Economia

Stanley Fischer, ex-presidente do Banco de Israel e grande nome da macroeconomia, morre aos 81 anos

Seu currículo inclui passagens pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e cargos no Federal Reserve, no FMI e no Banco Mundial, além de ter sido vice-presidente do Citigroup, com sede em Nova York

Stanley Fischer: grande estudioso da macroeconomia. (Lior Mizrahi/Getty Images)

Stanley Fischer: grande estudioso da macroeconomia. (Lior Mizrahi/Getty Images)

Agência o Globo
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Publicado em 1 de junho de 2025 às 09h52.

Stanley Fischer, professor e praticante de macroeconomia que ajudou a orientar os bancos centrais de dois países —
Israel e Estados Unidos — e foi mentor de uma geração mais jovem de formuladores de políticas econômicas, morreu na madrugada de sábado, aos 81 anos, informou o Banco de Israel em um comunicado, expressando condolências.

Fischer, conhecido como Stan, atuou como vice-presidente do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos de 2014 a 2017, após oito anos como presidente do Banco de Israel — experiência que se somava a um currículo que incluía passagem pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), cargos no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Banco Mundial, além de ter sido vice-presidente do Citigroup, com sede em Nova York.

Entre os alunos do MIT que ele orientou e ensinou estavam Ben Bernanke, que se tornaria presidente do Fed e o chamava de mentor; Mario Draghi, futuro presidente do Banco Central Europeu e primeiro-ministro da Itália; Lawrence Summers, que foi secretário do Tesouro dos EUA no governo Bill Clinton; Greg Mankiw, que presidiu o Conselho de Assessores Econômicos do presidente George W. Bush; Kazuo Ueda, nomeado presidente do Banco do Japão em 2023; e dois economistas-chefes do FMI, Olivier Blanchard e Maurice Obstfeld.

Incontáveis outros estudantes universitários foram introduzidos à “ciência sombria” por meio do livro 'Macroeconomics', que Fischer escreveu em 1978 com seu colega do MIT, Rudi Dornbusch. A 13ª edição da obra foi publicada em 2018.

“É difícil pensar em outro macroeconomista vivo que tenha tido tanta influência direta e indireta — por meio de suas pesquisas, de seus alunos e de suas decisões políticas — sobre a política macroeconômica global,” escreveu Blanchard sobre Fischer em 2023.

Fischer e Blanchard também foram coautores do livro 'Lectures on Macroeconomics', publicado em 1989.

Enviado em diversas ocasiões para lidar com emergências econômicas ao redor do mundo, Fischer extraía lições acadêmicas de suas experiências diretas com países em crise.

Esse padrão começou em 1983, quando George Shultz, então secretário de Estado dos EUA, o convidou para integrar uma equipe conjunta de especialistas dos EUA e de Israel, com o objetivo de ajudar o país a sair de um longo período de crescimento fraco, inflação de três dígitos e queda nas reservas cambiais.

O trabalho resultou, em 1985, em um programa de estabilização econômica que combinava forte redução nos subsídios governamentais com a fixação da taxa de câmbio, aperto na política monetária e controle de salários e preços — seguido, de forma crucial, por um pacote de ajuda dos EUA de US$ 1,5 bilhão por dois anos.

Isso foi um prelúdio para sua atuação como o número 2 do FMI, instituição que atua como credor de último recurso para países em dificuldades econômicas. A partir de 1994, Fischer viajou o mundo para ajudar a resolver crises financeiras interligadas no México, Rússia, Brasil, Tailândia, Indonésia e Coreia do Sul. Seu papel muitas vezes ofuscava o do diretor-gerente do FMI, Michel Camdessus. Mas, anos depois, Fischer creditaria a Camdessus a manutenção da calma após o colapso do peso mexicano em 1994, a primeira crise que enfrentou no FMI.

Empréstimos de Emergência

“Pensei que a civilização ocidental como a conhecíamos estava chegando ao fim,” relembrou Fischer, “mas Camdessus já tinha visto esse filme antes.” O FMI forneceu cerca de US$ 250 bilhões em empréstimos de emergência durante os sete anos em que Fischer foi primeiro diretor-gerente adjunto, até 2001.

Para aceitar a proposta de chefiar o banco central de Israel em 2005, Fischer, cidadão americano desde 1976, também assumiu a cidadania israelense. Conduzia seus trabalhos em hebraico, com um sotaque que denunciava sua infância no sul da África.

Sob sua liderança, o banco central de Israel foi o primeiro a cortar juros em 2008, no início da crise econômica global, e o primeiro a elevá-los no ano seguinte, diante dos sinais de recuperação. Em 2011, respondendo a um novo abalo na economia mundial, o banco iniciou uma série de cortes na taxa de juros que levou o juro básico de 3,25% a um recorde de baixa de 0,1% em 2015.

