Economia

Tarifaço de Trump: Lista de isenção mostra espaço para alívios adicionais

A lista de isenção indica alguma sensibilidade econômica, dados os potenciais efeitos adversos para a economia americana, seja diretamente para os consumidores como para empresas do país

Publicado em 6 de agosto de 2025 às 10h15.

A oficialização da tarifa de 50% pelo governo americano sobre as importações brasileiras, acompanhada de lista de itens que não sofrerão o adicional de 40%, aponta impacto econômico mais limitado em relação ao que se esperava após a carta de 9 de julho.

A nota que acompanhou a medida evidência que a decisão do governo americano com a oficialização da tarifa é fortemente balizada por motivação política. No entanto, a lista de isenção indica alguma sensibilidade econômica, dados os potenciais efeitos adversos para a economia americana, seja diretamente para os consumidores como para empresas do país, mais dependentes de importações brasileiras.

De fato, para além dos impactos setoriais negativos, temores com implicações inflacionárias ainda estão presentes nos Estados Unidos, em particular, em um momento de forte pressão do governo para a redução dos juros por parte do Fed. A inflação voltou a avançar na margem em junho, o que já reflete, em parte, a agenda tarifária, resultando em um maior distanciamento da meta de 2%. Ou seja, elevar substancialmente tarifas de importantes bens de consumo ou mesmo de insumos atuará na direção contrária aos objetivos da autoridade monetária, tornando ainda mais desafiadora a tarefa de redução das taxas de juros no curto prazo – a despeito das pressões de Donald Trump.

Nesta semana, após a decisão de manter as taxas, o presidente Jerome Powell admitiu que as tarifas já estão pressionando os preços de alguns bens, ainda que mantenha a leitura de que tais impactos devam ser temporários.

Do lado do Brasil, levantamento divulgado pela Secex apontou que 44,6% das exportações realizadas em 2024 estariam enquadradas na lista de isenção da tarifa adicional de 40% (ordem executiva A), ou seja, sendo taxados à tarifa inicial de 10% anunciada em abril. Do restante, 35,9% estariam, por enquanto, sujeitos à aplicação da tarifa total de 50% (ordem executiva B). Entre eles, café, carnes e açúcares. Outra parcela (19,5%) seria composta de produtos sujeitos a tarifas específicas, aplicadas a todos os países (seção 232), variando entre 25% e 50%. Nesta categoria estão itens ligados à cadeia siderúrgica e ao segmento de madeira.

Dentre os itens ainda sujeitos à sobretaxa, não se pode descartar um tratamento diferenciado à frente, tendo em vista a importância dos produtos envolvidos. No caso do café, 85,2% da produção brasileira foi destinada à exportação, sendo 14% direcionada aos Estados Unidos. O país depende, em grande medida, da importação para fazer frente à demanda doméstica. Pelos nossos cálculos, as importações representam cerca de 99,8% do consumo interno e a substituição da oferta brasileira não é nada trivial.

Por esta razão, é esperado que o café também receba um tratamento diferenciado em breve. Esse mesmo quadro é observado para vários outros produtos agrícolas, como óleos vegetais (oliva, palma, canola e girassol) que ficaram sujeitos à tarifa de 50%, além do suco de laranja, contemplado na isenção.

Já especificamente no caso do aço semiacabado, a dependência é bem importante, considerando que o Brasil foi a origem de 61,4% de todo aço semiacabado importado pelos EUA em 2024. Com a incidência de sobretaxa à sua importação, o insumo será mais um dos exemplos de impactos via aumento de custos ao setor produtivo norte-americano. Nesse sentido, é razoável contar com um crescente descontentamento de setores mais dependentes de importações, seja na indústria ou no comércio varejista.

No caso das carnes, o Brasil aumentou a exportação para os EUA nos últimos anos, dada a limitação da oferta local. Ainda assim, o grau de dependência do país às importações é bem menor comparado com outros produtos agropecuários, respondendo apenas por 13% do consumo doméstico, considerando também o fato de que os Estados Unidos são o maior produtor global de carnes bovinas. Além disso, eles podem recorrer à importação de outros produtores, como União Europeia, China, Índia, Argentina e Austrália.

Com relação à economia brasileira, ainda que existam impactos setoriais relevantes em segmentos que têm no mercado americano parte importante de suas exportações, o efeito agregado para a atividade interna será mais limitado em relação ao inicialmente estimado (entre 0,2 p.p. e 0,4 p.p. do crescimento econômico em 2025 e 2026). Além disso, persiste a possibilidade da inclusão de novos itens na lista de isenção da sobretaxa de 40%. Se o efeito sobre a atividade tende a ser mais localizado, também não antevemos impactos inflacionários internos conclusivos por ora.

Em um primeiro momento, itens sobretaxados nos EUA podem ter seus preços reduzidos no mercado interno, mas tal dinâmica tende a ser temporária, diante do incentivo ao ajuste da produção. A taxa de câmbio entra como outra fonte de incerteza nessa equação, mas nossa análise não aponta como provável um cenário de pressão relevante na variável, inclusive considerando a força limitada do dólar em todo o mundo neste momento.

Por fim, levando em conta possíveis respostas do lado brasileiro, avaliamos que a não-retaliação e as tentativas de aproximação e negociação visando ampliar a lista inicial de isenções ainda se mostram como as estratégias mais promissoras na minimização de danos, além do maior direcionamento no sentido de diversificação de mercados e fechamento de acordos comerciais, com especial atenção ao acordo entre Mercosul-União Europeia.

*Alessandra Ribeiro é economista e Diretora da área de Macroeconomia e Análise Setorial da Tendências Consultoria.

*Silvio Campos Neto é economista e sócio da Tendências Consultoria.

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