Pix: sistema de pagamento instantâneo do Brasil é referência dentro e fora do país (Reprodução)
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Publicado em 14 de outubro de 2025 às 10h00.
Por Leonardo Baptista*
Por muito tempo, a América Latina foi colocada à margem do debate sobre inovação financeira. O Vale do Silício, Londres e, mais recentemente, os hubs asiáticos dominaram a narrativa sobre o futuro dos pagamentos digitais.
Mas o Brasil virou o jogo. Em menos de quatro anos, o Pix não apenas se consolidou como a principal forma de pagamento no país, superando cartões de crédito e débito, como também se tornou um estudo de caso global, reposicionando o país como protagonista de um sistema financeiro em transformação.
Com apenas cinco grandes bancos dominando, dois públicos e três privados, o país conseguiu criar um ambiente propício para implementar o Pix e, sobretudo, garantir sua adoção massiva.
Nos EUA, por exemplo, a pulverização de milhares de instituições financeiras e a forte influência do setor privado, especialmente das empresas de cartões de crédito, dificultam a criação de um sistema público robusto. Soma-se a isso a visão econômica que restringe o papel do Estado.
Lançado em 2020 pelo Banco Central, o Pix nasceu com uma ambição que hoje soa visionária: reduzir a fricção das transações, ampliar a inclusão bancária e diminuir custos de intermediação.
O que poderia ter sido apenas mais um experimento de pagamentos instantâneos rapidamente se transformou em uma tendência.
O Brasil é o segundo maior do mundo em pagamentos instantâneos, levando em conta o número de transações, atrás apenas da Índia, segundo pesquisa da Prime Time for Real-Time Report.
Diferentemente de soluções privadas como Venmo ou Cash App, ou mesmo de sistemas públicos como o UPI indiano, que opera sob governança regulatória própria, o Pix é um projeto de Estado totalmente regulado e operado pelo Banco Central.
Trata-se de infraestrutura pública, não de uma empresa ou aplicativo e, justamente por isso, o impacto é profundo, criando um ambiente de confiança e interoperabilidade que derruba barreiras tradicionais.
A pergunta que deveria ecoar em Nova York, Londres e Cingapura é direta:
O Pix sugere um futuro de pagamentos sem atrito, em que a transferência de valor ocorre de forma quase invisível, tão simples quanto o envio de uma mensagem.
Num mundo em que ainda se paga taxa para movimentar dinheiro entre contas, ou em que compensações internacionais exigem dias, o Brasil mostra que já vive em outra era.
A expansão internacional do Pix ainda é incipiente. Cada país possui regras próprias, estruturas financeiras distintas e políticas regulatórias complexas.
Harmonizar legislações e integrar sistemas exigirá negociações multilaterais, ajustes tecnológicos e paciência política.
Setores como o varejo internacional, iGaming e turismo, já identificam no Pix uma alternativa eficiente e rastreável, capaz de substituir métodos de pagamento tradicionais e oferecer vantagem competitiva para operadores comprometidos com compliance.
Essa movimentação não passou despercebida. Países do BRICS estudam replicar o modelo, Portugal já investe em sua adoção no setor hoteleiro e, nos Estados Unidos, a plataforma começa a ser usada no varejo voltado à brasileiros.
O que nasceu como uma necessidade doméstica está, pouco a pouco, se transformando em tendência internacional, mas sua consolidação global dependerá de fatores políticos, regulatórios e de governança que vão além da tecnologia.
O Pix mostra que é possível conciliar inovação tecnológica com regulação estatal, inclusão financeira e redução de custos.
Ao fazê-lo, o Brasil envia ao mundo uma mensagem clara: abriu caminho para pagamentos instantâneos eficientes e confiáveis.
Ignorar esse movimento é perder de vista um dos experimentos mais bem-sucedidos de política pública digital da atualidade, mas é preciso reconhecer que a consolidação global ainda é um desafio complexo.
*Leonardo Baptista é CEO e cofundador da Pay4Fun;