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‘O Brasil pode sair fortalecido da COP30’, diz CEO da Bayer

Maurício Rodrigues, presidente da divisão agrícola da multinacional na América Latina, vê o evento como uma a chance de reposicionar o agro brasileiro e acelerar a transição para práticas regenerativas

Maurício Rodrigues, presidente da divisão agrícola da Bayer para a América Latina; “O nosso foco sempre são três pilares: inovação, sustentabilidade e digitalização” (Leandro Fonseca/Exame)

Maurício Rodrigues, presidente da divisão agrícola da Bayer para a América Latina; “O nosso foco sempre são três pilares: inovação, sustentabilidade e digitalização” (Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 20 de novembro de 2025 às 13h23.

Última atualização em 20 de novembro de 2025 às 13h35.

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O agronegócio brasileiro entra no radar global com a COP30, não apenas como potência exportadora, mas como peça-chave na equação entre produção de alimentos e clima. Na linha de frente desse movimento está Maurício Rodrigues, presidente da divisão agrícola da Bayer para a América Latina, dono de uma visão ao mesmo tempo pragmática e ambiciosa: usar a conferência para mostrar a força da agricultura tropical – e provar, com dados, que o agro brasileiro pode ser protagonista de uma transição sustentável.

“Talvez os dois maiores dilemas que a gente enfrenta hoje sejam segurança alimentar e mudança climática. E, de alguma maneira, os dois se entrelaçam”, afirma o executivo, em entrevista ao podcast De Frente com o CEO, da EXAME, às véspera de começar a COP30 em Belém, no Pará.

Formado em engenharia civil pela Poli-USP, com MBA em finanças e 26 anos de carreira no agronegócio, Rodrigues comanda hoje a segunda região mais relevante da divisão agrícola da Bayer no mundo. A América Latina responde por cerca de 30% do faturamento global da unidade, com o Brasil ocupando a posição de segundo maior mercado da companhia, atrás apenas dos Estados Unidos.

Veja também: Ensaio: a diversidade da COP30 no Dia da Consciência Negra

COP30: palco para mostrar o “agro real”, não o agro de mitos

Rodrigues já participou de três conferências do clima – Glasgow, Sharm El Sheikh e Dubai – e reconhece as críticas em torno da velocidade e da efetividade das decisões globais. Mas defende que, para temas sistêmicos como clima e alimentação, não existe alternativa ao diálogo multilateral.

“É fato que o diálogo e a interlocução são a única forma de atacar problemas da magnitude que a gente tem em segurança alimentar e mudança climática,” afirma.

No caso específico da COP30, realizada no Brasil, ele enxerga uma dupla responsabilidade:

  • Qualificar o debate global sobre o agro brasileiro.

“Eu espero que a gente consiga posicionar e demonstrar, de maneira eficiente, a sustentabilidade da agricultura no Brasil. É fundamental o mundo entender isso, não para dizer que não existam problemas, mas para atacar problemas – e não atacar mitos”, diz.

Para o executivo, o desafio é separar a imensa maioria de produtores que seguem boas práticas daqueles poucos que desrespeitam a legislação ambiental.

“O agro brasileiro, sim, é sustentável”, afirma o CEO.

A chave, segundo ele, é garantir que quem não segue a linha da sustentabilidade seja penalizado – abrindo espaço para que a imagem do setor acompanhe o salto de produtividade dos últimos anos.

  • Projetar o Brasil como referência positiva

Rodrigues conta que esteve recentemente em Belém e faz questão de ligar a COP30 também à imagem do país.

“Eu queria que as pessoas saíssem daqui com uma percepção muito positiva da generosidade, do respeito, da criatividade daquela região, de uma cultura forte, de uma receptividade enorme. Não só de Belém e do Pará, mas do Brasil”, diz o CEO. “O Brasil pode sair fortalecido da COP30”.

Em resumo, a estratégia é usar a COP30 para reposicionar a narrativa do agro brasileiro: como o parceiro estratégico na combinação entre produtividade, conservação e inclusão de pequenos produtores.

Veja também: Madrugada da COP30 avança em transparência financeira, tema que travou na COP29

Investimento pesado em P&D e foco em agricultura regenerativa

Por trás do discurso climático, há cifras robustas. Só em 2024, a divisão agrícola da Bayer investiu 2,6 bilhões de euros em pesquisa e desenvolvimento no mundo – o maior aporte do setor, segundo Rodrigues. Uma parcela relevante desse volume se materializa em soluções testadas e escaladas na América Latina.

