Elon Musk e Donald Trump: bilionário fez críticas na plataforma X (antigo Twitter) ao presidente dos EUA (Kevin Dietsch/AFP)
Freelancer
Publicado em 6 de junho de 2025 às 07h33.
Discordar do chefe é uma situação comum, mas não é todo mundo que pode sair nas redes sociais detonando o superior, como Elon Musk fez esta semana ao chamar o projeto de lei do presidente Donald Trump de “uma abominação repugnante” no X (antigo Twitter). Para a maioria, essa não é a melhor estratégia.
Especialistas em carreira conversaram o com site Business Insider e alertaram que há formas mais inteligentes e práticas de dar um feedback negativo a um chefe. “Ninguém recomenda sair postando nas redes sociais críticas ao chefe, ainda mais se o seu nome está junto”, diz Alison Fragale, psicóloga organizacional. Ela lembra que, apesar dos aplausos virtuais, a exposição pode trazer riscos sérios.
Com status e poder, Musk pode falar o que quiser e isso faz parte da sua marca. Mas para o restante das pessoas, o caminho mais seguro é uma conversa reservada e discreta. Jeffrey Sonnenfeld, professor de gestão em Yale, lembra que muitos CEOs usaram essa abordagem para enfrentar o aumento de tarifas promovido por Trump. “Eles chegaram com dados, evitaram humilhar o presidente publicamente e conseguiram resultados”, conta Sonnenfeld.
Embora Musk não tenha citado Trump diretamente em suas críticas ao projeto de lei, as mensagens tiveram tom de ataque pessoal, já que o presidente é um entusiasta da proposta, que inclui cortes no Medicaid e prorrogação de cortes de impostos de 2017. Trump chegou a chamar o texto de “o maior corte de impostos para a classe média e trabalhadores” em seu perfil no Truth Social.
Musk, por sua vez, alertou que o projeto vai inflar ainda mais o déficit americano e pediu que as pessoas liguem para seus representantes para barrar a aprovação. “Falir a América NÃO é aceitável! MATEM o PROJETO!”, escreveu.
No ambiente corporativo, o consenso é que você deve reclamar só quando a questão afeta o coletivo e deixar as dores pessoais para conversas com seu gestor direto, RH ou o canal de denúncias.
“Nem toda verdade precisa ser dita em voz alta”, afirma Fragale, que recomenda buscar aliados para dar mais peso ao que for dito. Também é importante refletir se você é a pessoa certa para levar o assunto para o topo da empresa, especialmente se não tem o respeito ou status necessários.
Outro ponto: você pode não ter todas as informações sobre as decisões do seu chefe. Bill George, executivo da Harvard Business School e ex-CEO, diz que às vezes líderes precisam agir com dados que não são públicos. Por isso, ao criticar, é bom deixar claro que seu ponto de vista é baseado no que você sabe.
Candice Pokk, consultora em RH, lembra que o tema precisa ser importante e relevante para ser levado até um superior. “A questão tem que estar no nível da posição deles.”
De modo geral, líderes tendem a aceitar críticas negativas quando feitas com respeito. Bill George conta que um gerente o avisou em particular que ele havia magoado colegas numa reunião. Apesar de manter o conteúdo, ele pediu desculpas pela forma e passou a pensar em um jeito melhor de se comunicar.
Na hora de criticar, comece destacando algo positivo e verdadeiro sobre a pessoa, seja breve e objetivo, aconselha Pokk. “Executivos preferem mensagens curtas e claras.”
Falar contra alguém com mais poder pode causar medo, afinal, “quem leva más notícias sempre teme ser punido”, brinca Sonnenfeld. Mas a honestidade pode valer a pena: “Se você estiver certo, pode salvar uma empresa — ou até vidas.”