Alex Araújo, fundador da 4Life Prime: “Relacionamentos sólidos e respeito pelas pessoas abrem portas que o currículo sozinho não abre” (Pedro-Henrique-Kanaan-Gamborgi/Divulgação)
Repórter
Publicado em 15 de agosto de 2025 às 16h38.
Última atualização em 15 de agosto de 2025 às 16h54.
Abandonado horas após nascer e encontrado dentro de uma caçamba de entulho, na Vila Mariana, em São Paulo, Alex Araújo não imaginava que um dia se tornaria dono de uma empresa que faturou no último ano R$ 220 milhões.
"A pessoa que me gerou me deixou dentro de uma caçamba com poucas horas de nascido. Foi o meu choro que fez um segurança do hospital me encontrar e me levar para dentro," afirma.
O fundador e CEO da 4Life Prime, companhia de saúde e segurança do trabalho, hoje atende mais de 3.600 clientes — 90% multinacionais — e realiza 700 mil exames ocupacionais por ano – mas para contar essa história de sucesso Alex teve que batalhar muito como “intraempreendedor” – como ele chama a pessoa que busca criar novos negócios mesmo como CLT".
"Eu sou muito bom em trabalhar para as pessoas. Isso significa que sou um intraempreendedor - sempre busquei fazer bons negócios dentro das empresas”, afirma.
E foi como funcionário que ele cresceu e depois virou dono da 4Life Prime. Essa história de carreira e de negócio ele conta à EXAME.
Depois de ter sido resgatado pela equipe do hospital, em 1980, Alex foi adotado por uma família simples que tinha 4 filhos em São Paulo, mas segundo ele não faltou amor, apesar dos recursos limitados. O pai, que trabalhava longas jornadas, ensinou que “o amor sempre vence” e que estudo e respeito seriam as portas para o futuro.
Por volta dos 14 anos, o pai de Alex comprou um sítio em Sorocaba e levou toda a família. A mãe, que ainda tinha compromissos em São Paulo, viajava de ônibus todo fim de semana. Em uma dessas viagens, no trajeto de São Paulo para Sorocaba, ela resolveu contar um segredo que guardava havia anos.
"Quando estávamos indo para Sorocaba, minha mãe disse que ia comprar uma coxinha e um refrigerante para mim na rodoviária e, no mesmo momento, soltou: ‘Você sabia que é filho adotivo?’", conta o executivo.
Para ele, nada mudou. "Mamãe, sabe o que vai mudar? Que eu vou comer uma coxinha e um refrigerante na rodoviária e só. Porque eu amo a família que me criou e sempre vou respeitar esse amor”, afirma Alex.
A separação da família aconteceu apenas por uma questão de emprego. Aos 18 anos, Alex saiu de Sorocaba e se mudou novamente para São Paulo em busca de novas oportunidades. O primeiro emprego foi cavando buracos para instalação de postes. Na mesma época, foi pai e se casou aos 18 anos.
"Meu começo como pai de família foi muito difícil. Eu pagava a conta de água, cortavam a luz. Pagava a luz, cortavam a água. Ia ao mercado e conseguia comprar a fralda, o leite e, às vezes, um frango. A carne eu tinha que deixar no caixa”, conta.
A virada veio quando, por iniciativa própria, lavou o carro do CEO da empresa onde trabalhava e acabou sendo promovido para o escritório.
“Proatividade abre portas. As pessoas precisam perceber que você quer entregar mais do que te pedem”, diz.
Após passar pelo setor de vendas, Alex entrou no Banco Banespa (posteriormente Santander), onde ficou por sete anos e meio, sendo promovido nove vezes. Chegou a bater 300% a 400% da meta por seis anos consecutivos e tornou-se o primeiro gerente do Brasil por seis anos seguidos, entre mais de seis mil colegas. O segredo? Oferecer o produto certo para a necessidade real do cliente e eliminar o ego da negociação.
Saiu do banco em um plano de desligamento voluntário para empreender. "Saí do banco no momento em que ofereceram 20 vezes o valor do salário para quem quisesse ir embora. Não pensei duas vezes. Peguei a rescisão e decidi empreender”, afirma Araújo.
A primeira experiência de Alex Araújo como empresário foi a compra de uma choperia em Sorocaba, negócio adquirido de forma impulsiva após um desafio do sobrinho adolescente. No início, o empreendimento lotava aos fins de semana, contava com 250 mesas, 50 funcionários e vendia 5 mil litros de chope por mês.
