Oppenheimer: físico é conhecido como 'pai' da bomba atômica (ullstein bild/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 17 de julho de 2025 às 08h32.
J. Robert Oppenheimer, o físico que ficou mundialmente conhecido como o “pai da bomba atômica”, teve uma trajetória marcada por intensa dedicação intelectual, hábitos de vida excêntricos e momentos de profundas crises emocionais.
Sua rotina diária era uma mistura de concentração obsessiva nos estudos, poucas horas de sono e envolvimento profundo com seus alunos, enquanto enfrentava dilemas internos e desafios pessoais ao longo de sua vida acadêmica e profissional.
Desde seus primeiros anos em Harvard, Oppenheimer se destacou pela sua capacidade de concentração e disciplina. Para compensar um ano de atraso devido a problemas de saúde, ele se dedicou a um número de disciplinas superior ao usual, realizando seis por semestre, enquanto o padrão era de quatro. Concluiu o curso em apenas três anos, um feito impressionante para alguém tão jovem. Durante essa fase, Oppenheimer se dedicava intensamente aos estudos, muitas vezes se isolando do mundo exterior para estudar temas complexos da física, como a constante de Planck.
Esse comportamento não era uma exceção, mas parte de um padrão que o acompanharia ao longo de sua vida. Era conhecido por passar semanas inteiras trancado em seu quarto, imerso em leituras de física ou textos clássicos em seus idiomas originais, o que se tornava um marco em sua dedicação intelectual. Tal intensidade não passou despercebida para seus colegas, que o viam como um ser introspectivo e, em muitos casos, um gênio excêntrico.
A rotina de estudos de Oppenheimer não era acompanhada de cuidados com sua alimentação. Durante o período em que estava em Harvard, ele tinha uma dieta simples e pouco balanceada, baseada principalmente em torradas com pasta de amendoim, chocolate e cerveja. Esse padrão alimentar irregular se manteve ao longo de sua vida, e sua alimentação nunca foi uma prioridade.
Em momentos de intensa concentração, Oppenheimer frequentemente se esquecia de comer. Seu envolvimento com a ciência era tão profundo que ele negligenciava até mesmo necessidades básicas, como alimentação e descanso, tornando-se um exemplo clássico de como a obsessão pela ciência poderia levar ao esgotamento físico e emocional.
Como professor e pesquisador, Oppenheimer mantinha uma agenda diária de reuniões com seus alunos de pós-graduação e pós-doutorado. Era conhecido por sua participação ativa nas discussões científicas, sempre buscando entender e aprofundar os projetos de pesquisa de seus alunos. Ele incentivava debates intensos sobre descobertas científicas e investia seu tempo no acompanhamento próximo de suas investigações.
Sua liderança no laboratório de Los Alamos, durante o Projeto Manhattan, era igualmente intensa. Ele não se limitava ao cargo de diretor, mas estava presente em todos os momentos cruciais dos experimentos, das reuniões e das decisões. Sua forma de trabalhar era muito mais participativa do que administrativa, com um comprometimento que fazia com que sua presença fosse fundamental no andamento das pesquisas e dos avanços científicos.
Apesar da rotina intensa, Oppenheimer também buscava formas de aliviar a pressão com momentos de lazer e reflexão. Em suas raras pausas, ele se dedicava a passeios a cavalo e caminhadas pelo deserto do Novo México, onde comprou um rancho. Esse espaço se tornava um refúgio pessoal, onde ele podia encontrar a tranquilidade necessária para refletir e processar as complexas questões científicas que dominavam sua vida.
Além disso, Oppenheimer enfrentava sérios problemas emocionais ao longo de sua vida. Periodicamente, ele passava por episódios depressivos, sendo descrito por alguns colegas como autodestrutivo. Uma das formas de lidar com essas crises era por caminhadas solitárias e da leitura de textos místicos do Oriente, especialmente em sânscrito, que lhe ofereciam uma sensação de compreensão mais profunda de seu próprio ser e do mundo ao seu redor.
Sua rotina tornou-se ainda mais exigente durante sua liderança no Projeto Manhattan. Nesse período, ele era o centro das decisões, sendo responsável por orientar o rumo das pesquisas e tomar decisões fundamentais para o desenvolvimento da bomba atômica. Sua jornada diária era uma verdadeira maratona de reuniões, investigações científicas e desafios administrativos. Oppenheimer, que já enfrentava problemas com alimentação e sono, parecia imune ao cansaço, focado na importância de sua missão.
A combinação de trabalho intenso, comprometimento com a ciência e os momentos de crise emocional tornaram sua figura ainda mais complexa. Oppenheimer não apenas participou da criação da bomba atômica, mas viveu os dilemas pessoais e morais decorrentes de sua invenção. Sua rotina era marcada pela obsessão pela física, mas também por uma constante busca por equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.