Washington Vasconcellos, fundador da Yonder Incorporadora e Construtora: “A vida me tirou o chão, mas eu decidi construir um novo - de alicerce em alicerce” (Yonder Incorporadora/Divulgação)
Repórter
Publicado em 29 de outubro de 2025 às 09h30.
Criado na Vila Matilde, zona leste de São Paulo, Washington Vasconcellos cresceu vendo os pais lutarem para sustentar a casa. O pai era taxista; a mãe, vendedora de roupas e materiais escolares para complementar a renda.
A vida seguia com dignidade até que uma sequência de tragédias - a perda de uma filha recém-nascida e, meses depois, do pai - desestruturou a família. Para quitar dívidas, o jovem vendeu o carro da família, mas não conseguiu evitar o pior.
“Foi um dos dias mais duros que vivi”, conta o empresário. “Estava no trabalho quando minha mãe ligou dizendo que o oficial de justiça estava em casa. Quando cheguei, ela e minha irmã estavam na calçada, vendo nossos móveis sendo levados,” afirma Vasconcellos que na época tinha 21 anos.
Aquela cena de perda, se tornou o estopim para sua virada de vida. Formado em engenharia e já casado, Vasconcellos continuou na indústria como desenhista industrial para sustentar a sua casa e ajudar a sua mãe. Além do trabalho corporativo, ele também decidiu investir os R$ 300 que tinha em roupas íntimas para revenda online – negócio que era liderado por sua esposa.
O pequeno investimento virou R$ 10 mil, depois uma loja física, e logo uma rede.
“Empreender é começar. Não existe esse negócio de esperar o governo mudar ou fazer uma poupança. Se você está esperando juntar dinheiro para abrir um negócio, nunca vai abrir”, afirma.
Com a pandemia, o faturamento da empresa começou a cair. Paralelamente, ele começou a ajudar a mãe, que se tornou uma corretora de imóveis. Quando começou a ganhar mais dinheiro, aconteceu de construir o primeiro edifício aos 38 anos, momento em que ele decidiu começar o negócio próprio no setor imobiliário.
“Nunca imaginei trabalhar no mercado imobiliário. Meu sonho sempre foi engenharia mecânica. Mas quando fiz o primeiro prédio, percebi que, além do lucro, eu estava realizando o sonho das pessoas”, conta.
Sem investidores, Vasconcelos iniciou o primeiro edifício com uma “mentira piedosa”.
“Minha mãe inventou um investidor só para eu criar coragem. Quando descobri que não existia, o prédio já estava demolido. Eu não tinha outra opção a não ser fazer dar certo”, diz o empresário, que afirma que o risco compensou.
“Saí de casa com R$ 10 mil e voltei com R$ 1,2 milhão. Todos os clientes que atendi compraram. Foi inacreditável,” afirma.
Desde então, ele nunca mais parou. “A rentabilidade vem como consequência. Se a gente foca só no lucro, entrega um produto inferior. Nosso propósito é realizar o sonho da casa própria. O lucro é a saúde da empresa, mas o propósito é o coração.”
O primeiro edifício, em 2021, deu origem à Yonder Incorporadora e Construtora, que hoje é o pilar central de um hub imobiliário completo, reunindo todo o ciclo de vida de um imóvel — da incorporação à locação.
Além da construtora, o grupo reúne:
“Na Evolife, somos os únicos que entregam unidades do Minha Casa, Minha Vida já mobiliadas. Essas pessoas não teriam como pagar parcelas e ainda comprar móveis. A gente aceita até carro ou moto para facilitar o acesso ao sonho da casa própria”, conta.
Com mais de 1.100 apartamentos vendidos e 210 funcionários diretos, o grupo empresarial faturou no ano passado R$ 98 milhões. Só a Yonder Incorporadora lançou no ano passado R$ 325 milhões de VGV. Nesse ano, a previsão é que chegue a R$ 600 milhões de VGV, e até 2027 a expectativa é de alcançar R$ 2 bilhões em lançamentos.
“A meta surgiu da nossa necessidade de crescimento. Planejamos tudo com as equipes de projeto, marketing e construção. É totalmente alcançável”, afirma Vasconcellos.
O grupo também diversificou o portfólio com a Yonder Metal, metalúrgica criada após um fornecedor quebrar.
“Sou engenheiro industrial, fiquei 20 anos na indústria. Quando o fornecedor faliu, compramos os maquinários e decidimos produzir com qualidade e padronização. Em 2026, a Yonder Metal deve começar a faturar”, afirma.
Hoje, Vasconcellos diz transmitir a cultura empreendedora a todo o time. “Todos sabem que chego primeiro e saio por último. Sexta-feira, 19h36, o pessoal de vendas estava na ativa. A cultura da empresa é essa: trabalho e realização de sonhos.”
Em 2026, ele prevê um cenário promissor, principalmente por causa das eleições.
“Vai ser o melhor ano para o mercado imobiliário. Ano de eleição, esperamos Selic em queda e apetite de crescimento. Estamos nos preparando para lançar novos produtos e subir mais alguns degraus.”
Para o empresário, o segredo da liderança é simples: “Um bom líder, seja ele empresário ou não, precisa ter foco, visão e estratégia — e, acima de tudo, terminar tudo que começa”, afirma. “A vida me tirou o chão, mas eu decidi construir um novo — de alicerce em alicerce.”