"Tinha final de semana em que eu saía com um saco de lixo cheio de notas de R$ 50, R$ 20 e R$ 10. Era uma loucura", relembra.
Mas o bom momento durou pouco. Quando a obra de uma grande empresa na cidade terminou, cerca de 3 mil clientes que movimentavam a choperia foram embora, e o faturamento despencou. Alex tentou sustentar o negócio com o dinheiro acumulado, mas acabou consumindo todas as reservas.
O dia em que percebeu que havia perdido tudo também ficou marcado: "Olhei no caixa achando que encontraria algum dinheiro guardado, mas só tinha R$ 1,45 em moedas de cinco centavos", conta.
A reação da esposa, no entanto, transformou a situação em lição. "Ela disse: ‘Que ótimo, pelo menos temos R$ 1,45’. Compramos macarrão, alho e um suco em pó. Foi um dos jantares mais felizes da minha vida," lembra.
Para Alex, esse momento foi um divisor de águas. "Ali eu entendi que ainda não estava pronto para ser empresário e que meu talento estava em ser intraempreendedor, fazendo bons negócios dentro das empresas."
A oportunidade de voltar ao mercado veio em 2016 com uma vaga de gerente geral em uma empresa de saúde e segurança do trabalho – onde Alex decidiu apostar no lado “intraempreendedor”.
“E sabia que eu era um intraempreendedor, que é o profissional que, mesmo contratado por uma empresa, atua com mentalidade de dono, buscando oportunidades, assumindo responsabilidades e criando soluções que tragam crescimento para o negócio”, afirma.
Ele explica que esse perfil exige assumir riscos e se comprometer com resultados como se fosse o próprio empresário. E foi isso que aconteceu. Alex saiu de uma fase de empreender para voltar a ser funcionário e propôs reduzir o próprio salário em troca de um comissionamento sem teto atrelado a resultados.
“Em três meses, eu gerei R$ 1,5 milhão em comissões”, diz Alex, que virou diretor geral, depois sócio, e em 2018 comprou a participação do antigo parceiro - que decidiu se aposentar. "Meu sócio achava que eu não tinha condições de comprar a parte dele, mas dei um jeito", diz o empresário.
Alex vendeu rapidamente 13 apartamentos que havia adquirido na planta, por preços abaixo do mercado, para levantar parte do dinheiro. “O restante parcelei a perder de vista,” conta.
Como o único dono do negócio desde 2018, Alex se deparou com a pandemia em 2020. Na época, muitas empresas reduziram atividades ou fecharam temporariamente. Alex, no entanto, decidiu agir na contramão do mercado. Passou horas isolado no escritório, mapeando um plano para manter fábricas operando com segurança.
A ideia foi criar um modelo de testagem dentro das próprias indústrias, cobrindo os três turnos de trabalho, sem que os funcionários precisassem se deslocar até clínicas. O objetivo era claro: preservar a produção e reduzir afastamentos desnecessários.
"Todo mundo estava preocupado com a vacina. Eu pensei na hora-homens trabalhada: como manter as fábricas funcionando sem parar a produção?", diz.
A estratégia se mostrou certeira. Durante 14 meses consecutivos, a 4Life Prime negociou com a China e foi a primeira empresa a vender os testes de Covid-19 para empresas. “Em média, eram 12 contêineres de testes por mês, atendendo clientes multinacionais em todo o Brasil”, afirma o CEO.
O resultado veio junto: o faturamento anual dobrou, saltando para R$ 216 milhões.
Atualmente, a 4LifePremium tem mais de 3.600 clientes, sendo 90% multinacionais. Depois da pandemia a empresa teve uma queda no faturamento, mas se reergueu no último ano e hoje realiza cerca de 700 mil exames ocupacionais por ano (admissionais, demissionais, periódicos, retorno ao trabalho e mudança de função).
O sucesso, Alex dedica a sua esposa, que sempre o encorajou a tentar de novo e a nunca desistir, e aos conselhos de seus pais que os guia até hoje.
“Aprendi que é muito importante estar no lugar certo, na hora certa e pronto para fazer o melhor que puder. Relacionamentos sólidos e respeito pelas pessoas abrem portas que o currículo sozinho não abre.”