Bússola

Um conteúdo Bússola

Gente & Gestão: conquistando felicidade corporativa — um ativo estratégico

Não é falta de competência, é falta de conexão. Investir em felicidade corporativa não é ser complacente — é ser eficiente

 (nd3000/Getty Images)

(nd3000/Getty Images)

Carlos Guilherme Nosé
Carlos Guilherme Nosé

CEO e sócio da FESA Group - Colunista Bússola

Publicado em 30 de outubro de 2025 às 14h00.

Por Carlos Guilherme Nosé, CEO da FESA Group

Nos últimos anos, a palavra felicidade passou a frequentar as salas de reunião com mais naturalidade. Ela deixou de ser apenas uma emoção privada para se tornar tema de negócios e, mais do que isso, uma estratégia de gestão. 

Falar sobre felicidade hoje é falar sobre produtividade, vínculos e sentido. É olhar para a saúde emocional das pessoas com a mesma seriedade com que se analisa o fluxo de caixa.

Essa reflexão não surgiu de repente

Ela vem sendo construída ao longo da minha trajetória como líder e observador do comportamento humano nas organizações. 

Mas ganhou novas camadas recentemente, durante um encontro realizado pela FESA em parceria com o Rituaali SPA, no qual trocamos experiências com especialistas que tratam o bem-estar como fundamento da saúde e da performance. 

Ali, Bruno Romão, especialista em desenvolvimento humano e terapias integrativas, reforçou que cuidar das pessoas não é um aditivo, mas uma condição estrutural para que qualquer projeto — pessoal ou empresarial — se sustente no tempo, integrando corpo, mente e espírito.

Durante esse encontro, lembrei-me de um episódio marcante da minha trajetória

Em 2002, saí de uma entrevista na FESA ainda indeciso sobre aceitar a proposta de trabalho. No elevador, encontrei Alfredo Assumpção, fundador e então presidente da empresa. 

Ao ser apresentado, recebi um abraço apertado de boas-vindas, sem que ele soubesse que eu ainda não havia aceitado. Surpreso, expliquei que ainda estava pensando. Ele sorriu e disse: “Vem para cá, porque aqui você vai ser feliz.”

Aquela frase, aparentemente simples, carregava um propósito profundo. Era o retrato de uma cultura que priorizava felicidade, não apenas desempenho. Ali percebi que felicidade não é um bônus: é o alicerce de uma organização saudável.

Empresas que compreendem isso constroem ambientes nos quais as pessoas podem ser quem são, sem precisar vestir armaduras para sobreviver ao trabalho.

Sustentar uma cultura de felicidade exige uma liderança consciente

É comum discutir como engajar equipes, mas pouco se fala sobre engajar quem lidera. O líder é termômetro: se está exausto, o time absorve; se está inteiro, inspira. 

A felicidade corporativa começa quando o líder abandona a armadura da performance e permite que a vulnerabilidade ocupe espaço. Ambientes que acolhem o erro e valorizam o equilíbrio emocional geram confiança — e resultados.

No painel Felicidade que Transforma, amplamente citado, a psicologia positiva nos oferece um mapa para essa realidade. 

Martin Seligman, pai da psicologia positiva, defende que o bem-estar se apoia em cinco pilares: Emoção Positiva, Engajamento, Relacionamentos Positivos, Propósito e Realização. 

Quando esses elementos estão presentes, a produtividade surge como consequência natural — não como extração de energia.

Essa visão também se reflete no mercado

Ao longo de mais de 25 anos na gestão de talentos e desenvolvimento de lideranças, ouvi inúmeros relatos de profissionais que deixaram cargos e salários altos por falta de sentido. 

Não se trata de desistir do trabalho, mas de não desistir de si. Muitos recusam oportunidades em setores que não conversam com seus valores. Esse movimento, antes visto como idealismo, hoje representa maturidade.

Empresas como a Natura exemplifica essa abordagem há 55 anos. Tatiana Ponce, CMO da marca, compartilhou com os presentes um dos cases mais importante para a companhia, o Bem Estar Bem, que olha para a felicidade dos mais de 14 mil colaboradores da Natura no Brasil. 

Segundo ela, o conceito não é apenas discurso: é prática diária de cuidado integral. Essa perspectiva impactou profundamente minha visão, reforçando que prosperar e cuidar não são caminhos opostos — são o mesmo caminho, consolidando a felicidade corporativa como um ativo estratégico.

Para além do discurso, existem os dados que reforçam uma tendência que precisamos estar atentos. 

No Brasil, cerca de 31% dos profissionais estão em estado de presenteísmo: fisicamente presentes, mas emocionalmente distantes. 

Não é falta de competência, é falta de conexão. Investir em felicidade corporativa não é ser complacente — é ser eficiente. Ambientes saudáveis retêm talentos, reduzem turnover e constroem resultados sustentáveis.

No fim, a verdadeira felicidade que transforma é aquela que dá sentido ao esforço, cria vínculos e humaniza metas. Os números contam uma história, mas são os sorrisos que a tornam inesquecível.

 

 

 

Acompanhe tudo sobre:FelicidadeGestão de pessoas

Mais de Bússola

‘Estamos pavimentando a rodovia deste setor’, diz primeiro civil brasileiro a ir ao espaço

Dá para confiar em quem influencia?

Até onde vai a tendência do pistache no mercado alimentício?

Cimento brasileiro já produz pouco carbono, mas ainda pode melhorar