A próxima vez que você estiver prestes a abandonar algo importante porque surgiu uma nova oportunidade, faça uma pausa (LaylaBird/Getty Images)
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Publicado em 10 de setembro de 2025 às 15h00.
Por Cecilia Ivanisk, fundadora da Learn to Fly.
A diferença pode estar na "síndrome do objeto brilhante", uma tendência quase irresistível de abandonar projetos sempre que surge algo novo e aparentemente mais promissor.
As redes sociais pioram tudo. Nos bombardeiam com sucessos meteóricos, jovens milionários e startups que "explodem" da noite para o dia. Todo mundo quer o atalho, a fórmula mágica. Mas será que é isso mesmo que determina quem constrói projetos, relações e carreira sólidos?
A psicóloga Angela Duckworth descobriu que não. Seus estudos na Academia Militar de West Point revelaram algo surpreendente: os cadetes que permaneciam no programa não eram os mais inteligentes ou fisicamente preparados, mas aqueles que possuíam uma capacidade específica que ela chamou de "garra".
Na verdade, é a nossa capacidade de manter dedicação por longo tempo, mesmo quando a empolgação inicial passa e surgem obstáculos. Ela se torna ainda mais valiosa no contexto atual em que vivemos bombardeados por distrações e buscando atalhos, como os que a inteligência artificial tem nos proporcionado (e não é que sejam ruins).
Porém, mesmo com a IA resolvendo problemas complexos em poucos segundos, as conquistas que realmente transformam carreiras como expertise profunda, relacionamentos sólidos ou inovações significativas ainda exigem o que sempre exigiram: paixão e persistência. Algo profundamente humano que nenhum algoritmo consegue acelerar.
Quando Angela Duckworth começou a estudar pessoas que alcançavam resultados excepcionais em diferentes áreas, ela percebeu um padrão interessante. A garra não era uma habilidade única, mas sim a soma de duas partes que funcionavam juntas: paixão e persistência.
É quando encontramos algo que realmente faz sentido e desperta interesse mesmo quando a novidade passa. Não é aquela empolgação de início de projeto, mas uma convicção mais profunda que nos faz continuar investindo tempo e energia numa direção específica, mesmo nos dias em que o trabalho está chato, repetitivo ou quando outras oportunidades aparentemente mais atrativas surgem no caminho.
É nossa relação com o desconforto e a frustração quando os resultados não aparecem, quando fracassamos, quando todo mundo diz que não vai dar certo. É essa habilidade de processar momentos difíceis e, mesmo assim, continuar tentando e se ajustando ao invés de simplesmente desistir e procurar algo mais fácil.
O segredo está no equilíbrio das duas. Só paixão sem persistência vira desistência nos primeiros obstáculos. Só persistência sem paixão vira esforço desperdiçado em direções que não fazem sentido.
Que garra não é algo com o qual nascemos ou não, mas algo que pode ser desenvolvido com o tempo. Basta observar pessoas que conseguem manter foco em objetivos de longo prazo e você vai notar padrões interessantes.
Quem desenvolveu paixão geralmente passou por um processo de exploração de si. Elas prestaram atenção nos momentos em que perdiam a noção do tempo e entravam em flow fazendo alguma atividade, identificaram questões ou desafios que despertavam seu interesse em resolver, e deram tempo para que interesses iniciais se aprofundassem.
Quem fortaleceu a persistência aprendeu a mudar sua relação com dificuldades. Ao invés de interpretar cada obstáculo como sinal de que deveriam desistir, passaram a ver desafios como informações sobre o que precisa ser ajustado. Desenvolveram tolerância ao desconforto mesmo quando não estavam motivadas, terminando projetos sem aquele entusiasmo inicial, ou continuando a aprender habilidades complexas mesmo quando o progresso parecia lento.
É escolher aprofundamento ao invés de dispersão, é apostar na construção ao invés de buscar apenas resultados rápidos.
A próxima vez que você estiver prestes a abandonar algo importante porque surgiu uma nova oportunidade, faça uma pausa. Pergunte-se: estou desistindo porque realmente não vale mais a pena ou porque estou fugindo do desconforto de continuar quando as coisas ficaram difíceis? Porque no final, talvez a pergunta mais importante não seja se você tem talento suficiente para algo, mas sim se você consegue ficar tempo suficiente para descobrir.