Aumento do fluxo internacional também movimenta os setores culturais e do comércio local, ampliando a geração de empregos e o fluxo de divisas (SAEED KHAN/AFP/Getty Images)
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Publicado em 19 de setembro de 2025 às 20h55.
O turismo brasileiro vive um dos melhores momentos da história do setor. Entre janeiro e agosto de 2025, o país recebeu 6,5 milhões de visitantes estrangeiros, um avanço de 46,6% em relação ao mesmo período de 2024. O número praticamente iguala o total registrado em todo o ano passado, quando 6,7 milhões de turistas internacionais desembarcaram no território nacional. Os números apontam para uma tendência de novo recorde histórico até dezembro.
Das nacionalidades que mais visitaram o Brasil este ano, os argentinos seguem liderando como principal mercado emissor, com 2,6 milhões de turistas — quase o dobro do registrado no ano anterior, o que representa uma alta expressiva de 93%. Na sequência, aparece o Chile, que enviou 539,8 mil visitantes ao Brasil entre janeiro e agosto, crescimento de 35,1%. O fluxo vindo dos Estados Unidos também se manteve robusto, com 516 mil turistas, alta de 12% frente a 2024.
A presidente executiva da Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo), Marina Figueiredo, explica que o câmbio é um dos principais fatores para que o Brasil tenha se tornado um destino atrativo para estrangeiros nos últimos anos. Somente em 2024, o real teve desvalorização avaliada em 21%, sendo a moeda com pior desempenho entre as 27 divisas dos países que compõem o G20. O cenário pode ser agravado ao final deste ano, com as consequências do tarifaço dos Estados Unidos sobre a moeda brasileira.
Apesar de muita influência do cenário econômico, a especialista afirma que a atração de turistas é resultado de uma soma de fatores.
“Entendo que é uma receita de muitos ingredientes. Tem um bom trabalho de promover o Brasil lá fora para os estrangeiros e uma crescente na malha aérea, com boas ligações com a Europa e a própria América do Sul”.
Motor econômico
O desempenho reforça o peso do setor como vetor de crescimento econômico. Além do impacto direto na rede hoteleira, restaurantes e transportes, o aumento do fluxo internacional também movimenta os setores culturais e do comércio local, ampliando a geração de empregos e o fluxo de divisas.
Mas, para além da atração de turistas, vale destacar a relevância do ticket médio de gastos estrangeiros. O índice em 2024 foi de R$ 6 mil por turista, totalizando R$ 23,7 bilhões em consumo deixados nas cidades brasileiras. O número já foi ultrapassado até agosto deste ano, quando atingiu a marca de R$ 26,4 bilhões em gastos de turistas estrangeiros.
Principais desafios
Para Figueiredo, o setor ainda tem desafios complexos a serem vencidos para ganhar mais destaque na rota de viagem dos estrangeiros. Uma das principais dificuldades do turismo nacional é a conectividade ruim entre cidades, resultado da soma de uma malha aérea limitada e a baixa cobertura de outros transportes modais por questões de infraestrutura.
“A conexão logística e a mobilidade hoje são gargalos fundamentais para conseguir destravar o turismo, tirar a pressão de alguns lugares e abrir outros destinos”.
Outros dois fatores, comenta a executiva, são a baixa profissionalização de atores do mercado, o que impede uma melhor competitividade nos serviços, e a insegurança jurídica do país, afastando players importantes como investidores de grandes redes de hotelaria e de novos negócios turísticos.
“O turismo dá passos para trás, fica menos competitivo, menos atrativo. Para trazer investidores, trazer novas companhias aéreas, construir novos empreendimentos”, concluiu.