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Amazônia Legal: 181 mil famílias ainda vivem sem energia elétrica. (Andre Pinto/Getty Images)
Colunista
Publicado em 19 de setembro de 2025 às 14h00.
Última atualização em 19 de setembro de 2025 às 14h10.
O Brasil está cada vez mais perto da universalização do acesso à energia elétrica. Em 2022, 99,8% dos domicílios do país já contavam com eletricidade, segundo o IBGE. Nas áreas urbanas, a cobertura alcançava 99,9%; no campo, 99%. Mas, apesar da implementação governamental de políticas públicas e programas sociais, ainda persistem desigualdades relevantes. Na Região Norte, apenas 85% dos domicílios rurais estavam conectados à rede, o menor índice do país, um dado que ganha ainda mais relevância diante da realização da COP 30 em Belém, quando o Brasil estará no centro do debate global sobre transição energética e inclusão social.
Esse recorte ajuda a entender os desafios da Amazônia Legal, que se estende por mais de 5 milhões de km², cerca de 59% do território nacional, que reúne nove estados. Apesar de abrigar quase 30 milhões de habitantes, a região concentra grande parte do déficit de acesso à energia elétrica no Brasil. Estima-se que das 337 mil famílias brasileiras ainda não têm eletricidade, 181 mil estão na Amazônia Legal.
Os números revelam uma contradição. A energia elétrica está presente em praticamente todos os domicílios brasileiros, mas em muitas localidades amazônicas o fornecimento depende de soluções precárias e bastante defasadas. Grande parte da população é atendida pelos Sistemas Isolados (SISOL), que não estão conectados ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Esses sistemas, comuns em estados como Acre, Amapá, Amazonas, Pará e Roraima, são abastecidos principalmente por termelétricas a diesel. O resultado é uma energia cara e poluente, com impacto direto nas emissões.
A desigualdade não se expressa apenas no acesso, mas também no uso. Dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) mostram que o consumo de eletricidade é mais concentrado entre famílias de maior renda, enquanto as de menor renda seguem dependentes de biomassa e gás liquefeito de petróleo (GLP) para cozinhar. A cocção responde por 52% do consumo residencial de energia, sendo 25,9% atendida por lenha e 21,4% por GLP. Essa diferença reflete limitações econômicas e sociais: uma família que vive com até um salário mínimo tem uma realidade energética muito distinta daquela que dispõe de mais salários.
Nas últimas décadas, programas como o Luz para Todos ajudaram a ampliar a cobertura, beneficiando mais de 18 milhões de pessoas. Outras políticas, como a Tarifa Social de Energia Elétrica, e iniciativas recentes de instalação de painéis solares em habitações do Minha Casa, Minha Vida, também buscam aliviar os custos e oferecer alternativas mais sustentáveis.
Agora o setor elétrico brasileiro se prepara para um novo passo. A Aneel aprovou o edital do Leilão nº 1/2025, para atendimento a sistemas isolados no Amazonas e no Pará. O certame, previsto para setembro, atraiu 241 projetos, somando quase 1,9 GW de potência cadastrada, e pelo menos 22% da geração contratada deverá vir de fontes renováveis ou gás natural. Entre os projetos inscritos, 61% são híbridos, combinando térmicas com solar e, em muitos casos, baterias.
A universalização da energia elétrica no Brasil é um marco, e está muito além de alguns países ao redor do mundo. Mas regiões como a Amazônia Legal mostram que estatísticas podem mascarar desigualdades ainda existentes. Para além de conectar famílias à rede, o desafio está em garantir que o fornecimento seja limpo, acessível e capaz de sustentar o desenvolvimento em uma das regiões mais estratégicas do país.