Juliette, empresária, publicitária, apresentadora e modelo: “Eu vejo mulheres brilhantes que não confiam nelas. E isso é determinante para um negócio existir ou funcionar” (Juliette/Divulgação)
Repórter
Publicado em 19 de novembro de 2025 às 09h19.
“O maior desafio da mulher empreendedora é ter a autoconfiança”, diz a empresária e ex-BBB Juliette. “Eu vejo mulheres brilhantes que não confiam nelas, e isso é determinante para um negócio existir ou funcionar.”
O relato aparece em uma data histórica: 19 de novembro é o Dia Internacional do Empreendedorismo Feminino, data criada pela ONU para reconhecer e impulsionar mulheres que transformam suas histórias em negócios — muitas vezes sem estrutura, sem apoio e contra todas as expectativas. A trajetória de Juliette é uma dessas histórias que começam pequenas, nas margens, mas ganham força até se tornarem referência nacional.
Filha de uma cabeleireira e de um mecânico, Juliette nasceu em Campina Grande, Paraíba, e cresceu dentro de duas escolas de empreendedorismo improvisado: o salão da mãe e a oficina do pai. “A gente comprou a nossa primeira casa com minha mãe cortando cabelo na feira a R$1”, lembra a artista.
Com o tempo, o empreendedorismo deixou de ser apenas sobrevivência e passou a fazer parte da identidade da então modelo e maquiadora. Desde criança, ela varria cabelos no chão, lavava e escovava os cabelos no salão de beleza, colava sapatos em uma sapataria, ajudava na papelaria e acompanhava a mãe entre um trabalho e outro — inclusive quando ela rodava como mototaxista para complementar a renda. Mas foi na maquiagem que Juliette mais empreendeu e se encontrou.
“Quando eu comecei com maquiagem eu tinha uns 14 anos”, afirma. “Eu ajudava uma maquiadora a preparar a pele e em três meses eu já era maquiadora. Nunca tinha feito curso, mas sempre acreditei que dedicação me levaria para mais longe em tudo”.
Foi observando essa rotina que Juliette entendeu que mulheres podem — e devem — ocupar todos os espaços.
“Minha mãe quebrava expectativas. Nenhuma das irmãs dela trabalhava fora, e ela fazia tudo que diziam que era tarefa masculina. Eu queria ser como ela, disruptiva, mesmo sem saber o significado da palavra”, conta.
Essa criação livre, somada à convivência diária com irmãos em uma oficina, deu a ela algo decisivo: confiança. “Eu sabia que conseguia pilotar uma moto, montar e desmontar coisas, trabalhar e empreender. Isso foi me fortalecendo.”
Muito antes de entrar para o Big Brother Brasil 21, Juliette já carregava traços fortes de uma marca pessoal alinhada à ética e à verdade. A artista lembra que, nos salões onde trabalhou e nos atendimentos como maquiadora, chamava atenção pela postura profissional. “O que eu construí, mesmo intuitivamente, foi coerência, empatia e respeito.”
Ao mesmo tempo, dedicação continuava a fazer parte da sua marca. Ela conciliava a rotina de estudos com o trabalho no salão. “Eu fiz Letras e depois fiz Direito, mas nunca deixei de maquiar”, conta. “Depois de formada, eu advogava de segunda a sexta, mas aos finais de semana eu trabalhava no salão.”
O lado empresária de Juliette ganhou contornos mais nítidos às vésperas de sua entrada no BBB21. Ao perceber que poderia ser chamada para o reality, decidiu montar uma estrutura de gestão — sozinha, intuitivamente e sem saber se teria utilidade pós-programa.
“Quando eu vi que eu estava próxima a entrar no reality, eu fiz um exercício de entender quais dos meus amigos se encaixariam em possíveis funções. Eu nem sabia se ia dar certo”, diz.
Assim, ela distribuiu funções como se já estivesse abrindo uma empresa. Débora, amiga maquiadora e sócia no salão, assumiu as redes sociais. Lara, formada em Direito e extremamente organizada, ficou responsável pela gestão financeira. Outros dois amigos assumiram o jurídico e o comercial.
E a engrenagem não parou ali. “Muitos amigos, pessoas que me conheciam, se voluntariaram para ajudar na equipe. Outras pessoas que tinham experiência com reality, fãs mesmo, também se voluntariaram”, diz. “No fundo, eu montei a minha empresa de publicidade sem saber se haveria empresa - e sem grana.”
Durante o programa, a marca da artista cresceu rapidamente. Sua equipe reforçou a comunicação, destacou sua coerência e utilizou elementos pessoais — especialmente os cactos — para fortalecer sua narrativa.
“Aqui fora, tinha um vídeo da minha casa mostrando os cactos que eu desenhava e as roupas que eu usava de cacto… Aí a minha equipe pegava e publicava isso e comprovava o que eu tava falando lá dentro do programa.”
A estratégia funcionou. Ao vencer o BBB21, Juliette levou para casa R$ 1,5 milhão, mais de 16 contratos de publicidade no primeiro ano e acumulou milhões de seguidores — chegando a 29 milhões de seguidores neste ano.
A intuição virou necessidade. De uma estrutura improvisada, nasceu uma operação empresarial profissional, com processos, jurídico, financeiro e equipe fixa.
“Eu sou a cara do negócio e o coração do negócio, mas estar nos dois lugares estava pesando muito no dia a dia”, diz Juliette.
Delegar, habilidade que nunca teve de exercitar, se tornou urgente. “Eu apanhei muito. Preferia fazer tudo a delegar. Isso me sobrecarregou”, diz. “Mulheres precisam aprender a delegar”.
Mesmo no auge do sucesso, Juliette manteve o compromisso ético que sempre defendeu. “Não faço escolhas por medo de cancelamento. Faço para dormir em paz, e assim será no próximo passo da minha carreira”.
Hoje, a empresária se divide entre publicidade, comunicação — como apresentadora de um programa de TV —, licenciamentos e a preparação do maior projeto de sua carreira: sua marca própria de maquiagem, da qual será sócia majoritária.
“Não queria colocar meu nome em uma embalagem sem participar. Eu queria criar. Eu queria que fosse meu”, diz Juliette que adiantou que deve lançar a marca ainda em 2026.
Para isso, ela passou quatro anos estudando o mercado, fazendo cursos, mentorias e formando a equipe adequada.
Da menina que varria cabelos na feira à empresária que lidera contratos e constrói um negócio próprio, Juliette aprendeu — e repete — a lição que gostaria que todas as mulheres ouvissem:
“Fortalecer a autoestima e a coragem de ocupar esses lugares é muito mais importante que qualquer curso. Você não precisa estar 100% pronta. Eu também não estava, mas eu fiz o melhor que eu podia - e deu certo.”