Agora veja países com alta carga para companhias (Stock.xchng)
Panorama Econômico
Publicado em 19 de maio de 2025 às 17h06.
Em março de 2025, o governo brasileiro apresentou uma proposta ambiciosa: ampliar a faixa de isenção do Imposto de Renda para pessoas físicas que ganham até R$ 5 mil por mês. Na prática, isso significa que cerca de 10 milhões de brasileiros deixarão de pagar Imposto de Renda a partir de 2026. A medida tem forte apelo popular — e, de fato, traz alívio para grande parte da população. Mas, como em toda política fiscal, a pergunta inevitável é: quem paga essa conta?
A resposta começa a se desenhar: empresários e empresas brasileiras. E o impacto pode ser maior do que parece.
A nova faixa de isenção representa uma renúncia fiscal estimada entre R$ 25,8 bilhões e R$ 27 bilhões por ano, segundo o Ministério da Fazenda. Para equilibrar o orçamento, o governo já incluiu no pacote de medidas compensatórias:
Pode parecer um movimento restrito, voltado apenas a recursos internacionais. Mas esse é o primeiro passo em uma direção que já foi amplamente discutida no Congresso: tributar dividendos distribuídos no Brasil. E aí está o risco.
Nos anos 90, diante da dificuldade de fiscalizar o uso pessoal dos dividendos e da consequente sonegação, o governo decidiu isentar os dividendos e aumentar a carga sobre as empresas — um modelo que nos levou a ter uma das maiores tributações corporativas do mundo.
Agora, com a tentativa de reverter parte desse modelo para financiar a nova isenção, o risco é trazer de volta o cenário de informalidade, criatividade fiscal e insegurança jurídica. Em outras palavras: a conta da política social pode recair sobre as estruturas empresariais, seja por meio da tributação de dividendos, do aumento de impostos sobre o lucro ou da combinação dos dois.
Diante desse cenário, grupos empresariais com visão de longo prazo já estão se antecipando e adotando uma solução estruturada: a criação de um braço financeiro próprio via estrutura de FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios).
Essa solução vai muito além de uma engenharia tributária. Trata-se de institucionalizar um sistema de financiamento proprietário, capaz de:
A estrutura é regulamentada pela CVM e pelo Banco Central, e pode ser montada da seguinte forma:
Na prática, o lucro volta à empresa por outro caminho — com eficiência tributária, controle e retorno para o acionista. A tributação só ocorre no resgate final, podendo ser diferida por anos.
A proposta de isenção ainda será debatida no Congresso. Mas, mesmo que não seja aprovada em sua totalidade, o sinal já foi dado: a política fiscal está sendo redesenhada, e os dividendos estão novamente na mira. Empresários que esperarem pela mudança oficial podem se ver pressionados por um sistema mais caro e menos previsível.
Por outro lado, aqueles que anteciparem movimentos estruturais e adotarem soluções como o FIDC ganham não apenas proteção, mas também uma vantagem competitiva diante do novo cenário.
O Estado está reorganizando sua contabilidade. Está na hora de sua empresa reorganizar a sua também.
*Ricardo Castro é administrador e head da Potenza Multi Family Office. É formado na Escola Superior de Propaganda e Marketing – ESPM. Iniciou sua carreira no mercado financeiro na Petra Asset e teve passagem por grandes instituições como a Fitch Ratings, XP Investimentos e Rico Corretora. Possui certificação CGA para gestão de recursos de terceiros.