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Opinião: gestão patrimonial internacional encontrou um novo epicentro

Uma mudança profunda e silenciosa está redefinido como grandes fortunas globais lidam com segurança, liberdade e planejamento de futuro

Muitos buscam em Dubai não apenas eficiência fiscal, mas também estabilidade política, privacidade e acesso a um ecossistema financeiro internacionalmente reconhecido. (FADEL SENNA/Getty Images)

Muitos buscam em Dubai não apenas eficiência fiscal, mas também estabilidade política, privacidade e acesso a um ecossistema financeiro internacionalmente reconhecido. (FADEL SENNA/Getty Images)

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Publicado em 21 de agosto de 2025 às 10h00.

Por Kath Zagatti*

Os anúncios de que Dubai deve receber cerca de 9.800 milionários em 2025 pode soar como um dado corriqueiro no noticiário, em um mundo cada vez mais obcecado por cifras bilionárias.

No entanto, atuando como advogada na área de estruturação patrimonial de famílias e indivíduos de alta renda em Dubai há 13 anos, percebo que essa estatística revela algo muito maior: uma mudança profunda e silenciosa na forma como os detentores de grandes fortunas no mundo lidam com fatores cruciais como segurança, liberdade e futuro.

Quando comecei minha trajetória em Dubai, os Emirados Árabes Unidos eram vistos, por muitos, como uma escala exótica no Oriente Médio — luxuosa, porém temporária. Hoje, essa percepção mudou radicalmente.
Dubai deixou de ser apenas uma parada estratégica e se transformou em um destino popular para quem busca não só qualidade de vida, mas proteção patrimonial, segurança jurídica e planejamento sucessório eficiente.

Pesquisas confirmam a tendência

Segundo projeções das edições de 2024 e 2025 do Henley Private Wealth Migration Report, somente em 2025, U$ 63 bilhões devem ser aportados por esses novos residentes milionários nos Emirados Árabes.

E isso não ocorre por mero acaso. O mundo está mais instável. Tensões geopolíticas, guerras, inflação persistente, regimes fiscais cada vez mais agressivos e insegurança jurídica alimentam o desejo de proteger ativos longe de incertezas. Nesse contexto, Dubai surge como um verdadeiro porto seguro.

E, ao longo desses anos, tenho testemunhado o crescimento desse movimento. O que antes era um fluxo tímido de clientes, hoje é uma demanda robusta e crescente. Só em 2024, nosso escritório recebeu cerca de 1.200 consultas de famílias e indivíduos interessados em estruturas patrimoniais nos Emirados Árabes. Em 2025, apenas no primeiro semestre, já ultrapassamos 850 consultas — e tudo indica que o segundo semestre será ainda mais intenso.

Diferenciais

Dubai oferece algo que poucos lugares no mundo conseguem combinar — um ambiente fiscal vantajoso, com isenção total de imposto sobre a renda ou herança, aliado a estruturas jurídicas sofisticadas que asseguram governança familiar e proteção de ativos.

Estruturas como Fundações no Dubai International Financial Centre (DIFC) e Abu Dhabi Global Market (ADGM) permitem não apenas a segregação de ativos estratégicos e blindagem contra credores e litígios, mas também viabilizam a sucessão patrimonial de acordo com a vontade do fundador, independentemente da jurisdição onde os ativos estejam localizados.

Esse diferencial atrai não apenas famílias do Oriente Médio, Europa e Ásia, mas, cada vez mais, latino-americanos, especialmente brasileiros. A América Latina vive um cenário desafiador, com alta carga tributária, discussões cada vez mais intensas sobre tributação de grandes fortunas e heranças, além de insegurança jurídica que mina a tranquilidade dos detentores de patrimônio significativo.

Muitos buscam em Dubai não apenas eficiência fiscal, mas também estabilidade política, privacidade e acesso a um ecossistema financeiro internacionalmente reconhecido.

Golden Visa

Para o investidor latino-americano, a possibilidade de obter residência por meio de investimentos, como o Golden Visa, somada à facilidade de repatriação de lucros e à privacidade assegurada pelas leis locais, cria um ambiente altamente favorável. Trata-se de proteção do legado familiar, algo que, para muitas famílias, transcende a lógica puramente financeira.

Mas é importante ressaltar que não se trata de um milagre fiscal, já que cada caso é único e requer análise minuciosa. O contexto regulatório internacional exige planejamento técnico, responsável e transparente.

Diante disso, a atuação de um assessor jurídico especializado é indispensável: entender a complexidade do patrimônio, a estrutura familiar, as regras fiscais de cada país envolvido e o objetivo de longo prazo do cliente.

Vejo cada vez mais famílias latino-americanas compreenderem que não basta proteger o seu patrimônio, mas garantir que ele permaneça íntegro e acessível às futuras gerações. Dubai tornou-se a plataforma perfeita para viabilizar essa visão.

Nesse cenário, os Emirados Árabes se consolidaram como um importante polo global para grandes fortunas, um destino estratégico para quem deseja proteger o presente e garantir o futuro, onde tradição e inovação coexistem para criar soluções patrimoniais alinhadas com as novas exigências do mundo globalizado. E como profissional dedicada ao Private Wealth, tenho orgulho de fazer parte desse movimento transformador.

*Kath Zagatti é advogada, sócia e Head da área de Private Wealth da M/HQ, plataforma de gestão patrimonial e planejamento sucessório nos Emirados Árabes Unidos

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