A proporção de empresas que utilizam Inteligência Artificial passou de 16,9% em 2022 para 41,9% em 2024 (Getty Images)
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Publicado em 29 de setembro de 2025 às 14h54.
O uso da Inteligência Artificial (IA) nas indústrias brasileiras cresceu 163% em dois anos. É o que apontam os dados de uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
De acordo com o estudo, o número de empresas que utilizam essa tecnologia passou de 1.619 em 2022 para 4.261 em 2024.
“Toda tecnologia nova passa por um processo chamado ‘Ciclo de Hype’, e aí o que acontece nesse ciclo é que todo mundo usa, fala, quer saber, entender, testar. Então, esse ciclo tem um pico e depois começa a cair. Não quer dizer que ninguém vai usar mais, mas que isso vai ser incorporado na nossa vida. A IA está passando exatamente por esse ciclo, por esse crescimento absurdo.” comenta Claudenir Andrade, vice-presidente de Inovação da Associação Brasileira de Tecnologia para Comércio e Serviços (AFRAC).
A adoção da tecnologia é ainda mais expressiva entre grandes organizações. Nas empresas com 500 ou mais funcionários, o uso de IA cresceu de 32,8% para 57,5% entre 2022 e 2024. As áreas que mais utilizaram essa tecnologia foram: Administração (87,9%), Comercialização (75,2%) e Desenvolvimento de projetos de produtos, processos e serviços (73,1%).
“Na administração, por exemplo, há um volume imenso de processos padronizados que podem ser automatizados com retorno rápido. Na comercialização, as empresas lidam com enormes volumes de dados sobre clientes, vendas e tendências de mercado. A IA consegue processar essas informações em velocidade impossível para análise humana. Já no desenvolvimento de projetos, a IA acelera processos que tradicionalmente eram demorados e caros. Esses setores também têm uma vantagem: a implementação de IA neles geralmente é menos complexa do que, digamos, no chão de fábrica, onde há mais variáveis físicas e integração com equipamentos legados”, avalia Jonatha Emerick, CEO da Data Risk.
O estudo analisou 1.731 empresas do setor industrial com cem funcionários ou mais, dados projetados para 10.167 companhias do mesmo perfil. Em 2024, 89,1% das empresas investigadas utilizaram pelo menos uma das tecnologias digitais avançadas como: análise de Big Data, computação em nuvem, inteligência artificial, internet das coisas, manufatura aditiva (impressão 3D) ou robótica.
O levantamento também revela que o uso combinado de múltiplas tecnologias está em alta. A proporção de empresas que utilizam seis tecnologias diferentes aumentou de 3,7% para 5%, de 2022 para 2024. Já o uso de cinco tecnologias passou de de 6,1% para 8,6%, enquanto aquelas que usam quatro tecnologias subiram de 10,4% para 15,2%.
A pesquisa avalia também os motivos para o aumento do uso de tecnologias avançadas pelas empresas: o aumento da eficiência é o principal ganho mais apontado por 90,3%, alta de 2,7 pontos percentuais em relação a 2022. Em segundo lugar, aparece como ganho uma maior flexibilidade em processos administrativos, produtivos e organizacionais, com 89,5%. As empresas mais favorecidas nos dois casos, foram as de maior porte, com mais de 500 funcionários, respectivamente, com 95,9% e 92,9%.
Em relação às dificuldades encontradas pelas empresas para a utilização das tecnologias avançadas, os principais obstáculos são: os altos custos das soluções tecnológicas (78,6%); falta de pessoal qualificado dentro da empresa (54,2%); os riscos associados à segurança e privacidade (47,2%); oferta limitada de profissionais qualificados (46,8%) e dificuldade de integração entre áreas (45,1%).
Sobre a preocupação de profissionais em serem substituídos pelas novas tecnologias, Jonatha afirma: “Essa é provavelmente a questão mais sensível. Acredito que não podemos ser ingênuos: sim, haverá deslocamento de profissionais, especialmente daqueles que executam tarefas altamente repetitivas. Mas a história das revoluções tecnológicas anteriores sugere que o saldo final tende a ser mais de transformação do que de eliminação pura e simples de postos de trabalho. As empresas têm a responsabilidade de investir na requalificação de seus funcionários, e não simplesmente substituí-los. Quem se adaptar terá trabalhos mais interessantes e menos repetitivos. Mas precisamos reconhecer que haverá um período difícil, e políticas de apoio são necessárias.”
Apesar do avanço tecnológico, o modelo de trabalho remoto apresentou uma leve retração. Entre empresas com mais de 500 trabalhadores, a prática do ‘home office’ caiu de 68,1% em 2022 para 65,3% em 2024. Nas empresas com 100 ou mais funcionários, a redução foi de 47,8% para 42,9%, no mesmo período.
“O home office não é para todas as atividades. Qual é o problema do home office? Primeiro, pessoas e profissionais indisciplinados, porque para trabalhar home office tem que ter disciplina. O outro lado, é o seguinte: tem muito chefe que se diz líder, que na verdade microgerencia. Porque o home office colocou em xeque a liderança de muita gente que se dizia líder. A pandemia mostrou que muitos só eram líderes no presencial, cobrando. Não eram líderes que engajavam a equipe, que serviam o time. Então tem esses dois lados”, afirmou Claudenir Andrade.