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O futuro da arte brasileira: Antonia Bergamin comenta tendências do mercado

Bergamin é marchand e sócia da galeria Galatea junto a Conrado Mesquita e Tomás Toledo

Antonia Bergamin: sócia da Galeria Galatea (Leandro Fonseca/Exame)

Antonia Bergamin: sócia da Galeria Galatea (Leandro Fonseca/Exame)

Júlia Storch
Júlia Storch

Repórter de Casual

Publicado em 6 de outubro de 2025 às 09h16.

Última atualização em 6 de outubro de 2025 às 09h17.

As estratégias de vendas das galerias brasileiras não se resumem mais a somente feiras internacionais, pelo menos é o caso da Galatea, inaugurada em 2022 em São Paulo. A galeria passou a olhar para feiras regionais no Centro-Oeste e Nordeste, em uma tentativa de ir até o cliente.

Com outra unidade em Salvador inaugurada há dois anos, a galeria se tornou referência ao promover uma curadoria que mistura tradição e contemporaneidade, apresentando artistas para colecionadores e novos investidores no mercado de arte. A escolha da cidade como a segunda base da galeria se deu por afinidade e vínculo afetivo com a capital baiana.

Antonia Bergamin, marchand e sócia da Galatea junto a Conrado Mesquita e Tomás Toledo, compartilha sua experiência e as mudanças que observou no mercado de arte ao longo dos anos. A galeria, que celebra este ano como o melhor da sua história, notou que a crise global no mercado de arte não afetou tanto o Brasil. A mudança no perfil de consumidores e colecionadores, com o surgimento de novas casas e espaços maiores no interior do país, impulsionou a demanda por obras de grande porte, que anteriormente eram mais difíceis de vender.

Em entrevista a EXAME Casual, Antonia apresenta as tendências atuais no mercado de arte, importância das redes sociais para as galerias e mudanças no setor e no estilo de consumo.

Que mudanças você notou no mercado nas últimas décadas?

Nossa, é outro mercado com propostas totalmente diferentes. Comecei a trabalhar com arte profissionalmente no início dos 20 anos. São mercados muito diferentes. E como qualquer outro mercado, mundo hoje se move muito rápido. O mercado de arte é diferente, as coisas acontecem de forma muito rápida, mas também morrem de forma muito mais rápida. Um artista novo, por exemplo, antes tinha que passar por uma trajetória um pouco mais longa para ter algum tipo de aceitação, hoje isso mudou.

Que outras mudanças notou?

Acho que muitas galerias morrem porque muitos galeristas não sabem a passar bastão e de saber a hora de parar.  Porque é um trabalho muito duro. Você precisa de muita energia e estar muito atento.

Quais são as tendências no mercado atualmente?

Há certas particularidades de tendências e movimentos estéticos como artistas autodidatas que durante muitas décadas ficaram esquecidos do Brasil e hoje em dia estão sendo totalmente revisitados. Essas obras tiveram uma valorização enorme nos últimos anos. Obras de artistas mulheres que também não tiveram o devido de conhecimento, começaram a aparecer mais em galerias e museus.

Em que o momento o Brasil está?

Acho o Brasil está com tendências muito similares a outros países.  Antigamente essas tendências demoravam para vir de grandes polos culturais. Só lembrando que o São Paulo é o maior polo cultural da América Latina, com grandes museus e colecionadores de arte em geral, mesmo assim, se compararmos, Nova York é maior. Então, antigamente, demorava um pouco mais para chegarem as tendências de Nova York ou Londres para cá. Hoje em dia é muito mais rápido. Há outros aspectos como a crise no mercado de arque que não chegou ao Brasil.

2025 foi um bom ano para a Galatea?

Esse ano foi o melhor ano da galeria. O Brasil não sofreu tanto com essa suposta crise no mercado de arte que rolou esse ano lá fora. Em setembro vendemos quase duas obras por dia. A estimativa é terminar o ano com 300 obras vendidas e R$ 45 milhões em faturamento, com um aumento de 36% em receita e 20% em volume em comparação com 2024.

Galeria Galatea: duas unidades em São Paulo e em Salvador (Leandro Fonseca/Exame)

A crise pós-pandemia foi realmente ultrapassada

Sim. Na verdade, aconteceu um crescimento de clientes com novas casas em condomínios no interior. E com isso passaram a ter mais espaço para colecionar arte. Tem muito colecionador que para de comprar a partir do momento que as suas paredes acabam. Mas essas casas começaram a se multiplicar, e as pessoas começaram a comprar como um estilo de vida.

O estilo de consumo também mudou?

As pessoas passaram a comprar obras grandes, que era uma coisa difícil de vender antigamente. Hoje vendemos mais obras grandes do que pequenas. Se você me perguntasse 10 anos atrás que tamanho de obra seriam as mais procuradas eu diria as menores, que cabem embaixo do braço.

As redes sociais são importantes para as vendas?

Hoje pessoas aleatórias que eu nunca vi na vida, que eu não tenho contato pessoal, compram nossas obras. O que é ótimo, por fazer parte da nossa estratégia desde o início em não ter os nomes dos sócios na porta. A gente passou por décadas de galeristas que eram tudo para a galeria, com um enorme microgerenciamento. Aqui queremos criar uma empresa onde a participação do dono, do galerista, do sócio, seja reduzida. E isso se reflete nas redes sociais. É uma surpresa para mim quando vejo que uma venda foi feita para uma pessoa que eu não tive contato, porque antes eu não tinha esse estilo de galeria.

Quais feiras participam?

Fizemos este ano SP-Arte, Arte Rio, Frieze Master, em Londres, Artissima, em Turim, e teremos Art Basel Miami Beach no final do ano. Ano que vem iremos para a Arco Madri e faremos feiras regionais no Brasil.

Pode contar sobre essa estratégia de estar em feiras regionais?

Em vez de irmos para fora, como Nova York que é uma operação cara, com clientes americanos em crise e investindo em arte americana, achamos que vale mais a pena investir no Brasil no Centro-Oeste e Nordeste. Temos que nos adaptar ao cliente. Se ele não pretende vir a São Paulo, nós vamos até ele. Porque uma coisa é você pegar um avião, marcar uma passagem, marcar um hotel, tirar três dias da sua vida para ir a uma feira de arte, que é uma coisa tão subjetiva. Ir até lá facilita o consumo. Muitas marcas de luxo estão abrindo lojas temporárias em Goiânia, por exemplo.

O Nordeste também é uma região importante para a galeria. Por que escolheram Salvador para ser a segunda cidade da Galatea?

Abrimos em Salvador há quase dois anos. Não houve um business plan, nem uma pesquisa de mercado. Foi uma coisa meio de intuição, de afeto. Convidamos o artista José Adário Santos que também é um pai de santo e ferreiro. Ele faz ferramentas que são objetos religiosos. Em um momento eu estava vendo um livro e vi essa ferramenta dele e senti que precisava conhecê-lo. Em um impulso, achamos um ponto e decidimos comprá-lo para abrir a galeria. Parece besteira, mas sou zero, assim. Mas essa abertura tem uma conexão mais espiritual, uma conexão que a gente não explica o porquê.

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