ESG

Oferecimento:

LOGOS_Lojas-Renner
AMBIPAR
Sem nome (500 x 300 px)
randoncorp
CBA_1c0d9a
HYDRO
GOV PARÁ
ALLOS
LOGO SITE AGROPALMA PRETO

Análise: União Europeia trava definição de metas climáticas e é mais um desafio pré-COP30

Documentos revelam que Comissão Europeia e estados-membros seguem em desacordo sobre emissões; até o momento apenas 29 dos 198 países signatários entregaram novas NDCs à ONU

Lia Rizzo
Lia Rizzo

Editora ESG

Publicado em 10 de setembro de 2025 às 08h09.

Última atualização em 10 de setembro de 2025 às 15h09.

Tudo sobreCOP30
Saiba mais

Com a COP30 no horizonte, a União Europeia, tradicionalmente um pilar da política ambiental global, enfrenta um impasse interno na definição de suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).

O atraso, que afeta também nações de outras regiões, é um sinal não apenas do enfraquecimento da liderança do bloco, como também ameaça a ambição das próximas negociações climáticas.

Documentos revelados pelo The Guardian na segunda-feira, 8, mostraram que, a poucas semanas do prazo final estabelecido pela ONU para a submissão das NDCs, a Comissão Europeia e os principais estados-membros permanecem em desacordo sobre as metas de emissões de gases de efeito estufa.

A ausência de números concretos, mesmo que provisórios, nos rascunhos de negociação é um sinal alarmante da falta de progresso.

Ao The Guardian, Niklas Höhne, co-fundador do New Climate Institute - organização sem fins lucrativos, referência pela atuação na análise e suporte a políticas climáticas, com foco em ajudar países e setores a implementar o Acordo de Paris - avaliou que a União Europeia precisa urgentemente apresentar uma nova NDC para a segurança das negociações internacionais.

O bloco europeu é o quarto maior emissor de gases de efeito estufa (GEE) do mundo, depois da China, dos Estados Unidos e da Índia. A meta atual da UE prevê uma redução de 55% nas emissões de gases de efeito estufa até 2030, em comparação com os níveis de 1990.

No entanto, a próxima NDC, para 2035 deveria alinhar o bloco com o objetivo de emissões líquidas zero até 2050, o que implicaria uma redução de 74% a 78% nas emissões até 2035, e de 90% a 95% até 2040.

A discussão interna é complexa. Os planos iniciais eram definir a meta de 2040 primeiro, para então extrapolar a de 2035. Contudo, alguns estados-membros, como a França, defendem a separação dessas discussões, o que ambientalistas temem que resulte em metas mais frouxas e um atraso ainda maior.

Atualmente, líderes como Emmanuel Macron da França, Friedrich Merz da Alemanha, Giorgia Meloni da Itália e Viktor Orbán da Hungria têm sido apontados como os atores que podem diluir ou atrasar os compromissos do bloco. E, por consequência, minar a credibilidade da Europa na COP30, comprometendo também os compromissos climáticos globais.

O atraso global e a dinâmica das COPs

A dificuldade da União Europeia é um reflexo de um problema global mais amplo. Até o fim de agosto, somente 29 dos 197 países que fazem parte da convenção do clima da ONU (UNFCCC) haviam entregado suas novas NDCs. O prazo original venceu em fevereiro, tendo sido prorrogado até setembro.

Há algumas semanas, a presidência da COP30 admitiu que estimava que quase metade dos países, cerca de 97 nações, podem atrasar a entrega de suas metas, incluindo grandes emissores como China e Índia, que também não apresentaram suas metas até o momento.

O atraso generalizado compromete a ambição do Acordo de Paris - que completa dez anos em 2025 e exige versões mais severas e rigorosas das metas a cada cinco anos para limitar o aquecimento global a 1,5°C.

A ausência de NDCs atualizadas e robustas dificulta ainda a avaliação do progresso global e a identificação de lacunas, tornando as negociações das COPs mais desafiadoras.

A percepção de falta de compromisso, especialmente de blocos influentes como a UE, pode encorajar países que desejam frear o progresso climático, como os petroestados e nações com tensões geopolíticas, a adotarem uma postura menos ambiciosa.

A retirada dos EUA do Acordo de Paris por Donald Trump, por exemplo, já demonstrou o impacto que esses movimentos têm na dinâmica global.

Nos bastidores da organização da COP30, uma fonte que prefere não se identificar afirma que a aposta para lidar com este desafio específico está na na diplomacia climática.

Sobretudo, na figura de Laurence Tubiana, economista francesa, climate champion da COP de Paris (quando a função foi criada) e uma das arquitetas-chave do Acordo de Paris.

Dentro da inédita estrutura proposta pela presidência da cúpula de Belém, Laurence foi nomeada enviada especial do Brasil para a Europa para a COP30. Sua vasta experiência em COPs, incluindo o papel como embaixadora da França para as mudanças climáticas, a posiciona como uma voz influente e respeitada.

Também CEO da European Climate Foundation, a economista tem atuado há anos para estreitar a cooperação Brasil-Europa e assim avançar em ações climáticas ambiciosas e inclusivas.

O desafio, contudo, é imenso mesmo para alguém com essas credenciais. Apesar da tendência geral positiva em relação à ação climática, há pouca implementação e financiamento insuficiente para os países mais vulneráveis.

A ascensão da extrema-direita em algumas regiões, que muitas vezes inclui o tema climático em seu pacote de pautas, adiciona uma camada de dificuldade às negociações, que em 2025 não será coadjuvante.

Portanto, Laurence precisa não apenas ajudar a persuadir, mas também encontrar soluções pragmáticas para superar os impasses políticos e econômicos que impedem as ações necessárias.

O trabalho de diplomatas experientes como Laurence Tubiana é fundamental, mas o sucesso dependerá, em última instância, da vontade política dos líderes globais de transcenderem interesses nacionais e abraçarem a urgência da crise climática.

Acompanhe tudo sobre:COP30União EuropeiaMudanças climáticasClima

Mais de ESG

Como funciona a contabilização dupla do preço de eletricidade?

Ilhas brasileiras estão entre as mais importantes do mundo para biodiversidade marinha, diz estudo

Exclusivo: Carrefour contrata 100 mil beneficiários do CadÚnico em dois anos

Mapeamento inédito revela estágio da economia circular em gigantes siderúrgicas brasileiras