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Vivemos na última geração que lidera apenas pessoas

Com agentes de IA cada vez mais avançados, as lideranças precisarão aprender a equilibrar a gestão do potencial humano com a do tecnológico

Breno Barros - CTO da Falconi (Falconi)

Breno Barros - CTO da Falconi (Falconi)

Breno Barros
Breno Barros

CTO da Falconi

Publicado em 16 de maio de 2025 às 13h40.

Última atualização em 16 de maio de 2025 às 13h46.

Por Breno Barros, CTO e VP de Soluções Digitais da Falconi
As lideranças estão prestes a atravessar um divisor de águas. Se os líderes de hoje ainda operam com foco exclusivo em equipes com humanos, é possível que sejam os últimos a fazê-lo. Estamos entrando em uma era em que os executivos precisarão gerenciar não apenas profissionais, mas também agentes de inteligência artificial (IA) — sistemas autônomos que percebem, aprendem, decidem e agem com base em objetivos organizacionais.
Ao contrário dos modelos tradicionais de software, os agentes de IA são adaptativos e proativos. Estão cada vez mais presentes em funções como atendimento automatizado, operações financeiras, otimização logística e até desenvolvimento de software. Segundo pesquisa do Gartner, até 2027, 25% das tarefas empresariais críticas serão executadas por agentes autônomos operando em ambientes controlados por humanos.
Essa transição, silenciosa para muitos, é estrutural. Impõe a necessidade de revisar o que entendemos como “liderança” e “gestão”, tanto no plano técnico quanto no plano ético, organizacional e até filosófico.
Liderar essas entidades não se resume a “monitorá-las”. Trata-se de garantir alinhamento de objetivos, assegurando que os agentes otimizem aquilo que realmente importa para a organização, evitando distorções ou comportamentos emergentes indesejados.
Além disso, precisamos de transparência algorítmica, para evitar o desconhecido por meio do uso de ferramentas de Explainable AI (XAI) e sistemas de auditoria em tempo real. E em ambientes operacionais distribuídos, como cadeias de suprimentos, a coordenação entre múltiplos agentes é crítica para evitar conflitos e garantir eficiência.
Mais um ponto importante: a performance e confiabilidade desses sistemas exigem métricas adequadas e processos contínuos de adaptação. A segurança e a resiliência também são indispensáveis, com proteção contra manipulações e falhas por extrapolação. No campo operacional, o controle de custos e a sustentabilidade dependem da adoção de práticas como FinOps, modularidade e revisão contínua. Vale reforçar: questões éticas e sociais não podem ser negligenciadas. É preciso mitigar vieses, evitar decisões moralmente ambíguas e preservar a confiança pública. Esses não são dilemas teóricos — são fatores determinantes para o sucesso (ou fracasso) da estratégia digital em qualquer organização.
No livro “O Verdadeiro Poder”, Vicente Falconi afirma que “liderar é bater meta”. Na era da IA, liderar será bater metas com responsabilidade algorítmica, escalabilidade computacional e impacto social positivo. E a essência da liderança continua válida em seus três pilares: liderança como meio de atingir resultados, agora incluindo agentes autônomos como “liderados” digitais, exigindo clareza de propósito e novos instrumentos de supervisão. Conhecimento técnico, incluindo noções sobre aprendizado de máquina, limites operacionais e implicações éticas dos sistemas. E método como caminho para a excelência, com ciclos contínuos de iteração e validação, integrando engenharia, compliance e desempenho.
Segundo a Forrester, muitas organizações falham ao introduzir IA por não definirem claramente os papéis e as responsabilidades de seus líderes técnicos. Isso reforça a tese de que a liderança futura será inevitavelmente híbrida: técnica, ética e humana. Balancear decisões humanas e ações autônomas será fundamental. A governança da IA não será uma função isolada — será parte central do exercício da liderança.
A transição para um modelo de liderança que integra pessoas e agentes não é uma escolha — é uma inevitabilidade. Os executivos que hoje ignoram esse movimento podem se tornar ineficazes diante da complexidade do futuro. Estamos diante de um novo contrato de liderança. Um contrato em que o líder precisa entender o funcionamento das máquinas, definir seus limites e, acima de tudo, garantir que essas máquinas estejam a serviço do que realmente importa: resultados sustentáveis, humanos e éticos.
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