(Global Partners)
Colunista
Publicado em 16 de maio de 2025 às 21h38.
Última atualização em 16 de maio de 2025 às 21h38.
Estabeleci um plano de carreira robusto no qual pude contemplar a realização de empreender, inserido em um segmento bastante notável. Detenho a satisfação de atuar com sustentabilidade e fontes renováveis de energia, pautas urgentes no contexto do mundo atual. Como diretor-presidente da Elastri Engenharia e chief executive officer (CEO) na AXS Energia, sigo com a importante missão de prover soluções que impactem positivamente a sociedade.
Natural de Curitiba, capital paranaense, nasci em 1973. Sou casado com a Carolina, com quem tenho três filhos: Olivia, Gustavo e Miguel. Desde cedo demonstrei alguma vocação para as disciplinas de Exatas e, assim, optei por cursar Engenharia Civil, graduando-me pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 1997.
Além disso, em casa, pude ver meu pai se consolidar como um relevante engenheiro consultor internacional da área de hidrelétricas e barragens. De certa forma, a inspiração para atuar com fontes de energia renováveis se deu também por conta deste fator.
Após graduado, atuei como engenheiro por cerca de 15 anos, em várias empresas, amealhando conhecimentos significativos. Já em 2011, tomei a decisão que alterou definitivamente a minha vida, ao resolver empreender e começar a investir em meus próprios negócios.
A transição bem-sucedida de executivo a empreendedor
Com certeza, o maior desafio da minha vida profissional foi justamente a mudança de posição, passando de executivo a empreendedor, agora como dono de empresa. O dono de empresa é aquela pessoa que não descansa mais, que precisa se preocupar com absolutamente tudo, o tempo todo. Ademais, necessita aprender a conviver com os problemas para solucioná-los com agilidade. São inúmeras tarefas e desafios complexos que acompanham o dia a dia de qualquer empresa, independentemente do tamanho ou do ramo de atuação.
Comecei empreendendo em dois movimentos paralelos, ao me tornar sócio da Seta – agora conhecida como Elastri – empresa, na época, já com mais de 30 anos de existência. Passei a ter posição societária dentro desta instituição consolidada no mercado.
Ao mesmo tempo, resolvi investir e criar a Araxá Solar, startup de energia solar, sediada em Florianópolis, capital catarinense. Logo assumi a responsabilidade de lidar com as duas empreitadas concomitantemente, sendo que se tratava de desafios completamente distintos.
Por um lado, havia a necessidade de conviver com sócios, de compreender as responsabilidades de ser dono de uma empresa com milhares de funcionários e uma estrutura operacional bastante madura. Por outro lado, já na startup, junto com meu sócio e amigo Paulo Afonso Foes, partimos absolutamente da estaca zero, com uma ideia que parecia boa, mas com parcos investimentos.
Enfim, na Araxá Solar, porventura, precisávamos de um terceiro sócio-investidor, que entrou dois anos depois do início das operações. Por sorte, essa empresa nasceu inserida em um nicho que somente cresceu, abarcando energia solar e outras fontes renováveis.
Meu sócio e eu começamos a empresa com somente 20 mil reais. Com a entrada do terceiro sócio e um aporte de 2,5 milhões de reais, a companhia passou a crescer consistentemente. Ainda nesses anos iniciais, chegamos a estabelecer uma parceria para atuar no mercado de varejo solar com uma das maiores multinacionais de energia do mundo.
Detemos a maior empresa de engenharia solar do Brasil, a que mais projeta usinas do nicho. E isso é bacana, pois começamos praticamente da estaca zero e atualmente somos líderes de mercado, seguindo em franca ascensão e já preparando a internacionalização da empresa. Enfim, o que mais me motiva é saber que acertamos em cheio ao escolher o setor de investimento, pois, sem dúvida, será por meio das energias renováveis que os principais problemas de sustentabilidade do Brasil e do mundo serão resolvidos.
Todavia, passei a ser um empreendedor quando já detinha bastante experiência profissional, aos 38 anos. Quando tomei esse caminho, o Brasil encontrava-se em um momento muito pujante economicamente, pois havia passado por um ciclo de estabilidade econômica e crescimento bastante grande, iniciado com o bem-sucedido Plano Real, em meados dos anos 1990.
Depois da estabilização da economia, notei como muitas oportunidades estavam sendo criadas no país. Sabia que, caso não desse certo, poderia regressar ao setor privado, haja vista como havia edificado uma sólida jornada até então.
