Congresso Nacional: governo deve sofrer retaliações de deputados e senadores depois de Lula vetar projeto que aumenta número de deputados (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 17 de julho de 2025 às 13h35.
Última atualização em 17 de julho de 2025 às 14h26.
Fortalecido com o aumento da popularidade diante do tarifaço dos Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a tensionar a relação com o Congresso Nacional ao vetar o projeto de lei que aumenta o número de deputados de 513 para 531.
A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de revalidar o decreto presidencial que cria novas alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para operações cambiais, de crédito e para a previdência complementar também não foi bem recebida pelo Legislativo.
Apesar de dar fôlego para as contas públicas com uma arrecadação estimada pelo Ministério da Fazenda em R$ 12 bilhões em 2025 e R$ 31,2 bilhões em 2026, o imbróglio da retomada da cobrança do IOF pode não ter sido resolvido. O Congresso ainda pode recorrer da decisão de Moraes e o tema deve ser votado em plenário por todos os ministros do STF.
Na prática, as incertezas fiscais permanecem no radar.
Tanto o veto presidencial quanto a revalidação do IOF chegaram ao conhecimento do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), durante sessão do plenário na noite da última quarta-feira, 16. Em seguida, Motta deixou a cadeira da presidência da para conversar com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).
A reação às decisões do governo e do Judiciário se materializaram com a aprovação de projetos de leis que impõem derrotas a gestão petista e o adiamento na votação de uma proposta que cria 330 funções comissionadas para os gabinetes dos ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Uma das derrotas do governo se deu com a aprovação na Câmara do projeto de lei que permite a renegociação de dívidas de produtores rurais. O texto autoriza a utilização do Fundo Social (FS) com recursos do pré-sal como fonte de recurso para a criação de uma linha especial de financiamento voltada a quitar operações de crédito rural. A proposta ainda fixa um teto de R$ 30 bilhões para o uso do dinheiro do fundo.
O governo era contra a votação da matéria, mas os apelos do líder governista, deputado José Guimarães (PT-CE), e da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, não foram suficientes para impedir a aprovação. O texto segue para votação do Senado, que pode apreciar a matéria após o recesso parlamentar, em agosto.
Em outra derrota, a Câmara aprovou o projeto que dispõe sobre as novas regras para a concessão de licenciamento ambiental no Brasil. O texto segue para sanção presidencial e pode acelerar o processo de exploração de petróleo pela Petrobras na Foz do Amazonas.
Hugo Motta, presidente da Câmara: Casa impôs derrotas significativas ao governo na madrugada desta quinta-feira, 17 ( Marina Ramos/Câmara dos Deputados)
Emenda aprovada no Senado e de autoria de Alcolumbre cria a Licença Ambiental Especial (LAE). Segundo a norma aprovada pelo Legislativo, a autoridade licenciadora estabelecerá condicionantes que deverão ser observadas e cumpridas pela empresa para a operação de atividade, ainda que utilizador de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente causador de significativa degradação do meio ambiente. A medida recebeu críticas contundentes de ambientalistas.
O texto também cria outros seis tipos de licença ambiental, incluindo a Licença por Adesão e Compromisso (LAC), uma das inovações do projeto.
O mecanismo permite a emissão de licença ambiental a partir de simples declaração do empreendedor. A proposta é aplicada a atividades classificadas como de baixo e médio risco, como obras de pavimentação, ampliação de estruturas existentes e dragagens de manutenção.
A LAC se diferencia das demais modalidades por dispensar estudos técnicos detalhados na fase inicial do licenciamento. O empreendedor apenas declara, por meio de formulário eletrônico, que sua atividade se enquadra nos critérios pré-estabelecidos pelo órgão ambiental e se compromete a seguir as normas vigentes.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, é contra o projeto e pressionará Lula para vetar a proposta. Por outro lado, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, são favoráveis ao texto e defendem que a sanção presidencial pode acelerar obras de infraestrutura no país.
A avaliação interna do governo é de que a decisão de Lula de vetar o projeto que aumenta o número de deputados não ficará sem resposta do Congresso. Auxiliares de Lula ouvidos pela EXAME admitem que o veto deve ser derrubado pelo Legislativo.
Além disso, auxiliares de Lula temem que novas pautas-bombas possam ser votadas pelo Legislativo e receiam que os parlamentares não vão se empenhem para votar propostas de interesse do governo.
O recesso parlamentar chegou. Mas a crise entre os Poderes deve seguir forte.