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A COP30 terá a missão de estabelecer métricas que permitam ao blended finance (financiamento combinado) avançar nos projetos climáticos (Ricardo Lima/Getty Images)
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Publicado em 14 de novembro de 2025 às 22h17.
Por Flora Bitancourt*
A abertura da COP30 foi tão positiva que a perspectiva de sucesso está ainda mais perto. O primeiro dia da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 marcou um avanço diplomático significativo, quebrando uma frustração observada nas últimas quatro edições. A presidência brasileira conseguiu abrir a agenda de trabalho no dia inaugural, garantindo que os debates não fossem travados, apesar do contexto de dificuldades geopolíticas, como a ausência do governo dos Estados Unidos.
Este feito, clara demonstração de força da diplomacia brasileira, pavimentou o caminho para uma COP que está sendo justamente chamada de "COP da Implementação". A evolução das negociações, notável desde a reunião em Bonn, na Alemanha, em julho, culminou em anúncios importantes, como a apresentação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), endossado por mais de 50 países na Declaração de Lançamento. Tais passos iniciais não são apenas simbólicos, mas impulsionam a integração do roadmap Baku-Belém, essencial para mobilizar recursos e cumprir as metas de emissões.
A transição da promessa para a ação é vital, especialmente na aproximação e participação ativa do setor privado. Embora já tenhamos evidências animadoras — com mais investimentos globais em energia renovável do que em combustíveis fósseis —, os desafios persistem, notadamente no campo dos investimentos para adaptação. Por isso, a COP30 terá a missão de estabelecer métricas que permitam ao blended finance (financiamento combinado) avançar nos projetos climáticos.
É neste contexto que o papel de articuladores como a World Climate Foundation (WCF) se torna indispensável. Com 16 anos dedicados a aproximar o setor privado de governos e da sociedade civil na COP, a WCF é credenciada pela ONU para atuar como observadora da cúpula, acompanhando de perto os marcos legais e as metas da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC).
Em Belém, nos dias 13 e 14, a WCF reunirá mais de 1.500 investidores e empresas globais, com o objetivo de moldar e avançar os pledges de investimento alinhados às ambições climáticas. A agenda é fruto de um extenso trabalho de alinhamento realizado ao longo de 2025, com encontros em metrópoles como Davos, Londres e Nova Iorque.
Em Nova Iorque, em setembro, líderes financeiros evidenciaram que o capital está disponível, mas é necessário que os projetos sejam estruturados com retornos confiáveis. O Brasil, por sua vez, demonstrou como os fundos combinados estão remodelando o risco. A adaptação foi considerada um negócio urgente, com soluções baseadas na natureza se destacando como a opção mais econômica e escalável. As florestas, aliás, emergiram não apenas como soluções climáticas, mas como ativos de investimento, exigindo uma partilha de benefícios mais equitativa.
A base para a concretização dessas entregas está nas estruturas de responsabilização. A demanda por dados de clima e natureza tem dobrado anualmente, sublinhando a necessidade de transparência e métricas claras.
Para que a COP30 seja, de fato, a "COP da Implementação", a expectativa é que os países apresentem Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) mais fortes, prontas para receber investimentos e consistentes com a trajetória de limitar o aquecimento global a 1,5°C. A combinação desses compromissos políticos com as entregas reais da Agenda de Ação da COP30 é a chave para o sucesso.
Nossa agenda para Belém é transformar compromissos em ações concretas para impulsionar a transição global a uma economia de baixo carbono, priorizando clima, biodiversidade e povos territoriais. A largada foi dada, e agora o mundo aguarda a materialização das soluções.
*Flora Bitancourt é CEO da World Climate Foundation no Brasil