O marketing de influência está inaugurando uma nova era (Natalia Beauty/Divulgação)
Colunista Bússola
Publicado em 22 de outubro de 2025 às 10h00.
O MIPCOM 2025, em Cannes, marcou um ponto de virada na comunicação global. Pela primeira vez, o evento mais tradicional do mercado audiovisual colocou os criadores digitais no centro da conversa, reconhecendo que a influência cultural migrou das telas da televisão para os ecossistemas das pessoas.
O tom geral dos debates refletia um consenso evidente: a era dos formatos prontos acabou. O público quer emoção, não performance, quer presença, não publicidade.
Em uma indústria que sempre viveu de roteiros, o que se viu foram discussões sobre autenticidade, pertencimento e a necessidade de construir histórias com alma, o tipo de conteúdo que as pessoas não apenas consomem, mas sentem fazer parte.
Durante os quatro dias de evento, a pauta se ampliou muito além das negociações entre canais e plataformas.
Criadores, marcas e produtores falaram sobre o novo papel das comunidades na construção de relevância e sobre como o entretenimento, o marketing e o comportamento estão se entrelaçando de forma irreversível.
O conceito de brand entertainment apareceu em diversos painéis, não mais como uma tendência, mas como uma estratégia madura. A publicidade deu lugar à narrativa.
Marcas que antes se viam apenas como anunciantes agora se comportam como produtoras de conteúdo e, em muitos casos, como contadoras de histórias que emocionam, inspiram e geram identificação.
O que ficou evidente é que o público não se conecta com marcas que tentam se disfarçar de pessoas, mas com pessoas que expressam verdades por meio de marcas.
O novo valor da influência está na empatia e é por isso que as relações entre marcas e criadores estão se transformando em algo mais orgânico, menos transacional.
Os debates também mostraram que o papel da inteligência artificial será inevitável, mas precisa ser dosado com sensibilidade.
A tecnologia já permeia todas as etapas da criação, desde o roteiro até a análise de dados, mas o evento deixou claro que ela só faz sentido quando potencializa a criatividade humana. A emoção continua sendo o dado mais poderoso.
Outro ponto forte da edição foi a percepção de que o entretenimento voltou a ser um espaço de pertencimento. Plataformas, produtores e marcas buscaram formas de criar experiências que atravessam o digital e o físico, o individual e o coletivo.
A tendência agora é construir universos onde o público não apenas assiste, mas participa.
Essa nova lógica reforça algo que vai muito além do marketing: a influência verdadeira nasce da escuta. E escutar é compreender o que as pessoas desejam sentir. Quando o conteúdo desperta identificação, ele deixa de ser estratégia e se torna vínculo.
A influência do futuro, e essa foi uma das ideias mais presentes no MIPCOM deste ano, não se mede em alcance, mas em significado.
O desafio das marcas não é mais competir por atenção, mas por relevância emocional. Em meio à saturação de mensagens e estímulos, o que se destaca é o que toca.
Os criadores que conseguem equilibrar autenticidade e propósito se tornam narradores de uma nova era, na qual as marcas precisam ser mais humanas e as histórias mais verdadeiras.
É uma inversão de papéis: as pessoas não se moldam mais às campanhas, as campanhas é que se moldam às pessoas.
O MIPCOM 2025 mostrou que o futuro da influência não está em algoritmos, mas em afinidades. As plataformas vão mudar, os formatos vão se reinventar, mas a conexão humana continuará sendo o motor da comunicação.
Influenciar, daqui para frente, é sobre emocionar. É sobre entender que por trás de cada clique existe alguém em busca de sentido, e isso, em um mundo movido por dados, é o que faz da emoção o novo ativo mais valioso das marcas.