A IA está deixando de ser uma inovação distante para virar um ingrediente essencial da competitividade no food service (Yuichiro Chino/Getty Images)
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Publicado em 20 de junho de 2025 às 15h00.
Por Fernando Blower*
A inteligência artificial (IA) já é uma realidade no setor de alimentação fora do lar. O que antes parecia distante agora está presente nos bastidores e nas decisões estratégicas de restaurantes, redes, bares e franquias. A última edição da NRA Show, maior feira mundial do setor, deixou claro: a IA está transformando profundamente a forma como os negócios operam, se comunicam e entregam valor aos seus clientes.
Seja por meio de algoritmos que otimizam pedidos e estoques, chatbots que automatizam o atendimento ou sistemas que personalizam a experiência de consumo, a IA tem assumido um papel estratégico no food service. A tecnologia atua como aliada na busca por eficiência, personalização e hospitalidade.
Uma das frentes mais evidentes da IA no setor é a otimização dos processos internos. Softwares de previsão de demanda permitem ajustar compras e produção, reduzindo desperdícios e melhorando a rentabilidade. Em cozinhas industriais, a IA ajuda a alocar melhor as equipes, organizar o fluxo de preparo e aumentar a produtividade. Em alguns casos, já se observam reduções de até 20% no desperdício de alimentos com o uso dessas tecnologias.
O McDonald's, por exemplo, tem investido em IA para prever padrões de consumo e ajustar automaticamente estoques e preparo de alimentos em tempo real, usando dados capturados nas lojas e via app.
Com a análise de dados de consumo, a IA torna possível oferecer experiências mais personalizadas. Desde sugestões de pratos em totens de autoatendimento até promoções enviadas por canais digitais com base no histórico do cliente, a inteligência artificial aumenta o engajamento e o ticket médio.
Algumas redes de pizzarias, por exemplo, utilizam algoritmos de machine learning para sugerir pedidos com base no histórico individual do cliente e horário de consumo, além de personalizar ofertas em campanhas digitais.
Chatbots inteligentes também ajudam a resolver dúvidas e agilizar pedidos de forma fluida e eficiente, como no caso da Outback, que implementou um assistente virtual via WhatsApp para gerenciar reservas, promoções e cardápio.
A IA não vem para substituir o toque humano e sim para reforçá-lo. Ela libera tempo das equipes, automatizando tarefas operacionais e oferecendo insights valiosos para decisões mais assertivas. Com isso, os profissionais podem se concentrar no que fazem de melhor: oferecer um atendimento acolhedor e uma experiência gastronômica memorável.
No Brasil, o sistema de IA do Grupo Trigo (detentor de marcas como Spoleto e Koni) fornece relatórios em tempo real sobre desempenho de lojas, custos operacionais e preferências dos consumidores, apoiando decisões estratégicas com agilidade.
Embora as oportunidades sejam evidentes, ainda há barreiras a vencer. O custo inicial para adoção de soluções mais robustas, a necessidade de integrar sistemas antigos com novas tecnologias, a falta de conhecimento técnico e as preocupações com segurança da informação estão entre os principais entraves. Além disso, a capacitação das equipes é essencial para o sucesso de qualquer iniciativa baseada em IA.
Ainda não há uma base de dados consolidada sobre o impacto direto da IA no food service, mas os cases de grandes redes e experiências internacionais apontam para ganhos significativos de produtividade e fidelização. A tendência é que soluções mais acessíveis sejam desenvolvidas para pequenas e médias empresas, democratizando o uso da inteligência artificial em todo o setor.
À medida que os custos de adoção caem e as soluções se tornam mais intuitivas, a IA deixa de ser uma inovação distante para virar um ingrediente essencial da competitividade no food service.
*Fernando Blower é diretor-executivo da ANR, instituição que tem por objetivo promover o setor de foodservice e defender e representar os interesses dos associados.
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