Não nasci com a veia empreendedora, nem com referências em casa ou na família, contudo, certamente fui aprendendo com o tempo – pude assimilar muitos exemplos positivos e negativos até decidir empreender. Todas as experiências vivenciadas, a bagagem, foram fundamentais para dar este passo, inclusive para tomar decisões mais racionais e cadenciadas.
A relevância da transição energética em prol de um mundo melhor
Em meus 25 anos de jornada profissional, praticamente, dediquei-me ao setor de energia limpa, englobando hidrelétricas, usinas eólicas e solares. Foi uma grande sorte ter encaixado a carreira em uma trilha no que há de mais importante do ponto de vista ambiental: trabalhar com a pauta da sustentabilidade.
Ao se investir em energias limpas e sustentabilidade, há um impacto positivo direto nos problemas ocasionados pelo aquecimento global, tais como o aumento do nível dos oceanos, as mudanças climáticas drásticas e os demais fatores ocorridos com bastante velocidade nos últimos anos. E a solução é apostar na transição energética acelerada. Enfim, definitivamente parece que estamos no caminho certo.
Existem três grandes detratores do meio ambiente relacionados ao tema de gases do efeito estufa e emissão de CO2 na atmosfera.
O primeiro é a própria produção de energia, ou seja, requer substituir o carvão e o óleo combustível por energia limpa. Isso elimina quase metade da poluição. O segundo grande detrator são os combustíveis que abastecem carros, caminhões, aviões e navios, cuja tendência é serem substituídos por energia elétrica, hidrogênio verde e seus derivados, dos quais a fonte primária sempre será energia solar e/ou eólica.
Já o terceiro agente detrator são os processos industriais que, historicamente, obtêm calor e vapor a partir de fontes fósseis. E a busca pela eletrificação desses processos também já é uma meta relevante da indústria global.
O Brasil é um dos principais países do mundo em matéria de potencial de energias renováveis, então, para nós, é uma mina de ouro. Temos uma radiação solar privilegiada para a produção de energia elétrica e, inclusive, podemos ser um autêntico celeiro de produção de hidrogênio verde.
O Brasil já vem se destacando como um grande agente da transição energética global. Atualmente, já existem mais de dois milhões de residências e estabelecimentos de pequeno porte, de diferentes setores, que compram diretamente sua energia solar de pequenas usinas espalhadas pelo país.
Visão estratégica, comunicação efetiva e resiliência são essenciais
O perfil do líder de sucesso deve contar com três diferenciais inegociáveis. Primeiro, quem está à frente de uma empresa precisa ser capaz de compreender com clareza a visão estratégica do negócio, compreender o todo, para estar devidamente preparado para atingir as metas predeterminadas e conviver com as inevitáveis mudanças de rota que surgirão no caminho.
O segundo diferencial diz respeito à comunicação, em que o líder precisa ser o principal agente neste quesito. Gosto de associar comunicação com simplicidade, no ato de se fazer entender com bastante clareza, sem complicações e pautado na eficiência. Isso demanda assertividade, e é válido tanto internamente, na organização, quanto externamente, para o mercado.
Já o terceiro ponto abarca a questão da resiliência. Apesar de admirar, não me inspiro muito naqueles empreendedores geniais, com ideias brilhantes. Aprecio pessoas que fizeram a sua vida pelo trabalho duro: em uma analogia esportiva, nomes como o de Bernardinho e Oscar Schmidt são ótimos exemplos. Eles são indivíduos que fazem questão de enfatizar que o sucesso veio como fruto de trabalho árduo, resiliência e ética, e não apenas por talento, sorte ou herança.
Em suma, a visão estratégica, a comunicação eficiente e a resiliência são os três principais atributos da liderança contemporânea.
Trabalhei em várias empresas, sendo que o meu primeiro emprego foi como tecnologista de concreto em um laboratório. Publicava artigos técnicos, como um jovem cientista. Ali, aprendi que gostava mais de gestão e administração, e fui direcionando a minha carreira para esse lado.
A partir daí, fui para os Estados Unidos para um mestrado em Construction Engineering Management na Oregon State University, em 2000. Nesta etapa, mesclei a temática do negócio com a construção – algo que não havia aprendido na faculdade. Percebi como gostava dos negócios, e migrei para outra empresa para ser gerente de projetos, à frente do controle de orçamentos, obras, pessoas, até me tornar diretor, vice-presidente, edificando uma jornada executiva na corporação.
Além do esforço, existe o fator sorte – algo que tive em abundância em minhas empreitadas. Mas é preciso buscar a sorte, sem jamais esperar que a oportunidade surja sem esforço. A partir daí, é necessário agir com grande intensidade e resiliência, moldando o projeto profissional que vai se desenvolvendo aos poucos.
