Economia

Brasil chega ao 'pleno emprego' com informalidade na mínima e alta na renda do trabalhador

Em seis anos, o Brasil ganhou 8 milhões de trabalhadores de carteira assinada ante 670 mil de informais

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 22 de setembro de 2025 às 06h01.

Última atualização em 22 de setembro de 2025 às 06h23.

O Brasil vive um cenário de pleno emprego, com a taxa de desemprego na mínima histórica de 5,6% em julho, com mais de 102 milhões de brasileiros trabalhando.

Esse resultado foi alcançado em um momento de queda da informalidade ao seu menor nível e aumento do salário médio do trabalhador, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) compilados por Bruno Imaizumi, economista da 4intelligence, a pedido da EXAME.

Essa resiliência do mercado de trabalho nos últimos anos é apontada por economistas como um dos aspectos para o crescimento da atividade econômica brasileira acima da expectativa dos agentes de mercado.

O levantamento compara o trimestre encerrado em julho de 2025 com o de julho de 2019, período pré-pandemia, quando a taxa de desemprego estava em 12% — naquele momento, o país ainda vivia os resquícios da crise econômica que vinha desde 2015.

A grande mudança desses últimos seis anos está na composição da população ocupada. Os dados mostram que a participação de trabalhadores formais subiu de 59% para 62,2%, uma alta de 3,2 pontos percentuais.

Esse dado contrasta com uma suposta aversão ao trabalho registrado, narrativa que tem viralizado nas redes sociais nos últimos anos, principalmente entre os jovens.

Ao mesmo tempo, a informalidade caiu de 41% para 37,8%, o menor patamar quando excluído o período de queda devido à pandemia.

Durante a pandemia de Covid-19, com as medidas de distanciamento social, o desemprego explodiu e a informalidade chegou na máxima histórica.

Em números gerais, o Brasil tem 63,6 milhões de pessoas no mercado formal, uma alta de 8 milhões em seis anos. Desse total, 39,1 milhões são trabalhadores de empresas privadas com carteira assinada, o maior nível desde 2012.

No caso dos informais, são 38,7 milhões, aumento de 676 mil pessoas desde 2019 — 25 milhões de brasileiros trabalham por conta própria.

Os dados também mostram que houve um aumento de trabalhadores no setor público. Segundo o economista da 4intelligence, isso é explicado pelo reforço de caixa das esferas municipais, que puderam ampliar o gasto com pessoal.

Também foi registrada a queda de trabalhadores autônomos sem CNPJ nos últimos anos, ou seja, empreendedores, como prestadores de serviços, sem empresa aberta. O estudo mostra que, em contrapartida, o número de pessoas que trabalham por conta própria com CNPJ aumentou praticamente na mesma proporção.

"Houve uma digitalização e desburocratização de serviços públicos, como os de abertura de empresas, que permitiram o avanço de ocupados por conta própria com CNPJ", afirma.

O número de população desocupada caiu para 6,1 milhões, o menor contingente desde o último trimestre de 2013 (6,1 milhões). Já o nível da ocupação (percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar) manteve o percentual recorde: 58,8%.

Renda do trabalhador na máxima

O reflexo desse cenário, segundo Imaizumi, é um maior rendimento médio do trabalhador, uma vez que o salário formal tende a ser maior que o do informal.

A renda média efetiva do trabalhador chegou a R$ 3.392 no segundo trimestre do ano. No primeiro, a renda bateu R$ 3.665, o maior volume desde 2012. Em julho de 2019, o valor era de R$ 3.081, o que representa uma alta de 18,95%, mas ainda abaixo da inflação acumulada nos últimos quatro anos, que foi de 40,61%.

Segundo a 4intelligence, o cenário de maiores rendimentos é explicado sobretudo pelo reajuste do salário mínimo acima da inflação.

Além disso, os reajustes salariais de acordos e convenções coletivas registrados pelo sistema Mediador do Ministério do Trabalho e Emprego também são um ponto relevante.

Os dados de julho de 2025, coletados pelo DIEESE, mostraram que 76,4% dos reajustes salariais de acordos e negociações coletivas ocorreram acima do INPC acumulado em 12 meses, resultado abaixo de junho de 2025 (83,1%), porém acima de julho do ano passado (69,1%). No acumulado de 2025, 78,7% dos reajustes salariais ocorreram acima do INPC.

A avaliação do economista é que os rendimentos continuarão a apresentar uma trajetória positiva em 2025 e 2026, o que contribuirá para manter a massa de rendimentos obtidos via trabalho em patamares recordes.

O impacto se materializará na sustentação de boa parte do consumo das famílias ao longo deste ano, o que mantém a economia aquecida, mesmo em um momento de taxa de juros de 15% ao ano.

A projeção da 4intelligence é de que a taxa de desemprego continuará a cair nos próximos meses. A expectativa para agosto, por exemplo, é de uma taxa de 5,5%, o que representará uma nova mínima histórica.

A consultoria reforça que, nos últimos 12 meses, o mercado subestimou a taxa de desocupação em aproximadamente 0,9 ponto percentual.

No pós-pandemia, cai o número de trabalhadores do agro

Além do tipo de trabalho e da renda, outra mudança observada foi a queda no número de trabalhadores do setor agropecuário entre 2019 e 2025.

O setor perdeu 745 mil trabalhadores e diminuiu sua contribuição para o total do universo de trabalhadores por setor, de 9,2% para 7,6%.

Imaizumi afirma que a saída de jovens das regiões rurais, a maior concentração de grandes propriedades, a diminuição das propriedades de agricultura familiar e a maior mecanização explicam a queda, que foi a única relevante nesse grupo.

Na outra ponta, o estudo mostra que os setores de saúde e tecnologia tiveram o maior crescimento de trabalhadores no pós-pandemia.

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