Cientistas localizam a "matéria perdida" do universo, escondida como gás tênue entre as galáxias ( Jack Madden, IllustrisTNG, Ralf Konietzka, Liam Connor / CfA)
Redação Exame
Publicado em 17 de junho de 2025 às 06h34.
O universo é composto por dois tipos principais de matéria: a misteriosa matéria escura, que só é identificada pelos efeitos gravitacionais em larga escala, e a matéria comum, formada por átomos e que compõe tudo o que vemos, de estrelas a planetas e até mesmo coisas cotidianas como a massa de biscoito e canoas.
Embora a matéria comum corresponda a aproximadamente 15% de toda a matéria no universo, os cientistas nunca souberam exatamente onde ela estava, com uma parte significativa ainda não explicada.
Recentemente, porém, uma descoberta importante foi feita: o que faltava estava espalhado como um gás muito fino e difuso entre as galáxias, visível por meio de seu impacto nas ondas de rádio que viajam pelo cosmos, segundo estudo publicado na Nature.
Essa "matéria perdida" foi identificada graças a um fenômeno conhecido como rajadas rápidas de rádio (FRBs), pulsos intensos de ondas de rádio que vêm de pontos distantes do universo.
A dispersão dessas ondas ao atravessar o espaço é diretamente influenciada pela quantidade de matéria que encontra pelo caminho, permitindo aos cientistas medir com precisão a distribuição dessa matéria. Essa técnica revelou a presença da matéria comum onde antes ela estava oculta: como um gás rarefeito no meio intergaláctico, uma espécie de névoa invisível entre as galáxias.
A confirmação da existência dessa matéria faltante é um marco importante. O estudo, que utilizou dados de 69 FRBs localizadas a distâncias de até 9,1 bilhões de anos-luz, revelou que grande parte da matéria comum está no espaço entre as galáxias, com uma pequena parte em halos ao redor delas, como o nosso próprio halo galáctico.
A matéria comum é composta por bárions — as partículas subatômicas que formam os átomos.
Embora o universo seja dominado pela matéria escura, que permanece misteriosa, a matéria comum sempre foi bem compreendida, mas sua localização exata era um enigma. Agora, com a resposta encontrada, os cientistas podem avançar para entender melhor o que compõe a matéria escura e como ela interage com o restante do universo.
A descoberta foi possível graças a um conjunto de 110 telescópios do Observatório de Rádio Owens Valley, na Califórnia, que captaram as FRBs.
Esses sinais de rádio, além de fornecerem dados sobre a matéria comum, também ajudam os cientistas a entender melhor o comportamento das estrelas de nêutrons e os buracos negros supermassivos, cujos processos energéticos contribuem para a dispersão dessa matéria.
A nova pesquisa nos leva a refletir sobre como esses gases foram jogados para fora das galáxias em processos violentos como explosões de supernovas ou pela atividade de buracos negros que "expulsam" material.
O estudo revela que, embora o universo pareça ser um grande aglomerado de estrelas e galáxias, ele está, na verdade, repleto de uma vasta "rede" de matéria espalhada que, até agora, estava oculta em sua maior parte. Com a matéria comum agora mapeada, a próxima fronteira será descobrir mais sobre a misteriosa matéria escura e como ela se encaixa nesse vasto quebra-cabeça cósmico.