Para quem pretende sair da faculdade para empreender, aconselho a ter a convicção de que o início será bem mais difícil do que se pensa, porque muitos obstáculos inevitáveis surgirão. A curva de aprendizado existe para todos – o começo de qualquer jornada, para qualquer um, em qualquer área, é complexo e difícil.
Na definição do planejamento estratégico de um novo negócio, o empreendedor precisa de convicção, otimismo e ousadia, mas ele deve ter sempre uma atitude conservadora na definição das etapas iniciais. Esse entendimento certamente foi essencial, no meu caso.
O espírito de equipe deve prevalecer para que todos vençam
Há vários casos que me inspiram, como os que citei sobre personalidades do mundo esportivo. O valor de edificar uma trajetória com muito trabalho é uma questão de se inspirar em boas pessoas, em bons casos de sucesso, para poder contar com excelentes referências, algo que é alicerçado ao longo do dia a dia.
Particularmente nos dias ruins, costumo dizer: “Tudo passa”, porque os momentos difíceis existirão, por isso é preciso prosseguir com resiliência, tendo em mente que os episódios de baixa compõem a trajetória e são inevitáveis. Essa é minha maneira de controlar momentos indesejados – não raro, o indivíduo sai muito mais fortalecido ao superar um obstáculo.
Em relação aos predicados, saliento como o indivíduo precisa contar, fundamentalmente, com o espírito de equipe. As pessoas têm de entender que no mundo dos negócios o sucesso individual deriva do empenho coletivo, ou seja, requer o trabalho colaborativo. De nada adianta ser um gênio, caso não consiga se adaptar ao ambiente.
Além disso, é imprescindível conseguir contar com a capacidade de aprender constantemente, porque é um processo permanente ao longo de toda a vida. Enfim, quem busca por novos conhecimentos com afinco estará à frente dos demais neste mercado tão concorrido. É uma característica difícil de se identificar nas entrevistas de trabalho, mas no cotidiano logo se nota quem detém tais habilidades.
Supere a ansiedade para planejar a carreira adequadamente
A carreira é permeada por um ciclo muito longo, e muitas vezes as pessoas idealizam projetos de curto prazo, sem pensar em realizações futuras. É comum verificar que o indivíduo se encontra no início da vida profissional, mas já mira o objetivo final – é um erro pensar assim. Compreender como a jornada é marcada por inúmeras experiências torna-se fundamental, portanto, exige estabelecer metas tangíveis.
Os dez primeiros anos da carreira devem servir para adquirir conhecimento em áreas distintas. O profissional em início de carreira não deve ser atraído apenas por cargos ou ganhos materiais. Ao final desse ciclo de dez anos, com uma bagagem rica e diversificada, aí sim será o momento de escolher e consolidar uma trajetória profissional de sucesso.
No mundo corporativo, está muito claro que a nova geração possui uma ansiedade bem grande. Todavia, em uma de nossas empresas, vejo um movimento distinto. Convivo com engenheiros recém-formados com vontade de conhecer o plano de carreira e as oportunidades futuras na empresa, com o propósito de construir a jornada profissional com calma. Na Engenharia, particularmente, noto os jovens com bastante resiliência, sem tanta ansiedade.
Em contrapartida, vivemos em uma época na qual em vários segmentos predomina o intuito de alcançar resultados rapidamente, pulando etapas fundamentais, algo que considero ser prejudicial no longo prazo.
Por fim, aos que pretendem empreender, costumo aconselhar ainda a ter o domínio completo de finanças corporativas e contabilidade – caso contrário, não dará certo. É fundamental contar com uma base sólida e, se necessário, somando com a ajuda de sócios que entendam do assunto. Não embarque numa jornada empreendedora apenas com uma boa ideia.
Aos jovens empreendedores, meu conselho é: sejam otimistas. O Brasil é um país de proporções continentais, espetacular sob todas as perspectivas. Detemos recursos naturais gigantescos, uma indústria sólida e potencial de crescimento em praticamente todos os setores e regiões do país. Somos uma potência! Ao se formarem, fiquem entusiasmados para conquistar as suas oportunidades, pois precisamos de jovens empreendedores, que queiram ocupar os espaços – algo que não falta.
A vida é um longo filme. Não se deixem levar por fotos estáticas ou recortes históricos muito curtos. Isso forjará tomadas de decisões limitadas e restringirá o potencial do seu futuro profissional. Pensem grande e sejam ousados. O nosso país agradecerá por isso.