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Campus da Universidade Harvard: a instituição enfrenta revogação de certificação para estudantes internacionais após rejeitar demandas federais sobre governança acadêmica e políticas de diversidade. (PGiam/Getty Images)
Editora ESG
Publicado em 23 de maio de 2025 às 10h33.
Última atualização em 23 de maio de 2025 às 10h39.
"Sem seus estudantes internacionais, Harvard não é Harvard". Esta é a frase de abertura da nota divulgada nesta manhã pela Universidade de Harvard, em um novo capítulo da disputa com o governo Trump por autonomia acadêmica contra políticas de diversidade e inclusão, que avançaram contra o ingresso de estudantes estrangeiros.
Nesta manhã, a universidade se posicionou formalmente através de processo judicial. E também publicou a nota em seus perfis nas redes sociais, como já havia feito em abril durante o congelamento de fundos federais.
A escalada da tensão se deu nesta quinta-feira, 22, quando o Departamento de Segurança Interna revogou ontem a certificação de Harvard no Student and Exchange Visitor Program (SEVP), removendo a autoridade da universidade para patrocinar vistos F-1 e J-1 para estudantes e acadêmicos internacionais no ano letivo 2025-26.
A medida afeta diretamente cerca de 6.800 estudantes internacionais, que representam 27% do corpo discente da instituição.
Segundo a universidade, a revogação "continua uma série de iniciativas governamentais de retaliação contra Harvard por nossa recusa em render nossa independência acadêmica e nos submeter à afirmação ilegal do governo federal de controle sobre nosso currículo, nosso corpo docente e nosso corpo estudantil."
Em resposta, a Universidade protocolou processo na Justiça Federal do Distrito de Massachusetts, sob o número 25-cv-11472, além de uma moção para ordem de restrição temporária. O presidente da universidade, Alan Garber, classificou a decisão como "ilegal e injustificada".
A revogação da certificação representa o capítulo mais recente de uma disputa que se intensificou desde janeiro de 2025, quando Trump retornou à presidência. O confronto tem múltiplas frentes.
Em abril, o governo congelou US$ 2,2 bilhões (R$ 12,8 bilhões) em fundos destinados à Harvard após a universidade rejeitar demandas federais que incluíam mudanças em governança, práticas de contratação e políticas de admissão.
Os subsídios federais representam aproximadamente 11% das receitas da universidade, sobre um orçamento anual de US$ 6,4 bilhões.
O Departamento de Educação anunciou investigações em 45 universidades por supostas práticas discriminatórias baseadas em raça, enquanto 60 instituições, incluindo Harvard e Yale, receberam advertências sobre possíveis cortes de financiamento relacionados a denúncias de assédio antissemita.
A Universidade Columbia já havia sofrido consequências concretas, com o cancelamento de aproximadamente US$ 400 milhões em subsídios e contratos federais, após servir como epicentro dos protestos relacionados à guerra em Gaza.
A revogação da certificação SEVP resulta em consequências operacionais imediatas para Harvard.
A impossibilidade de aceitar novos alunos estrangeiros para o próximo período letivo afeta 7 mil portadores de visto entre estudantes e acadêmicos, que devem transferir-se ou perder status legal nos EUA.
O bloqueio compromete dezenas de programas acadêmicos e pesquisas dependentes da presença internacional, além da perda de investimentos específicos de milhões de dólares em programas para atração de talentos globais.
Segundo o processo judicial, Harvard mantém certificação federal para matrícula de estrangeiros há mais de 70 anos, desenvolvendo programas específicos para esse público.
A ofensiva do governo Trump contra políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) não se limita ao setor acadêmico. Desde janeiro de 2025, diversas corporações americanas recuaram em compromissos com DEI.
No setor tecnológico, Google, Meta e Amazon reduziram significativamente equipes dedicadas a iniciativas de diversidade, enquanto no setor financeiro, Goldman Sachs e JPMorgan Chase moderaram retórica sobre metas de diversidade.
A administração também sinalizou revisão de contratos federais com empresas que mantêm programas de DEI considerados "discriminatórios".
Em carta à comunidade universitária em abril, Garber defendeu a autonomia da instituição: "Nenhum governo — independentemente de qual partido esteja no poder — deve ditar o que universidades privadas podem ensinar, quem podem admitir e contratar, e quais áreas de estudo e investigação podem seguir."
No posicionamento de hoje, a instituição informa:
Além do processo já protocolado, planeja solicitar medida cautelar para suspender imediatamente os efeitos da revogação, demonstrando urgência na proteção dos direitos de seus estudantes e acadêmicos internacionais.
A disputa judicial poderá redefinir o relacionamento entre instituições de ensino superior e governo federal nos Estados Unidos.
Garber alertou para riscos mais amplos: "O afastamento do governo dessas parcerias agora arrisca não apenas a saúde e o bem-estar de milhões de indivíduos, mas também a segurança econômica e a vitalidade de nossa nação."
Os fundos federais destinam-se a pesquisas em tratamentos para Alzheimer, Parkinson e diabetes, além de avanços em inteligência artificial e ciência quântica. Os recursos também beneficiam hospitais afiliados cujos médicos lecionam na Harvard Medical School.
Paralelamente ao conflito, outras universidades observam atentamente os desdobramentos, avaliando estratégias próprias para lidar com demandas federais sem comprometer autonomia acadêmica.