Economia

Ideia citada por Guedes de reduzir reservas é vista com cautela

Embora a medida não seja questionada tecnicamente, ela deveria ser adotada após medidas mais urgentes para resolver déficit e aumentar competitividade

 (crazydiva/Thinkstock)

(crazydiva/Thinkstock)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 30 de outubro de 2018 às 20h20.

Última atualização em 30 de outubro de 2018 às 20h32.

A ideia de vender parte das reservas de US$ 380 bilhões do país em momento de estresse cambial, admitida pelo futuro ministro da Fazenda, Paulo Guedes, é vista com precaução pelo mercado.

Embora a medida não seja questionada tecnicamente, ela deveria ser adotada apenas após o país encaminhar questões mais urgentes, como reduzir o déficit fiscal e aprovar reformas para aumentar a competitividade.

Os benefícios de baixar as reservas não compensam o custo de eventualmente deixar o país mais vulnerável na área cambial, diz Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria.

Ele reconhece que a venda de parte das reservas poderia não ser danosa se fosse em pequeno volume, mas o país deveria neste momento dar prioridade a reformas que visem manter os juros baixos e reaver o grau de investimento.

O ex-secretário do Tesouro Carlos Kawall diz que, considerando-se as métricas estipuladas pelo FMI, o Brasil poderia ter apenas metade do nível de reservas atual. Como custam caro, o país poderia diminuir o volume a partir do momento em que tiver uma situação fiscal sustentável, mas este não é o caso agora.

“Seria melhor nos debruçarmos sobre esta questão mais à frente, após o avanço das reformas, principalmente a previdenciária”, diz Kawall, que é economista do banco Safra.

Um ponto positivo, segundo Kawall, é que a proposta não é a de ”torrar reservas” para financiar gastos, como se chegou a ventilar por outros candidatos na campanha eleitoral. A ideia de Paulo Guedes, se colocada em prática, seria a de vender os dólares em caso de necessidade e, com isso, abater a dívida interna.

Embora o custo das reservas seja elevado, ele está num nível baixo para o padrão do país, diante da combinação de Selic em seu piso histórico e os juros em elevação nos Estados Unidos, diz Adriana Dupita, economista da Bloomberg.

Além disso, ela lembra que as reservas ajudam a diminuir a percepção de risco de calote externo, amenizando o custo de captação tanto para o setor público quanto para o setor privado no exterior.

"Este efeito é difícil de medir, mas ajuda a compensar parte do custo das reservas, considerando a economia como um todo."

Nos debates internos da equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro, Paulo Guedes defendeu a redução das reservas internacionais como forma de diminuir o custo da dívida, informou o Valor Econômico.

No final da manhã, Guedes disse que não há necessidade de acumular tantas reservas, pois custam caro, e que o país poderia aproveitar momentos especulativos, quando o dólar se valoriza, para vender. “Se o dólar chegar a R$ 5, vai ser muito interessante. Vamos vender US$ 100 bi de reserva”, disse a jornalistas.

O tamanho das reservas brasileiras, quando medidas em reais, chega a R$ 1,4 trilhão. É um número muito elevado e qualquer pequeno percentual de economia que o país faça com o carregamento delas seria muito expressivo, diz Kawall, do Safra.

Ainda assim, o ex-secretário do Tesouro entende que o próximo governo não deve iniciar imediatamente a redução. Pelo contrário, se as reformas forem encaminhadas, a questão que o país terá de discutir em breve é no sentido contrário.

Aumentando as entradas de capital, a questão será se o Banco Central vai parar de vender swaps ou se vai comprar dólar, o que aumentaria ainda mais as reservas.

Acompanhe tudo sobre:Jair BolsonaroPaulo Guedes

Mais de Economia

Câmara aprova projeto que tira precatórios do teto do arcabouço fiscal

Alckmin se reúne hoje novamente com empresários para discutir tarifas de Trump

Após reunião sem acordo, Haddad fala em 'solução rápida' para o IOF

Reunião no STF termina sem acordo entre governo e Congresso sobre IOF