Agência de notícias
Publicado em 28 de agosto de 2025 às 15h47.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira que o comércio internacional tem sido utilizado como "instrumento de coerção em chantagem", sem mencionar diretamente o governo americano.
Em declaração proferida durante a visita oficial do presidente do Panamá, o conservador José Raúl Mulino, ao Palácio do Planalto, Lula defendeu a soberania do país caribenho sobre o canal do Panamá, que tem sido alvo de bravatas por parte do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Durante o encontro, Lula anunciou que o Panamá vai comprar quatro aviões Super Tucano da Embraer e reiterou que o Brasil apoia o tratado que estabeleceu a neutralidade do Canal do Panamá.
— Reafirmamos o compromisso com o multilateralismo, o desenvolvimento sustentável e a integração regional. Isso é particularmente irrelevante em um dos momentos mais críticos da história da região. A tentativa de restaurar antigas hegemonias coloca em choque a liberdade e a autodeterminação dos nossos povos. As ameaças de ingerências pressionam instituições democráticas e comprometem a construção de um continente integrado, desenvolvido e autônomo. O comércio internacional é utilizado como instrumento de coerção e chantagem — disse Lula ao lado de Mulino.
Lula citou ainda a frase "quem semeia bandeiras, colhe soberania", que marca a resistência panamenha no século XX e a luta do país pela soberania ao canal do Panamá. A hidrovia terminou de ser construída pelos americanos em 1914, que a administraram por décadas até 1999, quando o movimento passou ao controle do Panamá.
— O Brasil apoia integralmente a soberania panamenha do canal, conquistada após décadas de luta. Há mais de 25 anos, o país administra o corredor marítimo com eficiência e respeito à neutralidade, com navios de todas as origens. Por isso, decidimos nos somar ao tratado relativo à neutralidade permanente e ao funcionamento do canal de Panamá, já subscrito por mais de 40 países — disse Lula.
Nos últimos meses, Trump fez uma série de declarações manifestando a intenção de tomar o canal do Panamá, hidrovia de 82 quilômetros que liga os oceanos Pacífico e Atlântico e de grande relevância geopolítica e comercial, especialmente por encurtar viagens marítimas via istmo do Panamá.
Em abril, EUA e Panamá assinaram um acordo por meio do qual os panamenhos concordaram em dar prioridade aos americanos no uso do canal e que o fariam de graça, sem pagar taxas ao Panamá, pelos ao menos três anos. O acordo foi uma capitulação do governo panamenho na tentativa de aplacar a retórica de Trump contra a cobrança pelo uso do canal.
A visita do panamenho José Raúl Mulino ocorre em meio ao movimento da diplomacia brasileira de defesa do multilateralismo nas relações internacionais e à escalada da crise entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o governo e o Judiciário brasileiros, pretensamente sob a alegação de que o governo brasileiro persegue Jair Bolsonaro.
Lula também convidou pessoalmente Mulino a participar da COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, programada para ser realizada em Belém em novembro.
– Estarei na cúpula de Belém, presidente Lula conte com isso, porque o tema nos é muito caro e a COP se verá fortalecida se fizermos o esforço de chegar a Belém – disse o líder do Panamá. A realização da COP30 no Pará tem sido criticada por delegações e ONGs devido ao alto custo de hospedagens no local.
José Raúl Mulino foi eleito em 2024 pelo partido de direita Realizando Metas, fundado pelo ex-presidente panamenho Ricardo Martinelli (2010-2014). O presidente do Panamá já havia se encontrado com Lula no início de julho, quando o presidente brasileiro foi à Argentina para assumir a presidência do Mercosul. À época, os dois líderes destacaram oportunidades comerciais entre as nações após o Panamá ter se tornado membro associado do Mercosul. Lula deve visitar o Panamá em janeiro de 2026.