Segundo professor, produtividade da cana é maior, já que, na comparação com o milho, é possível produzir uma maior quantidade de combustível (Manoel Marques/VEJA)
Plataforma de conteúdo
Publicado em 17 de setembro de 2025 às 19h39.
Última atualização em 18 de setembro de 2025 às 14h21.
O avanço do milho como matéria-prima na produção de biocombustível no Brasil vem atraindo novos investimentos para o setor. Segundo o Balanço Energético Nacional, do Ministério de Minas e Energia, o Brasil produziu mais de 7 bilhões de litros de etanol a partir do cereal em 2024, o que equivale a 20% do total da produção de biocombustível do país.
No Brasil, o etanol proveniente do milho é produzido desde 2012. A primeira usina dedicada exclusivamente a esse biocombustível foi inaugurada cinco anos depois. Antes desse período, a única matéria-prima utilizada era a cana-de-açúcar.
O professor Jaques Paes, docente do MBA de ESG e Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV), destaca que a produtividade da cana é maior, já que, na comparação com o milho, é possível produzir uma maior quantidade de combustível com menos matéria-prima. Ele considera que as matrizes são complementares, e não concorrentes.
“O etanol de milho tem aproveitado o excedente da produção, que antes pressionava os preços de infraestrutura de armazenamento. Já a cana-de-açúcar tem uma tecnologia industrial consolidada no Brasil desde os tempos de Proalcool”, comparou.
“O Brasil tem um modelo único de produção de biocombustíveis, com diferentes rotas tecnológicas que se complementam e fortalecem nossa segurança energética. Tanto a cana quanto o milho contribuem para ampliar a oferta de etanol, gerar empregos, reduzir emissões e consolidar o país como liderança mundial em bioenergia”, complementou o diretor de inteligência setorial da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia, Luciano Rodrigues.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem aprovado seguidos financiamentos para o setor, visto pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, como fundamental para a transição energética. Desde o ano passado foram aprovados mais de R$ 2,1 bilhões para três novos projetos de empresas que atuam no segmento do etanol de milho nos estados de Goiás e Mato Grosso.
Em tempos de tarifaço, Jaques Paes chama atenção para as diferenças entre o etanol de milho produzido nos Estados Unidos, que possui grande tradição, e o produto brasileiro. “Para produzir etanol, o milho americano depende de carvão e gás. A matriz deles é, portanto, menos limpa que a nossa”, apontou.
O potencial brasileiro foi reconhecido pela Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), que passou a considerar o milho de segunda safra como fonte importante para a produção de combustíveis sustentáveis de aviação.
Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), foram vendidos 133,1 bilhões de litros de combustíveis no Brasil durante todo o ano de 2024. Deste total, foram 44,19 bilhões de litros de gasolina, ou seja, uma redução de 4% com relação a 2023. Já o etanol teve 21,66 bilhões de litros vendidos, o que indica crescimento de 33,4%.
Aprovada pelo Congresso no ano passado, a legislação conhecida como Combustível do Futuro pode ser um dos fatores a impulsionar a produção de biocombustíveis nos próximos anos, já que a margem de mistura de etanol à gasolina vendida aos motoristas poderá chegar a 35%.