Adoçantes sintéticos de baixa ou nenhuma caloria: uso regular pode acelerar a perda de memória (ThinkStock)
Redatora
Publicado em 10 de outubro de 2025 às 09h30.
As redes sociais estão repletas de vídeos alertando sobre o consumo excessivo de açúcar, que contribui para o aumento de casos de diabetes tipo 2, obesidade e outras doenças crônicas. Dados do Ministério da Saúde mostram que o brasileiro consome, em média, 80 gramas de açúcar por dia, enquanto a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) varia entre 25 e 50 gramas.
Uma das principais alternativas para reduzir a ingestão do carboidrato é o uso de adoçantes. Entre os naturais, obtidos de plantas, frutas e vegetais, estão estévia, tagatose e eritritol. Já os artificiais, criados em laboratório e conhecidos por oferecer sabor doce com poucas calorias, incluem tipos como aspartame, sacarina e sucralose. Mesmo assim, o consumo dos produtos sintéticos exige cautela.
Apesar das promessas de “zero calorias” — o que atrai quem busca emagrecimento ou reeducação alimentar, mas ainda quer manter o sabor doce —, especialistas alertam que é preciso moderar o consumo de adoçantes artificiais.
Um estudo da Universidade de São Paulo (USP), publicado na revista Neurology, indicou que o uso regular de adoçantes sintéticos de baixa ou nenhuma caloria pode acelerar a perda de memória e a fluência verbal. A pesquisa acompanhou mais de 12 mil pessoas por oito anos e encontrou associação entre o consumo de aspartame, sacarina, acessulfame-K, eritritol, sorbitol e xilitol e o declínio cognitivo.
Os participantes com mais de 35 anos foram divididos em três grupos, de acordo com a frequência de consumo. Aqueles que ingeriam adoçantes com mais frequência apresentaram 35% e 61% maior taxa de declínio cognitivo e 110% e 173% de perda na habilidade verbal. Entre os compostos testados, apenas a tagatose não mostrou relação com a piora da saúde.
Segundo os pesquisadores, os resultados alarmantes se devem à neurotoxicidade e neuroinflamação provocadas por metabólitos — substâncias resultantes das reações metabólicas dos adoçantes sintéticos.
Para quem busca substituir o açúcar com foco na perda de peso, a OMS não recomenda o uso de adoçantes artificiais. Em um alerta publicado em 2023, a organização afirmou que essas substâncias não são essenciais na dieta e não oferecem valor nutricional significativo. A orientação é priorizar bebidas naturalmente adoçadas, como sucos de frutas sem adição de açúcar.
Um estudo da PubMed Central, publicado pela National Library of Medicine, aponta que os adoçantes sintéticos podem impactar negativamente a saúde gastrointestinal e neurológica, provocando dores de cabeça e alteração do paladar. O consumo regular também está associado a maior risco de doenças cardiovasculares e acidente vascular cerebral (AVC).
O aspartame, presente em refrigerantes “zero” ou “diet”, foi ligado a um aumento de 15% no risco de todos os tipos de câncer, segundo pesquisa publicada na PLOS Medicine. Consumidores de refrigerante zero também devem ficar em alerta para maior risco de gordura no fígado, conforme nova pesquisa. Outros estudos relacionam os adoçantes a alterações na microbiota intestinal, ganho de peso e intolerâncias gastrointestinais.
As recomendações de consumo variam conforme o tipo de adoçante. O aspartame, por exemplo, deve ser ingerido em até 40 mg por quilo de peso corporal por dia, segundo a OMS. Já o eritritol tem limite de 40 gotas diárias, independentemente do peso do consumidor.
Reduzir o consumo de adoçantes pode não ser tarefa fácil, mas pequenas mudanças diárias, como diminuir gradualmente a quantidade utilizada, facilitam o processo a longo prazo e contribuem para uma relação mais equilibrada com o sabor doce.