Entre as mudanças importantes promovidas por Fischer durante seus oito anos no cargo está a transferência da decisão sobre a taxa básica de juros de uma responsabilidade exclusiva do presidente do banco para um Comitê de Política Monetária composto por seis membros, incluindo três acadêmicos externos.

“É um testemunho da habilidade de Stan na condução da economia israelense o fato de que ela foi uma das poucas economias avançadas cuja produção cresceu todos os anos durante o período de crise,” afirmou o ex-presidente do Banco da Inglaterra, Mervyn King, em 2013.

O presidente Barack Obama nomeou Fischer como vice-presidente do Conselho de Governadores do Fed, sob a presidência de Janet Yellen. Fischer anunciou sua aposentadoria em 2017, um ano antes do término do mandato de quatro anos. Em 2019, passou a atuar como consultor da BlackRock.

Infância na África

Stanley Fischer nasceu em 15 de outubro de 1943, em Mazabuka, uma cidade na Zâmbia, país que então se chamava Rodésia do Norte. Sua família fazia parte de uma comunidade judaica unida, formada por imigrantes que haviam se estabelecido no sul da África. Seu pai, Philip, nascido na Letônia, administrava uma loja de variedades. Sua mãe, Ann, nasceu na Cidade do Cabo, filha de imigrantes lituanos, segundo um perfil publicado pelo Financial Times.

Aos 13 anos, a família mudou-se para o Zimbábue, então chamado Rodésia do Sul, onde Stanley se envolveu com o Habonim, um movimento juvenil sionista, ao lado de Rhoda Keet, que viria a ser sua esposa. No início dos anos 1960, ele passou seis meses em um kibutz na planície costeira do Mediterrâneo, em Israel, onde aprendeu hebraico enquanto colhia e plantava bananas.

Foi apresentado à economia por meio de um curso no último ano do ensino médio, o que o levou a se mudar para o Reino Unido e estudar na London School of Economics, onde obteve o bacharelado em 1965 e o mestrado em 1966.

Escolheu o MIT para seu doutorado porque queria estudar com os futuros ganhadores do Prêmio Nobel Paul Samuelson e Robert Solow. Ele disse que pode ter se interessado por macroeconomia “porque estava interessado nas grandes questões”.

“Eu tinha essa imagem de que o mundo, como o conhecíamos, quase colapsou nos anos 1930, e que esses caras” — os macroeconomistas — “o salvaram,” disse ele em uma entrevista de 2005 com Olivier Blanchard.

Obteve o Ph.D. em economia em 1969, trabalhou como professor assistente na Universidade de Chicago e retornou ao MIT em 1973 como professor associado. O primeiro curso que lecionou foi economia monetária, ao lado de Samuelson. Tornou-se professor titular em 1977.

Ben Bernanke, que concluiu o doutorado no MIT em 1979, atribui seu interesse por política monetária a uma conversa que teve com Fischer — “então uma estrela acadêmica em ascensão” — no fim dos anos 1970.

Bernanke conta que Fischer lhe entregou uma cópia de 'A Monetary History of the United States, 1867-1960 (1963)', de Milton Friedman e Anna J. Schwartz, com a recomendação: “Leia isto. Pode te entediar até a morte. Mas, se te empolgar, talvez você deva considerar a economia monetária.”

Independência do Fed

Bernanke também atribuiu a Fischer a popularização do princípio de que, embora o Federal Reserve persiga metas definidas pelo presidente e pelo Congresso dos EUA, ele tem independência operacional — liberdade para usar seus instrumentos como considerar adequado para atingir esses objetivos.

Como economista-chefe do Banco Mundial de 1988 a 1990, Fischer visitou a China e a Índia, e depois diria ter ficado “fascinado com o problema do desenvolvimento”.

Depois de sair do FMI em 2001, Fischer ingressou no Citigroup como vice-presidente e passou a liderar o comitê de risco-país da instituição, utilizando sua experiência prévia para orientar decisões estratégicas.

Fischer chegou a se candidatar ao cargo máximo do FMI em 2011, após a renúncia de Dominique Strauss-Kahn. Aos 67 anos, porém, estava acima do limite de idade de 65 anos para diretores-gerentes do fundo, o que exigiria uma mudança nas regras. O cargo acabou ficando com Christine Lagarde.

Em 2013, Fischer chegou a ser cogitado como sucessor de Bernanke na presidência do Fed. O presidente Barack Obama, no entanto, escolheu Janet Yellen para o cargo, com Fischer como seu vice.

“Em um mundo justo, Stan teria servido, em algum momento, como presidente do Fed ou diretor-gerente do FMI,” escreveu Lawrence Summers em 2017. “O destino é caprichoso e isso não aconteceu. Mas Stan, por meio de seu ensino, escrita, aconselhamento e liderança, teve tanta influência sobre o sistema monetário global quanto qualquer outra pessoa de sua geração. Centenas de milhões de pessoas viveram melhor por causa de seus esforços.”

eco

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