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Ele aprendeu inglês após os 40 anos e hoje lidera farmacêutica especializada em saúde do cérebro

O presidente da Lundbeck Brasil quebrou a barreira do idioma e quer inovar como gestor: para ele, liderança humanizada traz resultados financeiros e promove a saúde mental

Josiel Florenzano, CEO Lundbeck Brasil: “Muita empresa vê o funcionário como um número. Eu vejo como ser humano, com dores, família, sonhos. Se ele estiver bem em casa, vai estar bem no trabalho também” (Lundbeck Brasil/Divulgação)

Josiel Florenzano, CEO Lundbeck Brasil: “Muita empresa vê o funcionário como um número. Eu vejo como ser humano, com dores, família, sonhos. Se ele estiver bem em casa, vai estar bem no trabalho também” (Lundbeck Brasil/Divulgação)

Publicado em 5 de agosto de 2025 às 15h43.

Última atualização em 5 de agosto de 2025 às 18h07.

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Aos 40 anos, Josiel Florenzano precisou enfrentar um desafio que ainda hoje afasta muitos brasileiros de oportunidades internacionais: aprender inglês.

Na época, como diretor de vendas, o executivo recebeu um convite para assumir uma posição de gestão na farmacêutica dinamarquesa Lundbeck com uma condição clara - em dois anos, deveria dominar o idioma e participar de reuniões globais.

“Não tive a oportunidade de estudar na infância, porque vim de uma família humilde. Mas me preparei com disciplina. Era a chance da minha vida”, conta Florenzano.

O esforço foi diário: aulas seis vezes por semana, filmes sem legenda, plano de desenvolvimento com o professor e até um intercâmbio no Canadá.

“No meu intercâmbio conversava muito com crianças pequenas para perder o medo de errar. Eu era tímido, mas precisava destravar”, conta.

Dois anos depois, ele viu o resultado do seu esforço: apresentou pela primeira vez um projeto em inglês para a matriz na Dinamarca.

Hoje, como presidente da operação da Lundbeck no Brasil há mais de dez anos, Florenzano transforma esse aprendizado pessoal em incentivo coletivo.

“Sempre digo que não adianta fazer dois MBAs se você não fala inglês. Se quer fazer carreira em multinacional, esse é o requisito número um”.

Na Lundbeck, saúde mental começa com a liderança

Mas a transformação que ele promove vai além do idioma. Em uma empresa que fabrica medicamentos voltados para doenças do cérebro — como depressão e ansiedade —, Florenzano aposta em uma cultura onde o funcionário deve fazer a empresa crescer, mas sem precisar se tornar cliente.

“Muita empresa vê o funcionário como um número. Eu vejo como ser humano, com dores, família, sonhos. Se ele estiver bem em casa, vai estar bem no trabalho também”, afirma.

Essa abordagem tem respaldo em dados. Segundo uma pesquisa da Mind Share Partners, 70% dos trabalhadores já sofreram impactos negativos na saúde mental por causa de um chefe tóxico. Outro estudo, da Pearson, mostra que 87% dos profissionais já se sentiram assediados no trabalho e 82% não se sentem seguros para denunciar.

Na contramão dessa realidade, Florenzano aposta em proximidade e intencionalidade. Faz questão de ligar para os funcionários no dia do aniversário, promove cafés da manhã mensais com pequenos grupos e conversa com todos os gestores a cada dois meses. “Já teve gente nova na empresa que achou que os meus parabéns era trote”, conta rindo.

"Um funcionário de valor gera valor para a empresa"

O baixo índice de turnover na Lundbeck Brasil, segundo o CEO, é reflexo direto do ambiente saudável e da valorização da equipe.

“Aqui a retenção não vem só de salário. Vem de respeito e de reconhecimento. Funcionário feliz entrega mais, permanece mais e contribui com ideias melhores”, afirma.

A farmacêutica emprega cerca de 130 pessoas no Brasil — metade no escritório no Rio de Janeiro e o restante espalhado pelo país na área comercial. A matriz, na Dinamarca, atua em mais de 60 países, com foco exclusivo no sistema nervoso central.

O baixo turnover se resume em resultado também. Desde 2021, a empresa não para de crescer. Em 2024, a receita global da Lundbeck atingiu um total de 22 bilhões de coroas dinamarquesas. Os maiores mercados são os Estados Unidos, China, Canadá, Espanha, Itália, França, Brasil, Austrália, Coreia do Sul e Suíça.

Olhar para o futuro: novas terapias e desafios globais

Apesar da pressão macroeconômica e da concorrência com genéricos, a Lundbeck segue em expansão. Um dos movimentos estratégicos para os próximos anos, segundo Florenzano, é a entrada no segmento de doenças raras, com foco em epilepsias e distúrbios do movimento relacionados ao Parkinson.

A empresa, que fabrica os medicamentos na Dinamarca, também lida com os impactos indiretos de políticas internacionais no faturamento global, como as tarifas impostas pelos EUA.

“Nossos medicamentos são premium e pagos integralmente pelo consumidor. Qualquer oscilação econômica afeta o poder de compra e, portanto, a demanda”, afirma o CEO que reforça que no Brasil poderemos ter algum impacto indireto.

Aprender, liderar, transformar

Ao longo de 40 anos no setor farmacêutico, Florenzano diz ter aprendido que a verdadeira liderança não está nas fórmulas prontas, mas na atenção genuína.

“Vi gestores que se isolavam em convenções e outros que faziam questão de estar com a equipe na piscina ou no café. Aprendi com esses últimos”, conta.

Para ele, a chave do sucesso está na intenção. “Mais do que técnicas, acredito na intencionalidade. Para aprender inglês, é preciso foco. Para liderar bem, é preciso se importar de verdade com os funcionários. Isso é o que move negócios - e pessoas.”

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