos”, afirma. Hoje, a companhia tem uma base de mais de 20 mil clientes e a adição de 2,1 GW de capacidade instalada nos últimos anos.