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“Vim atrás de uma vida melhor”, diz brasileira que chegou aos EUA sem inglês e virou empresária

Hoje Débora Manfre fala 3 idiomas, trabalha com mercado imobiliário e traz três conselhos para quem deseja ter uma carreira internacional

Débora Manfre, empresária nos EUA: “Sempre falei que eu iria morar fora. É impressionante o poder das palavras, de se permitir sonhar” (Debora Manfre/Divulgação)

Débora Manfre, empresária nos EUA: “Sempre falei que eu iria morar fora. É impressionante o poder das palavras, de se permitir sonhar” (Debora Manfre/Divulgação)

Publicado em 18 de junho de 2025 às 08h08.

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New York, EUA* - Quando a pernambucana Débora Manfre embarcou sozinha para os Estados Unidos aos 18 anos, sem falar inglês e sem ter ninguém para esperá-la no aeroporto, ela levava apenas a fé, a coragem e o desejo de mudar de vida. “Vim só eu e Deus atrás de uma vida melhor nos Estados Unidos”, diz a brasileira que chegou no novo país em abril de 2002.

Nascida em Recife, e criada com dificuldades por uma mãe solo, Manfre se viu desde cedo desafiada por um cenário de escassez - chegando a morar até de favor na casa de uma tia -, mas aquela realidade nunca a impediu de sonhar — e fez disso o combustível para conquistar a carreira internacional que tanto sonhava.

“Sempre falei que eu iria morar fora. É impressionante o poder das palavras, de se permitir sonhar”, afirma.

Hoje, aos 42 anos, Manfre é empresária no setor imobiliário em Nova York, uma das cidades mais competitivas do mundo, e mentora certificada em desenvolvimento pessoal e relacionamento.

“Hoje eu trabalho menos e vivo mais. Mudei minha mentalidade e isso mudou tudo”, afirma.

O começo: uma mala, um visto e um objetivo

Aos 18 anos, Manfre tomou a decisão de sair do Brasil, mesmo sem ter condições financeiras, qualificação profissional ou um plano detalhado. “Não tinha dinheiro para passagem, mas minha mãe parcelou em 12 vezes. Eu sempre sonhei em morar fora, mesmo sem saber como. Quando eu vi, as oportunidades foram surgindo”, conta.

Ao chegar em Nova York, ela contou com a ajuda de um amigo que ela conheceu pelo MSN. “Não recomendo isso hoje, porque eu poderia ter corrido risco de vida, mas graças a Deus não foi o caso. Eu recebi a ajuda que eu precisava”.

O amigo liberou a casa dele por duas semanas. “Lembro que ele me disse: você tem duas semanas para conseguir um emprego e ficar aqui. Se não, vai precisar voltar para o Brasil”, conta Manfre.

Foi o tempo necessário para a brasileira conseguir seu primeiro trabalho como babá. Na época, não falava inglês, só português, e morava de favor na casa dos patrões.

“Foi ali que tive meu primeiro contato com o idioma. Depois trabalhei como muitos imigrantes, com faxina, em bares, sempre buscando uma forma de crescer, e aos poucos fui ganhando o domínio do idioma", diz Manfre que hoje fala português, inglês e espanhol fluente.

Uma nova fase: empreender em família

Depois de um casamento com um brasileiro que não deu certo, Manfre se casou pela segunda vez com um americano e juntos decidiram construir uma vida mais estável.

“Com o meu marido entrei de verdade na cultura americana, que é totalmente diferente. A mentalidade aqui é outra. Foi aí que comecei a ver que era possível empreender, crescer e viver melhor”, afirma a brasileira.

Enquanto os filhos ainda eram pequenos, ela se dedicou à maternidade. Quando eles começaram a ir para a escola, Débora iniciou sua atuação no setor imobiliário – e acabou crescendo nesta área. Hoje, ela é banqueira licenciada e atua com financiamentos para compra de imóveis no banco Movement Mortgage, sendo reconhecida entre os 30 nomes mais produtivos do país no setor.

Além disso, ela e o marido são donos de restaurantes tipo deli (que vendem comidas prontas ou semi-prontas de forma rápida e prática) em Nova York, como o Pantanos Gourmet, e estão expandindo o portfólio de negócios.

“Hoje também ajudo outras pessoas a comprarem empresas. Entramos na área de investimentos com foco em negócios que funcionem mesmo sem o dono estar 100% presente”, afirma.

Juntando todos os negócios, atualmente, Débora e seu marido faturam cerca de 500 mil dólares por ano - sendo que só ela já fechou mais de 100 milhões de empréstimos bancários nos Estados Unidos.

Virada de chave: mentalidade, cura e propósito

Nem tudo foram flores. Além dos desafios profissionais que um imigrante sem condições financeiras passa, Manfre enfrentou dois casamentos difíceis — o segundo quase chegou ao divórcio. Foi nesse momento que ela teve uma virada de mentalidade.

“Eu percebi que estava repetindo padrões: de pobreza, de trauma, de relacionamentos tóxicos. Entrei numa jornada de transformação,” diz.

Além de entender de imóveis, Manfre foi estudar com grandes nomes do desenvolvimento pessoal, como Tony Robbins e Joe Dispenza, e se tornou mentora, com foco em desbloqueio emocional e prosperidade.

“A maior limitação está na mente. Quando você toma uma decisão, as coisas acontecem - inclusive ter a casa própria.”

O mercado imobiliário nos EUA: “Imigrantes também podem comprar”

Ter a casa própria nos Estados Unidos é um sonho totalmente possível, afirma Manfre aos imigrantes. “Esse é um dos momentos que vejo muita limitação nos imigrantes. Muitas vezes nem procuram saber como funciona ter uma casa aqui. Sempre há um jeito”, diz.

O caminho, segundo ela, passa por ter a documentação básica e declarar impostos. “Se você paga imposto, tem crédito, ou mesmo se está começando, existem programas de assistência do governo. As regras são claras, mas é preciso ter coragem para dar o primeiro passo”, afirma.

Mesmo com os juros em torno de 6% nos Estados Unidos, Manfre vê o mercado de Nova York ainda aquecido.

“É uma das únicas regiões onde os preços dos imóveis não caíram. Long Island, por exemplo, onde eu moro, continua valorizada. As pessoas ainda estão pagando acima do preço pelas casas”, afirma a empresária brasileira que acredita que, mesmo diante das incertezas políticas e econômicas, a economia americana tende a melhorar.

O conselho para quem deseja ter uma carreira internacional

Nascida no Nordeste em uma vida muito simples, sem falar inglês e sem rede de apoio, Manfre construiu uma história bem diferente da sua origem.

“Se eu tivesse deixado o medo me parar, eu estaria no mesmo lugar, mas eu escolhi tentar,” diz.

E para quem deseja tentar uma vida em outro país, Débora deixa três conselhos. “Tenham coragem e, hoje, mais do que nunca, tenham planejamento. Conheçam as regras do país e façam contatos,” afirma. “Não importa de onde você veio, importa aonde você quer chegar, e para isso, você precisa se permitir sonhar. Só assim as portas vão se abrir”, diz a empresária.

*Essa é uma das histórias que está no livro “Conexão Mulher, o poder do salto alto”, coordenado pelas empresárias Cleo Pillon e Deise Miréia. A Exame foi convidada para cobrir o lançamento do livro em New York.

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