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De faxineira a empresária milionária: a trajetória de uma imigrante brasileira nos EUA

Nascida no interior de Minas Gerais, Débora Silva chegou aos EUA como muitos imigrantes: sem inglês e sem visto. Hoje, tem negócios milionários, ajuda outras mulheres com mentoria e contrata estrangeiros mesmo em um cenário desafiador

Débora Silva, empresária nos EUA: “Quando o imigrante chega aqui ele precisa optar entre se entregar ou se levantar” (Débora Silva/Divulgação)

Débora Silva, empresária nos EUA: “Quando o imigrante chega aqui ele precisa optar entre se entregar ou se levantar” (Débora Silva/Divulgação)

Publicado em 20 de junho de 2025 às 08h04.

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A história de Débora Silva poderia ser o enredo de um filme: aos 13 anos, em 2000, deixou Carmo do Paranaíba (MG) rumo a Nova York, sem falar inglês e sem documentos. Os pais, que haviam perdido uma franquia da Antártica no Brasil, buscaram uma nova chance nos Estados Unidos e começaram do zero lavando pratos e limpando casas.

“Moramos em um apartamento de um quarto com mais seis pessoas da família. Foi esmagador para quem vinha de uma vida confortável no Brasil”, diz Silva. “Lembro da gente tendo que levar roupa para lavar no meio da neve, empurrando carrinho no frio, com a mão congelando. Não tínhamos máquina em casa e era longe. A sensação era de sobrevivência, não de recomeço”, conta.

Essa rotina dura, entre faxinas, escola e neve até os joelhos, moldou a resiliência que ela carregaria por toda a vida. “Foi nesse período que eu entendi que ou a gente se entrega ou a gente se levanta”, diz. “Optamos por se levantar, várias vezes”, diz a brasileira que aprendeu o inglês em escola pública americana.

Apesar das dificuldades, Silva decidiu não apenas sobreviver, mas prosperar. Começou a trabalhar com a mãe logo após a escola, fazendo faxinas e cuidando de crianças. Aos 17 anos, já estudava cosmetologia e estética avançada - uma escolha estratégica, já que não podia frequentar a universidade por estar em situação irregular.

Determinada, ela bateu à porta dos melhores salões, mesmo sem documentos. “Fui ousada na fé. Entreguei meu currículo e pedi uma chance em uma entrevista. Lembro que o recrutador disse que o meu documento não constava no sistema americano, mesmo assim pedi a ele uma oportunidade e me deram uma chance”, diz a brasileira.

Assim começou sua ascensão no setor de beleza, sendo treinada por especialistas da L'Oréal e Wella e, mais tarde, abrindo seu próprio salão em New Jersey, Estados Unidos.

A virada empreendedora

Com espírito visionário, ao lado do marido, Silva conquistou a cidadania americana e expandiu sua atuação para o mercado imobiliário e foi assim que começou a reformar casas — o modelo conhecido como flipping house.

“Compramos, reformamos e revendemos imóveis”, afirma Silva que logo depois se mudou para a Flórida para abrir uma loja de materiais de construção. “Os nossos negócios hoje faturam mais de US$ 1 milhão ao ano. Em 2025, a meta é triplicar o faturamento”, afirma.

O impacto da imigração ilegal na construção civil

Silva lida hoje, aos 38 anos, com os efeitos práticos das políticas de imigração nas operações da sua empresa de construção civil na Flórida. Com um setor historicamente dependente da mão de obra imigrante, ela observa de perto as consequências do endurecimento das regras nos Estados Unidos.

“Ontem mesmo, um dos nossos funcionários recebeu uma carta de deportação”, conta. Segundo ela, o trabalhador entrou no país com visto de estudante e, ao não conseguir renová-lo, foi notificado pelas autoridades. “Ele mesmo decidiu ir embora antes do processo ser concluído.”

A empresária explica que legalizar funcionários é um processo complexo, especialmente para quem já vive há muitos anos nos EUA em situação irregular. “Só conseguimos entrar com um processo de legalização para quem chega com visto válido. A maioria dos trabalhadores da construção já está aqui há muito tempo, e as brechas legais são mínimas”, afirma. O cenário, segundo ela, é preocupante.

“Vai faltar mão de obra. O salário vai subir, e não vai ter gente suficiente para os projetos", diz a empresária que disse que já precisou recusar contratos em outros estados, como Virgínia e Geórgia, onde a exigência por trabalhadores legalizados é mais rigorosa.

Mesmo com as dificuldades, Silva afirma que busca apoiar quem pode ser contratado legalmente, como haitianos com permissão temporária de trabalho via asilo. Ainda assim, ela teme que esses trabalhadores também percam seus direitos. “A gente ora para que Deus faça um milagre. São pessoas dedicadas e que precisam muito desse emprego”, afirma.

Lapidando vidas

Apesar dos avanços na área financeira na construção civil, Silva encontrou um novo sentido profissional: ajudar outras mulheres. Nasceu assim o projeto Mulheres Lapidadas, que une espiritualidade, mentoria e desenvolvimento pessoal.

“Lembro que as mulheres não vinham só para cortar cabelo no salão. Queriam conselhos, cura emocional, reconstrução”, diz a empresária que vendeu o salão em New York, deixou o marido liderar os negócios do setor da construção e apostou na área de mentoria profissional.

Hoje, Débora realiza palestras e já se apresentou em países como Portugal, França e Emirados Árabes, atendendo grupos e ajudando mulheres a lançarem seus próprios negócios. Seu primeiro livro, Mulheres Lapidadas, foi lançado em maio e compartilha os aprendizados que teve ao longo da própria jornada - como equilibrar trabalho, fé, relacionamento e maternidade.

Apesar do sucesso empresarial, Débora afirma que sua missão vai além do faturamento. “Meu chamado é destravar talentos e reposicionar mulheres para viverem com autenticidade”, diz Silva que hoje espera o segundo filho. “Hoje, quando olho para trás, vejo que cada faxina, cada ‘não’, cada lágrima tinha um propósito. Agora, meu papel é ajudar outras mulheres a enxergarem o diamante que existe dentro delas”.

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