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Tarifaço: taxação dos Estados Unidos causa 4 mil demissões no setor madeireiro

Mês de agosto apontou quedas de 35% a 50% no volume de produtos de madeira processada destinado aos Estados Unidos

Em 2024, o setor madeireiro brasileiro exportou US$ 1,6 bilhão em produtos para os Estados Unidos, que concentra 50% da produção nacional (Claudio Neves/Divulgação)

Em 2024, o setor madeireiro brasileiro exportou US$ 1,6 bilhão em produtos para os Estados Unidos, que concentra 50% da produção nacional (Claudio Neves/Divulgação)

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Publicado em 18 de setembro de 2025 às 21h09.

A indústria madeireira, que tem sofrido taxação de 50% sobre produtos exportados aos Estados Unidos, registrou 4 mil demissões entre 9 de julho e 15 de setembro, período que compreende desde o anúncio das novas tarifas por Donald Trump até a imposição de uma alíquota adicional. Os números foram divulgados nesta semana pela Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), que representa produtores de portas, compensado, madeira serrada e molduras. 

Em comparação com julho, o mês de agosto apontou quedas de 35% a 50% no volume de produtos enviados aos Estados Unidos. No caso de molduras, por exemplo, 100% da produção era destinada ao mercado norte-americano. Nas últimas semanas 5,5 mil trabalhadores foram colocados em férias coletivas, além dos 4 mil encerramentos de contratos de trabalho registrados.

“Em 2024, o setor madeireiro brasileiro exportou US$ 1,6 bilhão em produtos para os Estados Unidos, destino que concentra, em média, 50% da produção nacional. Em alguns segmentos, a dependência é ainda maior, com 100% das vendas voltadas exclusivamente ao mercado norte-americano”, diz trecho do comunicado divulgado pela Abimci.

“Os fornecedores que estavam dedicando o seu produto para o mercado americano estão vendo inviabilizado o negócio deles. Isso infelizmente está se refletindo em demissões. Temos 2.000 postos de trabalho que foram perdidos em fábricas do setor”, contextualizou o presidente da Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal, Fabio Brun.

Celulose consegue exceção

Nesta semana chegou a 25,1% o montante das exportações brasileiras livre da alíquota de 10% e da sobretaxa de 40% impostas por Donald Trump. Comemorada por parte do setor produtivo, a retirada da celulose da lista de produtos submetidos ao tarifaço não contempla diretamente produtos da indústria madeireira. 

O recuo do governo americano é visto pelo advogado Rabih Nasser, que também é professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e doutor em Direito Internacional pela Universidade de São Paulo, como fruto da pressão exercida por empresas dos Estados Unidos que viram seus custos adicionais subirem.

“O Brasil é um dos principais fornecedores de celulose do mundo. É uma matéria-prima importante para várias indústrias, como a gráfica, de higiene e limpeza, de embalagens alimentícias, farmacêutica e da construção civil. E não há opções abundantes ao produto brasileiro. Assim, o principal motivo da retirada da celulose do tarifaço parece ser evitar o custo adicional que as empresas dos EUA teriam. Foi provavelmente a pressão dessas empresas, talvez trabalhando em conjunto com as empresas brasileiras, que levou a essa exclusão”, avaliou. 

Na prática, sobre a celulose brasileira não incidirá nem a alíquota de 10%, anunciada em abril, tampouco a sobretaxa de 40%, aplicada em 30 de julho. Ainda segundo Nasser, a ida de representantes de empresas nacionais até Washington pode ser útil para demonstrar a falta de racionalidade econômica da medida e como ela afeta negativamente os interesses das próprias empresas e consumidores dos EUA.

“A interlocução é bastante complexa, pois não se trata apenas de aspectos técnicos, mas envolve também fatores políticos e subjetivos. A solução para entraves dessa natureza exige um conjunto de ações coordenadas, que passa pela articulação de exportadores e importadores, pelo engajamento da sociedade civil e pelo trabalho diplomático e governamental no âmbito internacional”, complementa João Paulo Toledo de Rezende, sócio do Mazzucco & Mello Advogados e especialista em direito aduaneiro e tributário.

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