Península de Nicoya, na Costa Rica, é uma das Zonas Azuis onde a longevidade é mais notável (Gerardo Vieyra/NurPhoto via Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 19 de julho de 2025 às 17h53.
Quando o relógio marca 4 horas da manhã na Península de Nicoya, na Costa Rica, os moradores mais longevos do planeta já estão a caminho da cozinha. O cheiro de café fresco ao calor dos fornos a lenha, acesos para preparar o primeiro e mais importante momento do dia: o café da manhã.
Esse café da manhã simples, mas poderoso, é apontado por Dan Buettner, pesquisador de longevidade e estudioso das chamadas Zonas Azuis, como um dos maiores responsáveis pela saúde e longevidade da população local.
A alimentação de Nicoya é bem mais simples do que se parece. Não há nada de mirabolante: os alimentos são frescos e a população faz esforço para evitar o consumo de itens processados. É esse um dos maiores segredos da região — e poderia, sem dúvidas, ser considerada o "café da manhã mais saudável do mundo".
Segundo Buettner, a alimentação de Nicoya é composta por tortilhas de nixtamal — massa de milho demolhada e parcialmente cozida com cinzas de madeira ou cal antes de ser moída — com feijão temperado, pimentão, arroz, cebola e ervas frescas. O café é local, torrado e moído pela comunidade, e acompanha a refeição.
O especialista em longevidade provou o café da manhã de Nicoya na série documental "Vivendo 100 anos", disponível na Netflix.
Há um motivo para que essa seja considerada uma das refeições mais saudáveis, além do uso de produtos frescos: o prato tem carboidratos complexos com baixo índice glicêmico, o que permite que a energia seja liberada gradualmente, sem picos de açúcar no sangue. O arroz e as leguminosas usadas também tem altos índices de magnésio, ferro, cálcio e potássio, essenciais para manter a boa forma.
Os demais elementos proteicos, trazem maior sensação de saciedade, o que ajuda a não "beliscar" ao longo do dia. Isso sem contar que a tortilha tem ainda vitaminas do complexo B, que ajudam a combater o envelhecimento.
Ao longo dos últimos 20 anos, Dan Buettner dedicou-se a estudar essas áreas no planeta onde as pessoas vivem mais e com qualidade de vida invejável. Além de Nicoya, essas regiões incluem lugares como Sardenha (Itália), Icaria (Grécia), Okinawa (Japão) e Loma Linda (EUA).
Em todas elas, há um padrão comum que permeia a vida dos habitantes, e o que mais chama atenção é a alimentação: uma dieta focada em produtos locais e, principalmente, em preparações simples, longe dos alimentos ultraprocessados que dominam os cardápios ocidentais.
Mas na Península de Nicoya, o segredo vai além do que é comido: a atividade física leve, os fortes laços comunitários e a rotina estruturada, que inclui horas de descanso e conexão com a natureza, fazem toda a diferença. Ao contrário das grandes cidades, onde o estresse e a correria ditam o ritmo, Nicoya oferece um ambiente de harmonia, em que a interação social e o tempo para si mesmo são fundamentais.
Esse estilo de vida, que mistura saúde, simplicidade e conexão, foi o que permitiu que Nicoya se tornasse um modelo mundial de longevidade. A expectativa de vida da população local supera os 90 anos, com uma qualidade rara de se ver em outros lugares do mundo.
Em um mundo cada vez mais acelerado e voltado para a conveniência, o que podemos aprender com a rotina da Península de Nicoya é simples: a longevidade não está apenas na genética, mas nos hábitos que cultivamos todos os dias. O café da manhã da Costa Rica não é só uma refeição, mas um símbolo de como um estilo de vida mais natural pode ser a chave para viver bem e por muito mais tempo.