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Interferência de Trump no FED ameaça confiança no dólar e pode elevar inflação global

O presidente dos EUA pressiona pela redução das taxas, medida que poderia impulsionar a atividade econômica no curto prazo, mas ameaça o controle da inflação

O presidente tenta obter maioria no conselho do Fed e, assim, aumentar sua influência sobre as decisões de juros (Saul Loeb/AFP)

O presidente tenta obter maioria no conselho do Fed e, assim, aumentar sua influência sobre as decisões de juros (Saul Loeb/AFP)

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Publicado em 9 de setembro de 2025 às 13h39.

A ofensiva do presidente Donald Trump contra o Federal Reserve (FED) provocou rumores sobre a incerteza econômica nos Estados Unidos e os efeitos no restante do mundo. Recentemente, o presidente norte-americano tentou afastar a diretora Lisa Cook, sob a acusação de fraude hipotecária. De acordo com especialistas, a medida não tem amparo legal. 

Embora analistas considerem improvável que Trump consiga tirá-la do cargo no Banco Central amerricano, o episódio reforçou dúvidas sobre o futuro da autonomia da instituição responsável pela política monetária da maior economia do mundo.

A estratégia configura um esforço do presidente republicano para obter maioria no conselho do FED e, assim, aumentar sua influência sobre as decisões das taxas de juros do país. Trump pressiona há anos pela redução das taxas, medida que poderia impulsionar a atividade econômica no curto prazo, mas ameaça o controle da inflação.

O risco é que um FED fragilizado perca credibilidade, encareça financiamentos e desvalorize ainda mais o dólar diante de outras moedas. Para Carlos Gustavo Poggio, doutor em Relações Internacionais e especialista em política dos EUA, a ofensiva de Trump contra o FED insere-se em um padrão mais amplo de tentativa de reduzir a autonomia de órgãos tradicionalmente independentes

“Ele já fez isso com agências de estatísticas, com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) durante a pandemia, e agora com o Fed. A visão de Trump é a de um Executivo muito mais forte do que o previsto pela Constituição. Esse modelo, que alguns chamam de Executivo unitário, tem um traço autoritário e ameaça a credibilidade institucional americana”, afirma.

Reação

Segundo Poggio, essa deterioração já se reflete na economia. “O dólar tem perdido valor de forma consistente, na maior depreciação das últimas décadas. Isso ajuda a desorganizar ainda mais o cenário, somado ao impacto das tarifas comerciais. Os mercados, no entanto, seguem reagindo com otimismo exagerado, como se nada estivesse acontecendo. É uma exuberância irracional, semelhante ao que se via antes da crise de 1929”, diz.

O especialista observa que a reação tímida dos investidores poderia ser explicada por duas hipóteses: parte deles acredita que Trump não terá sucesso em interferir no FED; e outra parcela vê vantagem em um conselho mais alinhado ao presidente, na expectativa de juros mais baixos e cortes de impostos que favoreçam os negócios.

De acordo com Poggio, o impacto pode ser percebido no Brasil. A desvalorização do dólar frente ao real reduziu custos de importação e ajudou a conter a inflação, dando ao Banco Central espaço para manter juros em queda. Se a instabilidade institucional americana se agravar, porém, a turbulência pode inverter o movimento e pressionar economias emergentes.

Acompanhe tudo sobre:Donald TrumpFed – Federal Reserve System

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