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Publicado em 30 de junho de 2025 às 07h00.
A cena é familiar para muitos brasileiros: um programa de auditório com quadros inusitados, discussões acaloradas e uma apresentadora carismática. Mas, e se eu disser que essa apresentadora não existe no mundo físico, sendo uma criação 100% gerada por inteligência artificial? Essa é a realidade de Marisa Maiô, um fenômeno que tem se destacado nas redes sociais e, principalmente, chacoalhado o mercado de Marketing e Publicidade.
Idealizada pelo artista independente Raony Phillips e desenvolvida com modelos de IA do Google, Marisa Maiô transcendeu a barreira do humor para se tornar um case de marketing. Com milhões de visualizações, o “Programa Marisa Maiô" rapidamente chamou a atenção de grandes marcas. Parcerias com Magazine Luiza, Mercado Pago, OLX, inDrive Brasil, além de aparições em programas de TV de alcance nacional como o Fantástico, são a prova de que o público e o mercado estão prestando atenção.
Este sucesso estrondoso nos força a questionar: o que Marisa Maiô representa para o futuro do Marketing de Influência? Estamos testemunhando o alvorecer de uma era onde a autenticidade humana dos influenciadores reais será desafiada por algoritmos e pixels?
A Inteligência Artificial já é uma ferramenta poderosa no arsenal dos profissionais de Marketing. Pesquisas indicam que 63% dos influenciadores já utilizam IA em suas produções de conteúdo, otimizando tarefas e personalizando mensagens. Para as marcas, a atração por influenciadores de IA é clara: custos de manutenção significativamente menores, disponibilidade 24/7, e a capacidade de adaptar e personalizar mensagens com precisão.
Além disso, um estudo da Sprout Social revelou que 37% dos consumidores se interessariam mais por uma marca que utilizasse influenciadores de IA, um número que salta para 46% entre a Geração Z. Isso sugere uma abertura crescente do público mais jovem a essas novas formas de interação.
No entanto, a questão da autenticidade permanece central. O consumidor brasileiro, por exemplo, confia mais em micro e médios influenciadores, que transmitem proximidade e experiências reais, do que em grandes celebridades. A IA pode replicar a aparência e a voz, mas a capacidade de gerar empatia, conexão genuína e a vivência pessoal ainda são atributos predominantemente humanos.
A resposta, como quase tudo em marketing, é complexa e multifacetada. O sucesso de Marisa Maiô e de outros influenciadores virtuais demonstra que há uma parcela do público disposta a engajar e até mesmo a comprar produtos recomendados por essas figuras não-humanas. A novidade, a curiosidade e a qualidade da produção de conteúdo são fatores que impulsionam esse engajamento inicial.
Contudo, a confiança, que é a base de qualquer relação de consumo, é construída sobre pilares que a IA ainda não domina completamente. A credibilidade e a percepção de conhecimento, que são cruciais para a decisão de compra, são mais facilmente atribuídas a figuras que demonstram experiência e sensibilidade humanas.
Diante dos fatos atuais, o cenário mais provável não é de substituição, mas de coexistência e colaboração. Influenciadores de IA podem ser excelentes para campanhas de grande escala, para testar mensagens e para alcançar públicos específicos com alta personalização. Eles oferecem controle e eficiência que os influenciadores humanos, com suas complexidades e agendas, não conseguem igualar.
Por outro lado, a capacidade de um influenciador humano de construir uma comunidade leal, baseada em autenticidade, vulnerabilidade e experiências compartilhadas, continua sendo um diferencial inestimável. O Marketing de Influência, em sua essência, é sobre relações humanas, mesmo que mediadas pela tecnologia.
As marcas que souberem equilibrar o poder da IA para otimização e alcance com a insubstituível conexão humana dos influenciadores reais estarão à frente. Marisa Maiô é um marco, um lembrete de que a inovação é constante. Mas a essência do Marketing, que é conectar pessoas a produtos e serviços de forma significativa, ainda reside na capacidade de tocar corações e mentes, seja por um humano ou por um avatar que nos faça sentir como se fosse real.
*Kelly Pinheiro é jornalista e especialista em marketing e posicionamento de marcas. Fundadora e CEO da Mclair Comunicação.
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