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Fábio Villa, diretor comercial do banco de atacado Itaú BBA (Divulgação)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 19 de novembro de 2025 às 06h01.
Belém - A padronização das regras do mercado de crédito de carbono terá um enorme potencial gigantesco para ampliar o acesso das empresas brasileiras a mais mecanismos de crédito, avalia Fábio Villa, diretor comercial do banco de atacado Itaú BBA.
Villa é responsável pelos segmentos de Middle Marketing (médias empresas), corporate bank, multinacionais e empresas de tecnologia. Ele conversou com diversos empresários, de vários setores da economia, durante a COP30, e diz ter visto um clima de otimismo para o avanço de diversos temas ligados ao ambiente.
“Senti um engajamento como nunca vi em um fórum, de engajamento propositivo e busca de conexões. Nesse tema da transição energética e da sustentabilidade, tá todo mundo assim: 'já entendemos, já conseguimos tangibilizar o efeito prático. Isso aqui é Business e tem oportunidade de investimento'”, afirmou, em conversa com a EXAME.
Villa vê as mudanças no mercado de créditos de carbono com grande potencial para aumentar a oferta de financiamento. “Você vai criar de fato um incentivo para países que têm vocação, como o nosso, e tem capacidade aqui no curto espaço de tempo, de gerar esses créditos de carbonos em suas respectivas negócios”, diz Villa, em conversa com a EXAME.
“Você tem um arcabouço global e os arcabouços regionais. Ou seja, cada país está de forma diferente. Um dos desafios da própria COP30 é como uniformiza e cria um arcabouço de regras, igual para qualquer geografia do planeta”, prossegue.
Veja a seguir mais trechos da entrevista:
O que falta para que as empresas acelerem sua transformação para um modelo mais sustentável?
Tem dois temas. Primeiro, como a gente monetiza o crédito de carbono de maneira mais fluida? Você tem um arcabouço global e arcabouços regionais. Ou seja, cada país está de forma diferente. Um dos desafios da própria COP30 é como uniformiza e cria um arcabouço de regras, igual para qualquer geografia do planeta.
Eu vejo uma mobilização muito grande em torno disso. Estou convicto de que está todo mundo extremamente engajado em fazer isso dar certo. A viabilidade de um conjunto de regras uniformes em todos os países para crédito de carbono vai ser um divisor de águas gigantesco. Você vai criar de fato um incentivo para países que têm vocação, como o nosso, e têm capacidade no curto espaço de tempo de gerar esses créditos de carbono em seus respectivos negócios.
O outro tema é como criar condições de financiamento mais atrativas para o setor. Há emissão de bonds, que são dívidas internacionais. Tem as debêntures verdes locais, etc, mas quem emite essas dividas e tem acesso são as grandes corporações, que tem o nível de governança muito alto. Você precisa democratizar.
Vimos há pouco os leilões do Eco Invest, por meio do Tesouro. Emitiu títulos e fez um leilão para que o mercado privado e os bancos comprassem esses títulos, que têm nível de competitividade de preço interessante para fazer a redistribuição a partir de uma avaliação técnica que a gente faz aqui, de vários projetos.
Foram dois leilões até agora, focados em recuperação de áreas degradadas, e a gente está mobilizado, através das entidades de classe junto ao governo, para fazer o Invest 3 e o Invest 4 e aumentar a abrangência de setores. O transporte, dada a dimensão continental do Brasil, é um tema extremamente estratégico.
Como tem sentido a disposição dos empresários para avançar com a agenda verde?
Estive na COP presencialmente e realizamos vários eventos online, com empresas de diversos setores e cadeias de valor. Você vê a mobilização de mais de 190 países em alto nível, vê C-levels de todas as principais empresas brasileiras e dos principais C-levels de multinacionais, com discussões muito produtivas. O Brasil, com seu posicionamento, ocupou um espaço muito bacana. Não basta ser; também tem que parecer ser para poder engajar. Aqui é a COP da prática.
De todas as conversas que tive com várias empresas, ouvi muito isso: 'ok, entendemos como a gente implementa?'. Eu senti um engajamento como nunca vi num fórum, de engajamento propositivo e busca de conexões. Nesse tema da transição energética e da sustentabilidade, tá todo mundo assim: 'já entendemos, já conseguimos tangibilizar o efeito prático. Isso aqui é Business e tem oportunidade de investimento’.
Temos uma oportunidade de ouro, como nunca na história do Brasil, de realmente ser o protagonista da transição energética global, por várias razões. Os recursos naturais que a gente, pela mentalidade dos empresários, pelo engajamento do governo e da sociedade civil. Isso aqui é um jogo infinito. Não é uma agenda só do setor privado ou do setor público.
Há setores que vão aproveitar mais essa onda de financiamento para iniciativas verdes ou que estão mais preparados para esse momento?
Desde 2020, incluímos o tópico sustentabilidade no centro da nossa estratégia. Então, todos os diretores aqui, os C-levels, capacitamos 100% dos times para ter uma conversa fluida, provocativa, e a gente se posiciona como banco da transição climática. Em 2021, lançamos a meta de desembolsar 1 trilhão de reais em projetos sustentáveis e de transição energética. A gente já fez 522 bilhões até o final do mês passado.
Vemos todos os setores se mobilizando, mas, obviamente, alguns têm um protagonismo intrínseco ao seu core. O agro é um deles. É o único setor é que consegue ter emissões líquidas zero no seu próprio ecossistema e não precisa comprar crédito de carbono. Fizemos uma parceria com a Syngenta para recuperar pastagens degradadas. Colocamos uma meta de recuperar 1 milhão de hectares. A gente já fez 270.000 hectares de recuperação de áreas degradadas e já mobilizou 2 bilhões de reais.
Outro setor é a construção civil. Você consegue fazer projetos sustentáveis, desde a engenharia até a mobilização de todos os materiais envolvidos. Consegue desenvolver um suppy chain com economia e substituição de materiais por itens ecologicamente sustentáveis.
Há também os setores de energia e saneamento, com energia fotovoltaica e eólica, projetos de biomassa que conseguem se desenvolver muito bem. A Sabesp fez uma emissão de R$ 1 bilhão, que a gente assessorou, para ampliar o acesso ao saneamento básico.
Tivemos uma amostragem muito grande, com mais de 30 setores e subsetores extremamente engajados. No varejo, por exemplo, como você monta o real estate (parte imobiliária) de maneira sustentável? Como vê a questão de logística reversa?
As empresas que têm práticas sustentáveis vendem muito mais do que as outras que não têm esse tipo de comportamento, porque elas acessam novos mercados. Para vender para uma Natura, por exemplo, toda a supply chain dela precisa estar com a skin in the game com essa estratégia, senão não consegue ser fornecedor.