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Rio Grande do Sul abrigou um dos dinossauros mais antigos do mundo, diz pesquisa

Reanálise de fósseis revelou nova espécie batizada de Itaguyra occulta em Santa Cruz do Sul

Itaguyra occulta: imagem gerada com IA representando espécie 
 (Feito com Inteligência Artificial )

Itaguyra occulta: imagem gerada com IA representando espécie (Feito com Inteligência Artificial )

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 4 de junho de 2025 às 08h50.

Última atualização em 4 de junho de 2025 às 15h57.

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Um novo dinossauro foi identificado por pesquisadores brasileiros e argentinos, chamado Itaguyra occulta, a partir de fósseis encontrados em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul. O dinossauro viveu há cerca de 237 milhões de anos, no período Triássico, e teve sua descoberta divulgada na revista Scientific Reports, da Nature.

Os fósseis, que estavam armazenados há décadas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foram inicialmente classificados como pertencentes à classe dos Cinodontes, animais próximos dos mamíferos, mas sem relação direta com os dinossauros.

Mas uma reanálise detalhada foi realizada pelos paleontólogos Voltaire Paes Neto (UFRGS) e Agustín G. Martinelli, do Museo Argentino de Ciencias Naturales. Essa reavaliação levou à descoberta de características típicas dos Silessauros, um grupo de dinossauros primitivos. Entre as características encontradas estavam ossos específicos da cintura pélvica, fundamentais para a identificação da nova espécie.

O Itaguyra occulta é agora considerado uma contribuição importante para o entendimento da diversidade de dinossauros que existiam no Triássico, período fundamental para a evolução dos répteis e a formação dos dinossauros modernos.

De onde eles vêm?

Os Silessauros são tradicionalmente considerados parentes próximos dos dinossauros, mas pesquisas recentes indicam que pertencem à linhagem dos Ornitísquios primitivos, dinossauros quadrúpedes, onívoros ou herbívoros de porte pequeno a médio que viveram no final do Triássico. Com isso, o Itaguyra occulta se posiciona entre os dinossauros mais antigos do mundo.

O estudo sugere uma presença contínua dos Silessauros na América do Sul durante o período Triássico, compreendido entre 240 e 233 milhões de anos, uma fase pouco documentada.

Voltaire Paes Neto, pesquisador do Museu Nacional/UFRJ e autor principal da pesquisa, afirma que a descoberta preenche uma lacuna temporal importante e reforça a hipótese de que os Silessauros podem ser os primeiros representantes dos Ornitísquios. Caso confirmada, essa hipótese posiciona o Itaguyra occulta como um dos dinossauros mais antigos conhecidos.

A importância para a paleontologia brasileira

O nome da espécie reflete sua origem e história: Itaguyra une palavras do tupi que significam "pedra" e "ave", enquanto occulta refere-se ao fato de os fósseis terem ficado "escondidos" por décadas. Uma escultura em tamanho real do dinossauro está em exposição no Museu de Paleontologia Irajá Damiani Pinto, localizado no Campus do Vale da UFRGS, que concentra o núcleo de Paleontologia do projeto Geoparque Vale do Rio Pardo.

Heitor Francischini, professor do Departamento de Paleontologia e Estratigrafia da UFRGS e coautor do estudo, destaca que a pesquisa contribui para compreender a fauna, o ambiente e o clima do passado do Rio Grande do Sul, informação essencial para o entendimento da dinâmica da Terra e da vida ao longo do tempo.

O estudo também pode avançar o conhecimento sobre a origem das duas principais linhagens de dinossauros: os Saurísquios e os Ornitísquios, cuja origem ainda permanece um enigma para a ciência, segundo Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional/UFRJ e coautor do artigo.

A pesquisa foi conduzida por um grupo de especialistas do Museu Nacional/UFRJ, UFRGS, Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia (CAPPA-UFSM), Universidade Federal do Pampa (UNIMPA) e Museo Argentino de Ciencias Naturales, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e do projeto INCT-Paleovert.

*Com O Globo e Agência Brasil. 

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