A adoção desse modelo tem o poder de promover mudanças profundas na cultura das organizações e na satisfação dos funcionários. (foto/Thinkstock)
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Publicado em 24 de setembro de 2025 às 15h42.
Empresas de tecnologia e indústrias brasileiras adotam cada vez mais um modelo de progressão profissional que quebra a regra tradicional de que todo bom funcionário precisa virar chefe para crescer na carreira. Conhecido como carreira em Y, esse formato permite que profissionais técnicos avancem e ganhem bem sem precisar gerenciar pessoas.
O modelo surgiu para resolver um problema comum no mercado de trabalho, em que excelentes especialistas eram promovidos a cargos de gestão mesmo sem aptidão ou interesse em liderar equipes, resultando em perda de talentos técnicos e gestores insatisfeitos com suas funções.
O plano de carreira em Y tem esse nome porque sua estrutura visual lembra a letra Y. Todos os profissionais começam pela base, passam por um período inicial comum e depois chegam a uma bifurcação onde devem escolher entre dois caminhos diferentes.
A trilha técnica é para quem quer se aprofundar em conhecimentos específicos da área, desenvolver pesquisas e inovações, tornando-se referência em determinado assunto. Já a trilha gerencial é voltada para quem prefere coordenar equipes, planejar estratégias e administrar recursos.
O grande diferencial desse modelo está na equivalência entre as trilhas, ou seja, um especialista sênior pode ganhar o mesmo que um gerente, ter os mesmos benefícios e o mesmo reconhecimento dentro da empresa. Isso muda completamente a dinâmica tradicional em que só quem se torna chefe é considerado bem-sucedido.
Na prática, a carreira em Y se traduz em um processo estruturado de desenvolvimento profissional que conta com o acompanhamento do RH e das lideranças.
Quando chega o momento da escolha, geralmente após dois ou três anos na empresa, o profissional passa por avaliações e conversas com gestores para identificar seu perfil. Ferramentas de mapeamento comportamental ajudam a entender aptidões e preferências, orientando a decisão mais adequada.
Após escolher a trilha, o profissional recebe um plano de desenvolvimento específico. Com isso, especialistas participam de congressos técnicos, certificações avançadas e projetos de pesquisa, enquanto gestores fazem cursos de liderança, MBAs e treinamentos em administração de equipes.
Um ponto importante é que a escolha não é definitiva. Profissionais podem migrar de uma trilha para outra ao longo da carreira, conforme seus interesses e objetivos mudam.
Identificar o perfil adequado para cada trilha é o primeiro passo para o sucesso do modelo. Profissionais da trilha técnica costumam ser mais analíticos e detalhistas, preferem trabalhar com profundidade em problemas específicos, gostam de estudar e se atualizar constantemente. São pessoas que encontram satisfação em dominar completamente um assunto e ser consultadas como especialistas.
Já na trilha gerencial estão profissionais com facilidade para lidar com pessoas, que se sentem confortáveis tomando decisões que afetam toda a equipe, têm boa comunicação, sabem negociar e conseguem ver o panorama geral dos projetos e da empresa.
É importante destacar que não existe perfil melhor ou pior. O modelo reconhece que pessoas diferentes contribuem de formas diferentes, e todas são necessárias para o sucesso de uma organização.
A adoção desse modelo tem o poder de promover mudanças profundas na cultura das organizações e na satisfação dos funcionários.
Empresas que implementam a carreira em Y conseguem manter seus melhores técnicos, que antes saíam para empreender ou buscar outras oportunidades onde pudessem continuar na área técnica com boa remuneração. Também funciona para reduzir o número de gestores inadequados, aqueles que foram promovidos apenas por serem bons tecnicamente.
Na prática, é possível dizer que o ambiente de trabalho melhora porque cada um está fazendo aquilo que tem mais aptidão. Especialistas podem focar em inovação sem se preocupar com reuniões e relatórios gerenciais, enquanto estores podem se dedicar ao desenvolvimento de pessoas sem precisar dominar todos os detalhes técnicos.
As vantagens da carreira em Y aparecem em diferentes aspectos da vida profissional e organizacional. Para o trabalhador, a principal vantagem é poder crescer fazendo o que gosta e se identifica. Um programador excelente, por exemplo, não precisa abandonar a programação para ganhar bem, assim como um engenheiro pode continuar desenvolvendo projetos técnicos e ter o mesmo status de um diretor.
Consequentemente, o desenvolvimento profissional se torna mais focado e eficiente. Em vez de treinar um especialista para ser gestor, a empresa investe em torná-lo ainda melhor naquilo que já faz bem. Isso tem o propósito de gerar profissionais mais qualificados e satisfeitos.
Além disso, a empresa também ganha com a inovação vinda dos especialistas e a gestão mais eficiente de quem realmente tem vocação para liderar.
Os caminhos variam conforme o setor e tamanho da empresa, mas seguem estruturas parecidas. Na trilha técnica, a progressão típica começa em analista júnior, passa por pleno e sênior, depois especialista, consultor interno e pode chegar a posições como arquiteto de soluções ou cientista-chefe. Em empresas de tecnologia, por exemplo, cargos como "Principal Engineer" têm salário de diretor.
Já a trilha gerencial segue o modelo mais conhecido: supervisor, coordenador, gerente, diretor e cargos executivos. A diferença é que esses gestores chegaram lá por demonstrar habilidade de liderança, não apenas por serem bons tecnicamente.
Algumas empresas criam níveis intermediários ou variações conforme suas necessidades. O importante é que ambas as trilhas tenham progressão clara, critérios definidos e reconhecimento equivalente, garantindo que nenhum caminho seja visto como inferior ao outro.