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Pesquisadores destacam que a crise climática também agrava as desigualdades sociais e o aumento do consumo é mais intenso em populações mais vulneráveis e de baixa renda (Getty Images)
Repórter de ESG
Publicado em 9 de setembro de 2025 às 11h55.
Última atualização em 9 de setembro de 2025 às 12h11.
Você consome mais açúcar quando está quente? Se sua resposta for sim, você não está sozinho. Uma nova pesquisa publicada na revista Nature revelou pela primeira vez um lado desconhecido das mudanças climáticas: a alta nos termômetros pode influenciar nossos hábitos alimentares.
O estudo analisou compras de mais de 64 mil domicílios dos EUA entre 2004 e 2019 e descobriu que o consumo de açúcar adicionado aumenta significativamente: para cada grau Celsius a mais na temperatura, os americanos consomem cerca de 0,70 gramas extras do produto por dia.
Atualmente, os americanos já consomem mais de 70 gramas de açúcar adicionado por dia, muito acima dos 24-36 gramas recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Paradoxalmente, as regiões mais frias do país podem ser as mais afetadas. Enquanto o Sul já convive com temperaturas elevadas, a análise aponta que o Norte experimentará aumentos mais drásticos, levando a mudanças comportamentais mais evidentes na dieta.
A explicação está na busca por alívio em produtos gelados e refrescantes. As bebidas açucaradas como refrigerantes e sucos se tornam as principais responsáveis pelo aumento, seguidas pelas sobremesas congeladas como sorvetes e picolés.
"O clima quente aumenta nossa necessidade de hidratação e nos leva naturalmente a consumir itens refrigerados", explicam os autores. Por outro lado, um achado chama a atenção: produtos de panificação e açúcares refinados têm seu consumo reduzido"
O que sugere uma substituição por essas alternativas mais "refrescantes".
O efeito se intensifica entre 12°C e 30°C e se torna uma questão de saúde pública, alerta a publicação. Isto porque, a ciência projeta altas preocupantes de temperaturas em todo mundo até o fim do século caso não aconteçam ações efetivas e rápidas para mitigar as emissões.
Em um cenário de aquecimento global estimado em 5°C até 2095, o consumo diário poderia aumentar em quase 3 gramas por pessoa e traz riscos perigosos de desenvolvimento de doenças como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e até câncer.
Embora tenha se concentrado nos EUA, os pesquisadores alertam que as implicações devem ser sentidas a nível global e há possíveis impactos em países como Brasil, México e África do Sul, que já enfrentam epidemias de obesidade e diabetes.
Um dos destaques da pesquisa é o fato da crise climática agravar desigualdades sociais já existentes.
Enquanto pessoas com renda acima de US$ 100 mil (R$ 543 mil) ou educação superior praticamente não mudaram seus hábitos com o calor, domicílios de baixa renda aumentam seu consumo de açúcar em até 4,9 gramas por pessoa por dia quando está mais quente.
Segundo os pesquisadores, o motivo vai além do poder de compra: populações mais vulneráveis frequentemente exercem atividades em ambientes sem ar-condicionado, ficando mais expostas ao calor e mais propensos a buscar alívio nas tais bebidas açucaradas. Além disso, esses grupos têm menor acesso a informações sobre nutrição e alternativas mais saudáveis.