O investimento se resumo em uma soma: mais tecnologia por hectare = mais alimento + menos pressão por abertura de novas áreas. É a base do que a companhia chama de agricultura regenerativa.

“O foco para a gente sempre são três pilares: inovação, sustentabilidade e digitalização. Para ter uma agricultura sustentável, ela precisa ser mais produtiva – mas com conhecimento suficiente do solo para que essa produtividade seja permanente, não pontual,” diz o CEO.

O esforço recente da empresa, segundo Rodrigues, é deixar de vender “produtos isolados” para entregar pacotes integrados de solução – unindo semente, defensivo e ferramenta digital numa lógica de serviço.

Solo, carbono e dados: o business case da sustentabilidade

Um dos exemplos citados por Rodrigues é o Pro Carbono, programa da Bayer que trabalha com cerca de 2.000 agricultores no Brasil para disseminar boas práticas de manejo – como plantio direto, rotação de culturas e técnicas de proteção do solo – em parceria com a Embrapa.

Mais do que recomendar práticas, a empresa decidiu medir impactos. Foram realizadas mais de 300 mil amostras de solo ao longo do projeto. O resultado, segundo o CEO:

  • 10% de aumento de produtividade nas áreas que seguiram as práticas recomendadas;
  • 15% de aumento na fixação de carbono no solo.

“Você consegue mais produtividade e, ao mesmo tempo, proteger melhor o solo para que ele continue sendo produtivo a médio e longo prazo,” afirma.

No balanço de negócios, isso significa:

  • Maior rentabilidade por hectare para o produtor, sem necessidade de expansão de área;
  • Criação de valor climático mensurável, o que abre portas para novas fontes de receita ligadas a créditos de carbono, financiamento verde e exigências de cadeias globais.

Para uma companhia que coloca a missão “saúde para todos, fome para ninguém” no centro da estratégia, o discurso climático só se sustenta se estiver acoplado a um modelo econômico viável na ponta.

América Latina como motor de crescimento – e responsabilidade

Se a COP30 tende a reforçar o papel do Brasil no debate climático, os números da Bayer já mostram o peso da região na estratégia global do grupo. A América Latina responde por algo em torno de 30% do faturamento agrícola da companhia no mundo, e o Brasil é o segundo maior mercado individual.

Essa combinação de escala e potencial de expansão faz da região, na visão de Rodrigues, um laboratório para o futuro do agro:

  • A Bayer mantém um pipeline “muito expressivo” de novos produtos para os próximos 5 a 6 anos, em químicos, sementes e biotecnologia;
  • A América Latina é um dos principais destinos desse portfólio, justamente pela relevância do agronegócio na economia da região.

Ao mesmo tempo, o executivo lembra que isso vem acompanhado de “compromisso muito forte”: o desempenho do agro latino tem impacto direto nos resultados globais da companhia e no próprio avanço da agenda de segurança alimentar.

Otimismo cauteloso: clima melhor, crédito e geopolítica no radar

No curto prazo, o cenário que chega à COP30 é de “otimismo cauteloso”. De um lado, o agro brasileiro exportou US$ 82 bilhões no primeiro semestre de 2025, e as condições climáticas estão melhores do que no ano anterior – marcado por enchentes no Rio Grande do Sul e secas em diferentes regiões do país.

De outro, Rodrigues chama atenção para dois vetores de risco:

  • Crédito agrícola ainda complexo, com custo e acesso pressionados;
  • Tensões geopolíticas, como o “tarifaço” de Donald Trump, que afetam cadeias de valor e precificação de commodities de formas diferentes em cada cultura.

“Tal como sempre, o mercado agro é muito resiliente. Mas ainda há pontos de preocupação para assegurar que esse crescimento seja sustentável”, pondera.

É nesse contexto de retomada com incertezas que a COP30 ganha relevância adicional: servir de ponto de alinhamento entre produtores, empresas, governos e organismos multilaterais sobre o tipo de financiamento, regulação e tecnologia necessários para destravar o próximo ciclo de investimentos.

Veja a entrevista de Maurício Rodrigues, presidente da divisão agrícola da Bayer para a América Latina, ao podcast "De frente com CEO", da EXAME.

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