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Opinião: ter longevidade pode virar sua carreira do avesso (para melhor)

Esqueça a aposentadoria aos 60; em breve, a vida produtiva pode se estender por décadas, transformando radicalmente o que significa trabalhar e conviver

É hora de abrir a mente, abraçar a mudança e se preparar para uma jornada profissional (Xavier Lorenzo/Getty Images)

É hora de abrir a mente, abraçar a mudança e se preparar para uma jornada profissional (Xavier Lorenzo/Getty Images)

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Publicado em 16 de setembro de 2025 às 15h00.

Por Claudia Elisa*

Sabe aquela ideia de “viver para sempre” que víamos em livros e filmes de ficção científica? Pois é, o que antes era um assunto que parecia pertencer a um futuro muito distante (e que talvez jamais chegaria), hoje está no radar de mentes e empresas que estão moldando o nosso futuro. 

Recentemente, vi a apresentação que Peter Diamandis fez no Rio Innovation Week, chamada “O mundo exponencial adiante: convergência de metatendências, transformando todas as indústrias e a nossa longevidade.

Diamandis, autor de best-sellers como “Abundância: o futuro é melhor do que você imagina”, “O Guia da Longevidade” e “O futuro é mais rápido do que você pensa” e fundador da Singularity University, falou não apenas de adicionar anos à vida, mas de adicionar vida a esses anos. 

A ciência e a tecnologia, em especial a inteligência artificial, estão nos dando ferramentas para desvendar os mistérios do nosso corpo, reprogramar a nossa biologia e até “reverter” o relógio biológico. 

É como se a própria morte, ou pelo menos a velhice debilitante, estivesse sendo hackeada.

A nova fronteira da saúde: viver mais, viver melhor

Pense na IA como o maestro de uma orquestra gigantesca, onde cada instrumento é uma tecnologia de ponta: desde sensores minúsculos que monitoram nossa saúde 24 horas por dia até algoritmos poderosos que analisam nossos dados genéticos e nos dão insights personalizados. A promessa é clara: a capacidade de identificar doenças em estágios tão iniciais que a cura se torna não apenas possível, mas provável.

O conceito de “healthspan”, que Peter Diamandis tanto enfatiza, é a grande estrela dessa revolução. Não queremos apenas prolongar a existência; queremos prolongar o período em que estamos cheios de energia, vitalidade e capazes de desfrutar cada momento. 

Empresas como a Fountain Life, que utilizam diagnósticos multimodais (imagem, genômica, biomarcadores sanguíneos e IA), já estão descobrindo doenças em pessoas que se sentiam perfeitamente bem. Isso significa que, em vez de reagirmos às doenças, passaremos a preveni-las com uma eficácia nunca antes vista. É como ter um mapa do tesouro que, em vez de ouro, te mostra o caminho para uma vida longa e saudável.

Essa corrida pela longevidade, impulsionada por investimentos bilionários e uma pesquisa incansável, não é mais um sonho. É uma realidade em construção, e ela tem implicações profundas em cada faceta da nossa existência, especialmente no mundo do trabalho.

O efeito dominó no mercado de trabalho

Se as pessoas viverão mais e com qualidade de vida estendida, o que acontece com a linha de chegada da carreira? A aposentadoria, como a conhecemos hoje, uma fronteira rígida demarcada por números e idades, pode se tornar uma mera nota de rodapé na história. Veremos uma redefinição radical da vida produtiva, com carreiras que se estendem por 50, 60, ou até 70 anos.

Isso não é apenas um ajuste; é um terremoto nos alicerces das nossas empresas e organizações. Imagine um ambiente de trabalho onde convivem e colaboram, lado a lado, não apenas três ou quatro gerações, mas talvez seis ou sete! 

Esse cenário, à primeira vista, pode soar como uma confusão monumental. Uma verdadeira Torre de Babel geracional, onde cada um fala uma língua diferente e tem expectativas distintas sobre o trabalho. 

Mas, se olharmos mais de perto, essa miscelânea de idades e experiências pode ser a maior vantagem competitiva que uma equipe poderia desejar. Pense nisso como um grande caldeirão de talentos, onde a alquimia acontece quando se misturam os ingredientes certos.

Construindo pontes entre mundos diferentes

Para que esse futuro do trabalho seja um banquete de inovação e não um campo de batalha, algumas mudanças culturais e práticas serão não apenas desejáveis, mas essenciais:

A dança da sabedoria e da agilidade: Os profissionais com mais tempo de casa trazem uma bússola inestimável. Por outro lado, os mais jovens são o vento fresco que impulsiona a inovação. O segredo será criar espaços para que a sabedoria amadurecida do veterano se encontre com a efervescência inovadora do novato. A mentoria reversa, por exemplo, onde o jovem ensina sobre redes sociais ou inteligência artificial e o mais experiente compartilha lições de liderança ou negociação, não será mais uma novidade, mas uma prática rotineira e valorizada.

O fluxo contínuo do conhecimento: Com décadas a mais de vida produtiva, a requalificação e a atualização constante de habilidades se tornam o pão diário de todo profissional. As empresas que investirem pesadamente em plataformas de educação contínua, em programas de upskilling (aprimoramento de habilidades existentes) e reskilling (aprendizado de novas habilidades), serão as que conseguirão navegar com sucesso nas águas turbulentas da mudança. 

Flexibilidade é o novo ouro: A linearidade da carreira – estudar, trabalhar, aposentar – dará lugar a caminhos mais sinuosos e adaptáveis. Veremos a ascensão de modelos dtr ggq e trabalho flexíveis, aposentadorias faseadas (onde profissionais reduzem o ritmo gradualmente), e o surgimento de papéis de consultoria e mentoria para aqueles que desejam continuar contribuindo sem a carga total de um emprego em tempo integral. 

Derrubando o muro do idadismo: O preconceito de idade, ou "ageismo", será um inimigo a ser combatido sem tréguas. Em um mundo onde a experiência se estende por mais tempo e a inovação surge em todas as idades, valorizar apenas o "novo" ou o "jovem" será um atestado de miopia. As organizações precisarão cultivar vc e uma cultura de inclusão genuína, onde cada voz, independente da idade, seja ouvida e valorizada. 

Um futuro de possibilidades infinitas

É claro que essa transição trará seus próprios desafios. Sistemas previdenciários precisarão ser reinventados, e as empresas terão que se adaptar a novas estruturas de compensação e desenvolvimento. 

Mas as oportunidades são simplesmente monumentais. Podemos esperar mais produtividade, maior inovação, uma transferência de conhecimento mais rica e uma força de trabalho mais engajada e feliz.

A longevidade, impulsionada pela visão de mentes como Peter Diamandis e pelo poder transformador da IA, não é apenas uma questão de saúde; é uma revolução cultural e econômica que está reescrevendo as regras do jogo. 

É hora de abrir a mente, abraçar a mudança e se preparar para uma jornada profissional que promete ser muito mais longa, rica e interessante do que jamais imaginamos.

*Claudia Elisa Soares é especialista em ESG e transformação de negócios e líderes e conselheira em companhias abertas e familiares.

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