Um pequeno grupo de editores pode estar facilitando a aprovação dessas publicações com fraude (Banco de imagens/Getty Images)
Redatora
Publicado em 11 de agosto de 2025 às 20h17.
Enquanto o número total de artigos científicos dobra a cada 15 anos, a quantidade de artigos fraudulentos duplica a cada 1,5 ano desde 2010, apontou a pesquisa liderada pelo físico Luís Nunes Amaral, da Universidade Northwestern, e publicado na revista PNAS.
A fraude não vem apenas de pesquisadores isolados. Empresas conhecidas como "fábricas de papel" criam artigos falsos, muitas vezes com auxílio de inteligência artificial, e vendem a autoria para acadêmicos que querem aumentar suas publicações.
A análise de Amaral revelou que um pequeno grupo de editores pode estar facilitando a aprovação dessas publicações com fraude.
Os pesquisadores examinaram dados da PLOS ONE, uma das maiores revistas científicas, que publica cerca de 277 mil artigos desde 2006. Entre esses, 702 foram retratados e 2.241 receberam alertas no site PubPeer. O estudo identificou 45 editores responsáveis por uma parcela desproporcional de artigos retratados — eles gerenciam apenas 1,3% das submissões, mas estiveram por trás de 30,2% das retratações.
Além disso, mais da metade desses editores tinha artigos próprios retratados e muitas vezes atuavam como editores nos próprios trabalhos, levantando suspeitas de conluio para contornar revisões rigorosas.
Embora os nomes dos editores não tenham sido revelados no estudo, a revista Nature investigou e identificou cinco deles, todos afastados entre 2020 e 2022 pela PLOS ONE. Eles negaram irregularidades.
Especialistas alertam para o risco de artigos falsos permanecerem no registro científico, especialmente em áreas médicas, onde podem influenciar diretrizes clínicas e tratamentos.
Um estudo recente mostrou que revisões que incluem evidências retratadas têm entre 8% e 16% de conclusões incorretas. A pesquisa destacou que o problema persiste porque o sistema acadêmico valoriza a quantidade de publicações e citações, criando incentivos para fraudes. Ao mesmo tempo, algumas editoras lucram com o volume de artigos aceitos.
A pressão por maior rigor aumenta: bases de dados como Scopus e Web of Science podem excluir periódicos que não mantêm padrões confiáveis, afetando sua reputação.
Nandita Quaderi, editora-chefe da Web of Science, afirma que "se conteúdos não confiáveis não forem retratados, o periódico perde acesso às bases de dados".